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Então você já sabe.

Bom, não acho que saiba — mas supõe. Para acabar com o tormento, eis o diagnóstico completo. Transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada e episódios depressivos.

Episódios. Como se a depressão fosse um seriado de comédia, sempre com uma tirada hilária. Ou uma série de TV cheia de suspense e finais abertos. O único suspense em minha vida é: "será que um dia vou conseguir me livrar dessa merda?", e, pode acreditar, fica bem monótono.

Na sessão seguinte com a Dra. Sarah, conto-lhe a respeito de Castiel e todo o acontecimento que foi o ataque de ansiedade enquanto ela escuta, pensativa. A Dra. Sarah faz tudo pensativamente. Escuta pensativamente, escreve pensativamente com letra redondinha e bonita e até digita no computador pensativamente.

Seu sobrenome é McVeigh, mas a chamamos de Dra. Sarah porque, após refletirem a respeito de nomenclaturas em uma grande reunião, decidiram que os primeiros nomes eram mais intimistas e acessíveis, mas o título de doutor dava ideia de autoridade e segurança, então Dr. Primeiro Nome era a denominação perfeita para a unidade infantil.

(Quando ela falou em "denominação", achei que iam todos ganhar nomes de mentirinha. Sério, fiquei achando isso por uns 10 minutos, até ela explicar.)


A unidade infantil fica dentro de um grande hospital particular chamado Grey Sloan Memorial que faz parte do plano a que meus pais têm direito graças ao trabalho de papai. (A primeira pergunta que fazem quando se chega não é "o que está sentindo?", mas "tem plano de saúde?") Morei aqui por seis semanas, depois de os meus pais chegarem à conclusão de que havia algo de muito errado comigo. O problema é que a depressão não vem com sintomas práticos como pintinhas pelo corpo e febre, portanto não se percebe de primeira. Continua-se dizendo "estou bem" para as outras pessoas, ainda que não esteja. Você pensa que deveria estar bem. Segue repetindo para si mesmo: "por que não estou bem?"

Enfim. Finalmente, acabaram me levando para uma consulta com o clínico geral, e lá me indicaram este lugar. Eu estava péssimo, digamos. Não me recordo muito bem dos primeiros dias, para ser franco. Atualmente, venho duas vezes por semana. Poderia vir mais, se quisesse— não param de me dizer isso. Poderia fazer cupcakes. Porém já os fiz, tipo, umas 15 zilhões de vezes, e é sempre a mesma receita.

Depois de ter acabado de relatar à Dra. Sarah todo o episódio de me-esconder-atrás-da-cortina, ela encara por alguns instantes o questionário que preenchi ao chegar. Todas as perguntas de costume.

Você se sente um fracasso?  Muito.

Já desejou não existir?  Muito.

A médica chama a folha de meus "sintomas". Às vezes penso: será que não devia simplesmente mentir e dizer que está tudo um mar de rosas?, mas o bizarro é que não faço isso. Não consigo com a Dra. Sarah. Estamos juntas nesta luta.

— E como se sente em relação ao que aconteceu? — pergunta ela naquela sua voz gentil e tranquila.

— Me sinto empacado.

As palavras saem antes mesmo de eu pensar nelas. Não sabia que me sentia assim.

— Como?

— Estou doente faz uma eternidade.

— Não é uma eternidade — replica a terapeuta em tom calmo.

— Eu o conheci — prossegue, consultando o calendário na tela — no dia 6 de março. Provavelmente ficou doente um pouco antes disso, sem nem se dar conta. Mas a boa notícia é que já trilhou um longo caminho, Dean. Está melhorando a cada dia.

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