A surpresa

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       Após minha conversa com a Eliza, relaxei no sofá e fizemos uma maratona de filmes de terror, Marcos tentou me convencer de sair para algum lugar onde ele pudesse beber algo, ou até mesmo encontrar com a Alexa, mas para mim já estava esgotada a cota de “aventuras”. Eu apenas queria descansar e foi exatamente isso que fiz.

        Na manhã da segunda feira eu acordei no sofá, Marcos foi para casa tarde da noite e eu fiquei no sofá assistindo mais filmes. Cheguei no trabalho quase meia hora antes, arrumei alguns livros nas prateleiras e organizei alguns em uma nova estante.

         — Quem tem tanta disposição em plena segunda feira? — perguntou a Isabela, outra funcionária da livraria.

         — Só aqueles que passam o domingo fazendo maratona de filmes de terror — falei enquanto descia da pequena escada — bom dia para você também.

        — Bom dia, eu fiz uma vistoria no seu blog, não tem nada novo, como sua fã eu exijo uma explicação! — ela me encarava com os braços cruzados.

        — Tenho me concentrado em outras aventuras, mas prometo que vou fazer algo — falei enquanto oferecia um sorriso simpático.

        — Você deveria escrever uma história e ficar postando capítulos, seria interessante. — ela me olhava com a sobrancelha arqueada, parecia uma patricinha, cabelo loiro bem comprido, nariz arrebitado, mas era uma boa pessoa e muito humilde, era 10 centímetros mais baixa que eu.

        — Talvez, vou pensar em algo legal.

        Já perto do meio dia, meu chefe me chamou até a sala dele, seu nome era Francisco, tinha pouco mais de 50 anos, tinha cabelos totalmente brancos e uma barriga invejável para um papai noel de shopping.

      — Seu Chico — falei enquanto entrei na sala dele — já checamos os novos livros e colocamos nas prateleiras, o senhor queria falar algo comigo?

        — Sim, obrigado — ele sorria fechando um pouco os olhos, tinha uma expressão paternal em seu jeito — queria lhe pedir um favor.

        — Tudo bem — falei enquanto me sentava na poltrona em frente à mesa — o que posso fazer?

        — Um amigo meu me encomendou um livro e o Roberto, nosso entregador está doente e não pode vir, o escritório dele fica a duas ruas daqui, você poderia levar até lá?

        — Tudo bem, eu vou sair para almoço daqui há uns 20 minutos, vou comprar algo e voltar, aí posso levar.

        — Certo, certo — ele se levantou e foi em direção à porta — me diga Caio, você ainda escreve?

        — Sim, escrevo.

         — Pois bem — ele parou ao meu lado e pousou sua mão em meu ombro — você sempre me ajudou, queria fazer algo por você, me diga, você gostaria de ir até Santa Cecília para a bienal de livros? Soube que aquele cantor que você gosta vai estar lá.

        — O Humberto Gessinger? — falei surpreso — é claro que eu gostaria de ir.

        — Pois bem, vou te dar as passagens e emprestar a chave do apartamento que tenho lá, o que me diz?

        — Não tenho palavras para agradecer, senhor.

        Meu chefe era como um pai para mim, desde pequeno venho até esta livraria para ler e conversar com ele sobre as melhores histórias, depois que terminei os estudos, comecei a trabalhar aqui, sempre ajudei como podia pois sempre o tive como amigo e não como chefe. Alguns anos atrás, antes mesmo que eu começasse a trabalhar aqui, a esposa do Francisco faleceu de câncer, a filha deles que mora no Canadá veio para o velório mas uma semana depois retornou, após isso eu acabei sendo o mais próximo que ele tem de família.

         Eu estava realmente feliz com a notícia, gosto de todas as músicas e livros do Humberto Gessinger, nunca pude ir para algum show ou para uma palestra dele em uma bienal, eu realmente ganhei meu presente de natal antecipado.

        Cheguei até o escritório do amigo do Seu Chico, parecia que não tinha ninguém, mas a porta estava aberta, entrei com receio tentando observar se havia alguém aí.

         — O senhor Fábio saiu para almoço — uma voz feminina alertou de dentro da primeira sala depois da recepção — só vai voltar daqui há uma hora — completou aquela voz que me era familiar.

         — Vim trazer um livro que ele encomendou — falei sem entrar totalmente naquele escritório.

        Uma moça saiu da sala, estava vestindo uma blusa social branca com os dois primeiros botões abertos que deixava um decote de seios fartos a mostra, uma calça preta bem colada ao corpo e salto alto que se aproximava rapidamente mas  parou assim que me viu.

        — Caio? — disse Roberta em um tom surpreso.

        — Roberta? Você trabalha aqui? — falei finalmente entrando.

        — Sim, eu disse para você que era secretaria, não falei? — ela me abraçou enquanto falava.

        — Não sabia que era aqui, eu vim trazer esse livro para o Fábio, ele não está?

        — Não, saiu para almoçar, nossa, realmente estou surpresa em ver você, eu estava lendo seus contos, nossa, você escreve bem, eu até fiquei sem jeito quando vi que era você aqui.

        — Então você estava me espionando vendo minhas redes sociais e meu blog? — perguntei de forma irônica enquanto observava mais uma vez aquele decote.

        — Eu fiz isso antes da gente sair na verdade, mas seu blog eu só parei para ler agora.

        — Você gostou de algo?

        — Sim, na verdade, você é bem romântico, seus personagens são apaixonantes, a forma que você escreve, nossa... — ela me olhava nos olhos enquanto seu sorriso se aproximava de mim — vem cá, preciso fazer uma coisa.

        — Obrigado — falei enquanto ela me puxava para a sala em que tinha saído — eu realmente fico feliz em saber disso, nós estamos a sós aqui?

          — Relaxa — ela se movia lentamente enquanto fechava a porta da sala depois que entramos — estamos em paz aqui, e eu quero te dar um presente por tudo que eu vi em seu blog.

         — O que? — falei tentando descobrir o que ela está a aprontando.

         Ela se aproximou e me beijou suavemente, suas mãos tocavam meu peito e me arranhava levemente.

          — Isso é só um agrado, uma diversão nossa, me liga no fim de semana, podemos fazer algo legal, mas não vá acostumando, não sou tão boazinha assim.

          Eu a puxei para perto, não queria parar por ali, já não me importava se havia alguém no local ou se realmente estávamos a sós. Ela me beijou e se soltou dos meus braços.

         — Aqui não, hoje não — ela sorria e se afastava como se me provocasse — no fim de semana a gente se encontra e talvez eu te beije novamente.

         — Você gosta de me provocar, a gente se vê depois então.

         Ela assentiu e me levou até a porta do escritório, o sorriso em seu rosto nem sempre era malicioso, parecia realmente feliz.

         — Nós transamos e agora te beijei novamente, mas não vá pensando que já me ganhou, você apenas fez por merecer.

        — Tudo bem, eu já percebi que você faz de mim o que quer.

        — Bom garoto. Quinta feira na sua casa, pizza e filme, topa?

        — Sim senhora — assenti me aproximando para mais um beijo que ela recusou virando o rosto deixando eu beijar sua bochecha.

        — Até quinta, Caio.

        — Até quinta Roberta.

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Olá pessoal, espero que estejam gostando da história, quero pedir desculpas, infelizmente não pude postar o capítulo na segunda feira, estou de mudança e acabei ficando sem tempo, mas a história continua. Comentários são sempre bem vindos, deixe seu voto, até mais.

Prenda minhaWhere stories live. Discover now