Capítulo 2

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Scott podia não gostar de festas surpresas ou de aniversários, mas depois de algumas doses de tequila não havia quem não gostasse de uma música alta e mais doses de tequila. Meus pés já estavam doendo de tanto dançar, eu me afastei um pouco para sentar e fiquei observando de longe Jackie virar mais uma dose de tequila com Scott. Eles formavam um par estranho, pensei enquanto observava a menina ruiva com sardas no rosto fazer careta depois de chupar um limão e o menino moreno e esguio que ria para ela.

Scott estava na minha vida desde que eu me lembrava por gente, era difícil uma lembrança minha que ele também não tivesse. Havíamos crescido juntos, morando lado a lado desde nosso nascimento. A mãe de Scott era amiga de infância do meu pai, da mesma forma que minha mãe era amiga de infância do pai de Scott. Era como se o destino nos obrigasse a sermos melhores amigos.

Papai havia conhecido mamãe por causa da mãe de Scott, que dividia o alojamento com a minha mãe na época de faculdade. E a mãe de Scott havia conhecido o pai dele porque a colega de quarto dela - que era minha mãe - vivia andando com ele. No fim, havia virado os quatro para o resto da vida. E não era estranho que seus únicos filhos unissem forças na vida.

- Não me deixe tomar mais nenhuma tequila. - disse Scott se jogando no sofá ao meu lado e me olhando com os olhos azuis sem foco.

- Você parece se divertir quando toma tequila. - comentei.

- Posso passar um pouco do meu limite do que eu considero diversão. - respondeu enrolado.

- Seu sinônimo de diversão é chato. - respondi para ele e fiquei de pé. - Isso é diversão. - apontei um garoto que bebia cerveja por uma mangueira enquanto dois garotos o seguravam de cabeça para baixo.

- Isso é suicídio. - falou ele pegando minhas mãos e deixando-o puxar para fora do sofá.

- Isso é diversão! - respondi e me virei para os dois garotos que abaixavam o que havia estado de cabeça para baixo. - Minha vez!

- Você tem certeza? - perguntou o moreno me olhando com dúvida.

- Claro que sim. - respondi confiante e entreguei meu celular para Scott. - Segure isso.

Os dois garotos deram de ombros e cada um segurou minha perna me erguendo no ar. Eu podia sentir todo o sangue fugir para a minha cabeça enquanto eu sorvia a cerveja amarga para dentro de mim. Devo ter ficado nessa posição, bebendo sem parar, por quase um minuto, porque quando os dois garotos me colocaram no chão, eu sentia minha cabeça girar e um calor enorme tomava conta de todo o meu corpo. Scott balançou a cabeça rindo para mim e se afastou com Jackie.

- Você me surpreendeu. - disse uma voz próxima ao meu cabelo. Virei-me, ainda sentindo minhas bochechas quentes, só para ver o garoto loiro que estava do lado de fora da boate mais cedo. - Oi.

- Oi. - respondi encarando o seu rosto e sorrindo.

- Você parece bem bêbada. - comentou me lançando um sorriso.

- Provavelmente estou. - respondi. - Está calor aqui, não está?

- Não. - respondeu ele sem deixar de sorrir.

- Bem, eu estou com calor. - falei tirando o meu casaco e jogando-o em cima de uma das mesas. - Você quer dançar?

- Claro. - respondeu ele pegando minha mão e me puxando para a pista de dança.

Eu ainda sentia o álcool correndo pelas minhas veias, junto com as mãos do garoto loiro que me prendiam contra o seu corpo. Movíamos-nos no ritmo da música, ficando cada vez mais próximos. Eu podia sentir o cheiro dele de tão próximos que estávamos. Ele cheirava a suor e algo mais ácido que eu não conseguia identificar, parecia um tipo de perfume desconhecido para mim. Eu podia sentir seu nariz correndo pelo meu pescoço e seus lábios subindo até minha boca.

MetamorfoseWhere stories live. Discover now