Caindo - Capítulo 16

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E o mar de solidão só aumentava...

Não havia nada pior do que estar de frente a uma imensidão infinita de solidão.

Eu estava com meus amigos, mas também não estava. Eu ria das piadas que eles contavam, mas por dentro eu chorava. Do lado de fora eu era uma pessoa normal, um adolescente cheio de sonhos, com vontade de experimentar de tudo pela primeira vez, desde fazer uma tatuagem a pular de pára-quedas, ir embora para Nova York e com meus amigos formar uma banda de rock...

Do lado de dentro era totalmente diferente. Ser uma pessoa normal? Não se pode classificar como normal uma pessoa que chora noite após noite e de dia usa uma máscara de falsos sorrisos.

E os sonhos? Eles se foram no momento em que eu deixei a casa de Caleb pela última vez. Sem tatuagem, sem pára-quedas, sem banda de rock.

Talvez eu tenha pulado de pára-quedas sem saber, mas a parte ruim era eu ter sido jogado e não ter pulado, e com certeza o pára-quedas ficara para trás. Eu estava caindo ininterruptamente, eu já havia passado do chão aquela altura, eu estava em um abismo eterno.

E as minhas noites?

Elas estavam piores.

Toda noite meus terrores noturnos chegavam sem aviso prévio, os gritos furavam o ar como agulhas afiadas. Não existe sensação pior do que ter medo e não saber qual medo é esse. E era assim noite após noite, gritos cortantes e desesperados, o rosto molhado por lágrimas, o corpo embebido em suor frio.

E era o que estava acontecendo naquele momento. Era 01h00 da manhã? Com certeza eu não fazia ideia. Mas os gritos, estes continuavam desesperados.

Meu corpo estava encolhido na cama em uma posição fetal, abracei minhas pernas como uma criança desprotegida, eu estava vulnerável pela situação em que minha vida se encontrava, era um oceano de confusão e bagunça.

O primeiro a brotar na porta do meu quarto foi Gustavo, ele vestia um short curto e uma camisa de manga comprida. Gustavo parou na porta, me analisou e então pulou em cima da cama segurando minha cabeça entre as mãos.

- Está tudo bem... Você está em casa, está salvo. É só mais um daqueles terrores noturnos.

Gustavo me obrigava a olhar para ele enquanto seus dedos puxavam sem força meus cabelos. Balancei a cabeça assentindo, meu rosto molhado, minha boca entreaberta em um gemido mudo.

Eu queria poder me sentir protegido, eu queria me sentir seguro de novo. Parei no meio do caminho quando inclinei meu corpo para um abraço, Gustavo podia ser meu melhor amigo, mas isso era estranho.

Então ele me olhou, analisou e me puxou para um abraço. E como eu precisava daquele abraço, como eu precisava sentir-me protegido. E durante toda a minha vida, aquele foi o momento em que eu mais me senti como uma criança assustada que precisa de colo.

Gustavo aninhou minha cabeça em seu peito, aquilo não poderia ser mais estranho, mas era bom. Eu me senti salvo.

Foi quando ela apareceu no meu quarto com os olhos assustados.

- Está tudo b...?

Minha boca secou.

- Sai daqui! – Gritei a plenos pulmões. – Isso tudo é culpa sua! É culpa dela, é culpa dela! Destruiu a minha vida e continua destruindo agora... É culpa dela... É culpa dela... dela...

Não deveria haver dor maior do que aquela que sentíamos ali naquele quarto. O filho gritando com a mãe, a mãe escutando aquilo da boca do filho. O filho certo em tudo o que dizia. A mãe em posição de vilã da história.

Olhos AzuisWo Geschichten leben. Entdecke jetzt