Capítulo 10

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Quem não estava gostando nem um pouco daquela noite era Rafael. O rapaz estava visivelmente desequilibrado. As mãos e os olhos vermelhos dele tremiam sem parar. A pele estava mais pálida do que nunca e parecia que ele não tomava sol por anos. Os lábios estavam ressecados e rachados, os dentes amarelados e as unhas escurecidas. Ele não sabia no que estava se transformando, mas também não se importava. Rafael estava sentindo tanto ódio e precisava descontar em alguém. O homem fechou os olhos e tentou visualizar onde Augustus estava.

− Augustus está na universidade – Rafael pensou em voz alta. Ele não tinha certeza de como sabia, simplesmente acreditava que encontraria Augustus lá. Nos seus pensamentos, ele viu o rapaz sentado em um banco sozinho e um pingo de esperança se acendeu dentro dele. Rafael faria uma última tentativa desesperada de conquistar Augustus. O homem pegou um casaco preto de capuz e saiu de casa com pressa, sem nem mesmo se preocupar com sua aparência. Rafael acreditava que as pessoas deveriam valorizar mais o interior e se fosse para Augustus gostar dele, que fosse do jeito que ele era.

Quando Rafael chegou, o casal estava se beijando embaixo de uma árvore. O homem ficou assistindo as cenas como se fosse um filme e sentiu a raiva de Petrus crescer mais ainda dentro de si. Tentou fazer algum barulho para espantar o casal, mas os dois continuaram se beijando. Não bastava vê-los se beijando, Rafael assistiu cada detalhe do que eles fizeram a seguir. Tudo estava escuro e a lua não deu nenhum sinal de vida aquele dia, mas o rapaz estava acostumado a enxergar as coisas no escuro. Naquela noite em especial parecia que as sombras eram suas aliadas e o faziam tão bem quanto a luz. Rafael estava excitado com sua nova habilidade.

− Mate os dois. Olhe para você, ninguém vai te querer. – Vozes na cabeça de Rafael falavam cada vez mais altas e se repetiam em coro. Se naquele momento existia algum anjo sussurrando alguma coisa no ouvido de Rafael, ele não conseguia escutar e mesmo que ouvisse, não daria a mínima atenção. Rafael estava obcecado por Augustus e buscava vingança.

Rafael segurou a lâmina do punhal com força nas mãos e acabou se cortando sem querer, mas a dor o fez se sentir com mais coragem de seguir em frente com seus planos. Preparado para matar os dois garotos, um corvo surpreendeu os três homens. A ave preta voou em direção ao banco em que os rapazes estavam, grasnou para eles e os assustaram. Os dois se levantaram e Augustus teve um péssimo pressentimento. Sua avó sempre o alertou sobre o perigo de se encontrar com corvos pretos, principalmente quando era noite, isto nunca significava um bom sinal.

− Petrus, vamos embora?

− O que houve? Você não está gostando de ficar aqui comigo?

− Estou. Só estou com um pressentimento estranho. Aqui é perigoso, nós podemos ser assaltados.

− Você tem razão. Vamos para minha casa assistir algum filme?

− Sério?

− Sim. Por que?

− Nunca fui à casa de nenhum rapaz antes. E seus pais?

− Eu não moro com meus pais, eu moro sozinho faz uns anos. Um dia te conto minha história completa se você quiser continuar me vendo, é claro.

− É claro que eu vou continuar te vendo. E sim, eu quero te conhecer mais e mais... – Antes que pudesse continuar a frase, uma sombra assustou Augustus e o fez sentir um medo que nunca sentira antes.

− Boa noite, Augustus.

Rafael surgiu de trás de uma árvore vestindo sua roupa preta e não era possível enxergar o seu rosto totalmente, mas Augustus sabia que era ele.

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