- Tu tá ficando doido? – Alcançou a arma.

- Como é fodão? Vai matar eles ou não? – Beto pressionou.

- Tu é foda, Beto! – Ele apontou o revólver para a cabeça de Humberto – Se a gente deixar esse filho da puta vivo ele vem atrás da gente – Nesse momento Humberto começou a gemer e a se debater.

- Te aquieta, cadela! – Rômulo ralhou e por incrível que pareça o velho se conteve. – Eu vou matar esses filhos da puta, depois vou soar o alarme daquela casa e quando todo mundo tiver saído eu taco fogo naquilo tudo e depois eu volto pra jogar sal na terra! – Rômulo falava com raiva na voz, o tempo todo olhando para Betão.

- Então vai, vou lá pra fora! – Beto falou já se mexendo, viu que Daniel apesar de ter sido atingido num ponto que não era letal, assim mesmo percebeu que o rapaz não sobreviveria, saiu da cabana com a cabeça doendo, afinal de contas aquela vingança tinha se tornado um circo enorme. Até que ponto a sua vida tinha sido estragada pelas ações de homens como Humberto e Cristóvão, na verdade o cansaço daquela situação era maior que sua raiva.

Encostou-se ao carro e olhou o céu estrelado, como ele queria que aquela fase de sua vida tivesse ficado pra trás, tudo o que ele queria era ter podido estudar, fazer a tal faculdade que Ricardo tanto falou, depois quem sabe abrir uma academia, ser professor de artes marciais, comprar uma casa pra o seu franguinho e fazer amor com ele sempre que quisesse, desejos relativamente simples, numa vida que de simples não tinha nada.

Resolveu voltar lá pra dentro, afinal de contas, ele havia prometido que o acompanharia naquela empreitada, pouco antes de chegar na porta da casa ouviu cinco tiros seguidos. Beto se assustou imediatamente. Entrou de uma vez e viu Rômulo com os olhos vermelhos, ele parecia descontrolado apontou a arma para ele e antes que pudesse fazer qualquer movimento o sexto tiro foi dado em sua direção.

- Desgraça, tá doido? – Ele não percebeu de imediato, mas sangrava.

- Beto... – Rômulo caiu de joelhos no chão, quando Beto deu dois passos sentiu um ardor forte no braço, olhou e viu que o tiro havia pego de raspão. Olhou ao redor e notou que contra todas as expectativas Humberto continuava vivo e respirando, mas cada um de seus membros havia recebido um tiro, braços e pernas, na cabeça de Daniel outro tiro.

Foi então que ele lembrou do primeiro momento após se libertar de Cristóvão, aquela confusão, finalmente havia vencido o monstro que sempre esteve dentro do seu armário, mas mesmo o monstro servia como ponto de referência e aquela indecisão, aquela sentença de liberdade por melhor que fosse era também extremamente confusa. Pegou em seu braço que sangrava, mas ao ver a expressão de Rômulo, reflexo de seu ego esfacelado, tirou a camiseta que vestia e amarrou no local do ferimento. Caminhou até o rapaz que agora estava ajoelhado no chão, chorando copiosamente, e o abraçou de forma fraternal.

- Vai passar – Falou baixinho.

- Que merda – Xingou – Eu não sou normal Beto, eu não sou normal... – Chorou mais e mais, ficaram ali naquela chão sujo por bastante tempo, tentando encontrar uma saída digna para aquela situação agoniante.

- Vamos embora... – Beto chamou.

- A gente tem que desovar esses dois ainda... – Rômulo lembrou.

- Vem, a gente não vai fazer isso hoje não! – Beto corrigiu.

- Tu já se fodeu uma vez por deixar as coisas rolarem, vamos resolver hoje. – Os dois saíram da casa, foram até o carro de Daniel, secaram o tanque e com a gasolina colocaram fogo naquilo tudo. Quando se distanciavam, começaram a ouvir os gritos de Humberto, os dois pararam.

Adestrando Betão - Uma FanFictionWhere stories live. Discover now