Dexter passou o dia cuidando da jovem, ora olhando a temperatura, ora cobrindo-a com a manta de lã por se mexer muito e se descobrir sem ver. A chuva caia lá fora e ele aproveitou para organizar o que estava fora do lugar, colocou mais lenha na lareira e fechou todas as cortinas para deixar a casa agradável. Limpou seu quarto e o que talvez ela ficaria quando acordasse. — e não ficasse desesperada para ir embora. — Trocou os lençóis de cama, colocou toalhas limpas no banheiro, deixou tudo pronto para a moça. Já passava das onze da manhã quando ele começou a preparar uma sopa. Descascou todos os vegetais, temperos e tudo para dar sabor e a casa ficou com delicioso cheiro de comida fresca feita no fogão a lenha. Depois de pronta, ele colocou em prato fundo e reservou para esfriar um pouco. Colocou também em uma grande caneca e acomodou-se encostado no balcão da cozinha que dividia a sala. Ele ficou tomando a sopa e olhando para a linda mulher dormir em seu sofá tentando imaginar o que ela estaria fazendo sozinha no meio da mata. Quando ele terminou de tomar a sopa, pegou mais um advil na caixa de medicamentos e colocou amassado no chá que tinha sobrado e ainda estava aquecido por ficar próximo ao fogão. Ele andou calmamente até ela e sentou-se na mesa de centro para acordá-la novamente.
— Moça, acorde. — ele a tocou para saber se estava com febre. — Moça. — Chamou outra vez e não teve resposta. Ele a levantou deixando-a sentada e encostada no sofá e por poucos segundos, ela abriu os olhos e olhou para Dexter. Ele parou de respirar. — Oi. — Disse ele. Mas ela não ouviu e fechou os olhos para o sono.
— Hum. — Gemeu tentando abri-los novamente e quando conseguiu, Dexter engasgou pela emoção. Ele ainda não estava respirando pelo impacto de vê-la de olhos abertos. Então ela os fechou novamente.
"Meu Deus, a mais perfeita das criaturas." — Pensou. Ele puxou uma longa respiração. Ver seus lindos olhos verdes o fez perder os sentidos e se questionar de que era a beleza, se não fosse definida somente na mulher que estava em seus braços. Dexter pegou o chá é a fez beber, passou trinta minutos lutando para conseguir fazê-la engolir tudo até que teve sucesso. Ele a deixou sentada no sofá encostada no encosto e foi até a cozinha e pegou a sopa que tinha deixado esfriando. — Agora você precisa comer. — disse ele sentando-se ao seu lado novamente. Ela abriu os olhos mais uma vez e gemeu. — Eu ajudo você. — Ela estava acordando devagar, fraca e sonolenta ainda para manter seu corpo sob suas próprias forças. Ele não sabia quanto tempo ela estava sem comer e então, pegou um pouco de sopa com a colher e levou até a sua linda boca. Um pouco mais desperta ele a fez comer tudo. A linda moça tomou toda a sopa com os olhos entreabertos e ele não se surpreendeu em nada quando ela dormiu assim que terminou de alimentá-la. Deixou-a deitada confortavelmente no sofá cobrindo-a com a manta para aquecê-la enquanto descansava.
Dexter ficou a tarde inteira ao lado da bela adormecida escrevendo em seu diário. Colocou em palavras todo sentimento de cuidado que teve ao vê-la. Toda a emoção ao sentir sua pele quente e desejoso que ela não fosse embora quando acordasse. Já estava um pouco escuro quando ele parou de escrever e deixou o diário em cima da mesa ao lado do sofá e foi providenciar as lamparinas e todas as tochas de fogo para deixar a casa iluminada. Ele espalhou-as deixando tudo harmoniosamente organizadas e com incrível charme fazendo assim uma perfeita decoração romântica e logo depois colocou mais lenha na lareira para aquecer a casa ainda mais, pois ainda chovia muito lá fora. Distraído e mexendo com o ferro na brasa, não percebeu o movimento atrás dele. Levantou e virou-se tranquilamente para voltar a sentar-se e escrever, mas ficou estático ao vê-la. Ela, completamente desperta e sentada no sofá olhando para ele fazendo-o perceber quanto estava assustada.
— Quem é você? — Perguntou sussurrando e deixando-o tonto com a rouquidão de sua voz.
— Não fique com medo, não vou lhe fazer mal. Chamo-me Dexter e te encontrei desmaiada na floresta.
— Onde estou? — Perguntou ela.
— Na minha casa, não muito distante de onde a encontrei.
— Há quanto tempo estou aqui?
— Desde hoje pela manhã. Seu pé está machucado. — Disse ele.
— Eu estou com dor. — ela moveu a perna com dificuldade e retirou a manta de lã para o lado, colocou os pés no chão e sentiu mais dor. Ele viu pela expressão que fez. Ela viu o quão inchado seu pé estava e a faixa que ele colocou. — Está quebrado? — Perguntou ela.
— Acredito que não, já quebrei o braço uma vez e não consegui deixar meu pai me tocar. Você não se moveu quando eu coloquei isso ai. — Ela olhou para ele desconfiada e ele se manteve distante para deixá-la confortável, ou tentar ao menos.
— Onde está seu pai? — Perguntou.
— Morto. — Respondeu Dexter.
— Desculpe.
— Faz muito tempo não se preocupe.
— E sua mãe?
— Morta. — Ela fechou os olhos e respirou profundamente.
— Sinto muito. — Falou.
— Não tem problema. — disse Dexter. — Você está com fome?
— Eu preciso ir embora. — disse ela rapidamente. Olharam-se e ficaram por alguns segundos em silêncio e então ela perguntou. — Você pode me emprestar o seu telefone? — ela olhou para os lados procurando alguma coisa. — Onde está minha mochila?
— Ao seu lado direito, no chão. — Ela a viu e pegou com um pouco de dificuldade. Abriu a mochila e verificou os seus pertences. Ela tirou de dentro uma carteira, um caderno com capa branca e letras douradas escrito Pétala Mackay. Verificou se o equipamento para camping estava todo lá, tudo o que tinha de alimento também olhando cada parte da grande bolsa enquanto ele só a observava em silêncio. Ela abriu a carteira e olhou os documentos, alguns cartões, carteira de motorista, organizou tudo dentro da mochila outra vez e falou.
— É, não está faltando nada.
— Que bom que você não encontrou nenhum assaltante pela mata, não é mesmo? — Ele pareceu ofendido. Ela o olhou envergonhada.
— Desculpe-me, não quis ofendê-lo.
— Não ofendeu. — Eles se encaram mais uma vez.
— Eu agradeço por ter me ajudado, mas eu preciso ir. Você pode me emprestar o seu telefone? — Perguntou novamente.

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