Capítulo 9

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(Candy)

Scott tinha me ligado e pedido para nos encontrarmos no café que ficava próximo a faculdade, aparentemente, ele havia conversado com Jackie e resolvido às coisas no meu lugar. Eu só esperava que as coisas estivessem realmente resolvidas. Já era drama suficiente ter que lidar com o fato de eu ter me transformado em um lobo e matado um lince, não queria ter que lidar com um drama de amiga magoada também.

Eu contorcia minhas mãos nervosamente enquanto caminhava pela calçada, parecia que fazia anos que eu não falava com Jackie. Eu estava nervosa com o que poderia vir a seguir.

Quando virei à esquina que dava para o café, foi como se tivessem posto brasa quente nas minhas costas. Senti-a queimar e encostei-me à parede tentando conter um grito de dor. O que estava acontecendo comigo? A queimação se espalhou pelas minhas costas, começando a tomar conta de todo o meu corpo. Apertei minhas mãos com forças e fechei os olhos tentando ao máximo controlar o que quer que fosse isso.

Eu não sabia de onde ele havia surgido, aparentemente, esse era o único modo de encontrar ele. Quando estava sofrendo alguma coisa. Encarei os olhos pretos preocupados do garoto a minha frente e ele tocou meu rosto com as pontas dos dedos. A dor se espalhou ainda mais pelo meu corpo, comecei a sentir minhas pernas e braços queimar. O loiro desconhecido passou os braços em volta de mim antes que eu caísse de verdade e quando me dei conta, não estávamos mais na rua. Ele havia me levado para um beco escuro e que fedia a lixo.

- Candice. - o modo como ele falou meu nome, tão delicado e tão preocupado, fez toda a minha pele se arrepiar apesar da dor. - Preste atenção em mim, ok? Preciso que fosse se foque em acalmar sua respiração e seus batimentos cardíacos.

- O que está acontecendo comigo? - perguntei quando a dor passou a queimar meus pulmões também.

- Vou contar tudo para você, mas antes preciso que você não se Transforme, está bem? Você tem que permanecer humana. - ele afastou o cabelo do meu rosto e me levou até uma lixeira, me sentando ali. - Se concentre em acalmar sua respiração.

- Está queimando. Eu sinto todo o meu corpo queimar. É tão quente. - reclamei e senti os dedos frios dele afastando o cachecol do meu pescoço e começando a tirar o meu casaco.

- Preste atenção na minha respiração, tente igualar a sua com a minha. - pediu me segurando pelos ombros enquanto eu arfava, não parecia existir ar suficiente a minha volta. - Ouça meu coração, tente deixar o seu no mesmo ritmo.

Parecia maluquice o que ele estava falando. Como eu iria ouvir o coração dele? Sua respiração era uma coisa, eu conseguia acompanhar o movimento da sua caixa torácica com os olhos, mas ouvir seu coração era uma coisa quase impossível dado à distância que ele me segurava do seu corpo. No entanto, eu sabia que ele sabia que eu era capaz de ouvir o coração dele. Do mesmo modo como eu era capaz de ouvir a risada de Scott dentro da cafeteria atrás de nós, de como eu conseguia ouvir o som da cafeteira e o tilintar da louça que estava sendo lavada.

- Se concentre, Candice. - o loiro chamou minha atenção. - Meu coração, apenas ouça o meu coração.

Era demais me pedir para ouvir apenas o som de um coração se eu podia ouvir tantos sons ao mesmo tempo. Era como se a minha cabeça pudesse explodir a qualquer momento, eram muitas vozes, muitos corações, muitas músicas, muitos sons. Encarei os olhos negros que me encaravam de volta e forcei meus ouvidos a se concentrar em apenas um som, eu tinha que me concentrar em apenas no som dos batimentos cardíacos.

Os sons a minha volta começaram a se reduzir, as vozes começaram a ficar mais baixas e o tilintar das louças quase desapareceram. Os sons de corações batendo começaram a tomar conta dos meus ouvidos. Eram diversos, cada um em um ritmo. Eu conseguia ouvir o som do coração acelerado de alguém, um som que gritava por ansiedade, podia ouvir o som baixo e lento de um coração que seu dono parecia estar adormecido.

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