Drapetomania

Capítulo 3

— Como expliquei mais cedo, uma promessa foi feita ao feiticeiro que me levou até a Fonte da Juventude. Com o passar dos anos tudo que tenho feito me prepararam da melhor forma possível para honrar tudo que me foi dado. Só que obviamente eu não tinha ideia de onde tudo isso iria parar, que de certa forma, me fazendo prometer aquilo, ele estava selando meu futuro.

Por muitos anos, João participou das mais variadas buscas, parando há pouco tempo para cuidar apenas do caminho que aqueles que vinham até ele deveriam tomar. Ele afirma que sente falta da ação, mas agora é necessário em outra parte. Muitas vezes pessoas descobrem artefatos que estão em sua família há anos, ou através de familiares e vêm até João para selarem seus caminhos. Nada, de acordo com ele, acontece por um acaso.

Eu bebo suas palavras com empolgação, isso é tudo e muito mais do que eu jamais poderia esperar ou desejar. E quando João levanta da poltrona e pede para que o acompanhemos, eu praticamente pulo em pé, me sentindo e provavelmente também aparentando uma criança prestes a descobrir aonde Papai Noel deixou seus presentes.

João nos guia para uma porta ao lado da lareira que eu ainda não havia notado e assim que entro no cômodo adjacente, fico surpresa ao me encontrar em uma estufa com as plantas mais incríveis que já vi em toda minha vida. Há diversas flores aqui, nas mais variadas cores, tamanhos e formatos, alguns deles que mal parecem possíveis de ser reais.

— Todas as espécies que estão aqui são raras e não podem ser encontradas em nenhum lugar além daqueles que vieram originalmente. Para cada uma delas, foi dedicada uma missão especial. Muitas possuem poderes de cura ou são venenos mortais. — ele explica enquanto observa Lola e eu olharmos ao redor.

— Queria estar com meu bloco de desenhos. — Lola diz baixinho e eu concordo, pensando a mesma coisa sobre minha câmera.

— Você terá tempo para desenhá-las quando quiser. Como já falei antes, tudo na casa é livre para vocês e basta perguntarem como entrar aqui por fora do meu escritório, dessa forma vocês não precisarão passar por lá sempre. Também, se encontrarem as pessoas certas, poderão ouvir a história de cada uma dessas espécies, de como vieram parar aqui ou para que servem. — João nos guia entre as flores até uma pequena fonte, que bate na minha cintura e está cheia de água e pedras no fundo. — Se aproximem.

Paramos ali e ele nos deixa apreciar mais um pouco do local antes de voltar a falar.

— Vocês podem por favor, fechar os olhos e retirar uma das pedras que estão no fundo desta fonte? Você primeiro, Evie? — me aproximo da fonte, fazendo o que ele pede, fecho meus olhos e mergulho minha mão na água. — Não tenha pressa. Você saberá quando encontrar a certa.

Fico algum tempo passeando minha mão pelo fundo da fonte, tentando entender as palavras de João e tentando ignorar a respiração impaciente de Lola, até que finalmente acontece. Meus dedos encontram uma pedra pequena, que parece vibrar com o meu toque. De repente, sei que é ela que eu estava buscando no primeiro instante quando coloquei a minha mão naquela fonte. Fecho meus dedos nela e retiro-a da água.

É uma pedrinha azul, lisa e seu formato parece uma flecha. Aproximo-a dos meus olhos e reparo que parece brilhar na luz, como se pequenas estrelas estivessem ali dentro. Ela é linda.

— Posso? — João pergunta esticando a mão para mim e um pouco relutante, entrego minha pedra.

Ele a examina e me olha com algo que parece surpresa em seus olhos, mas logo ela desaparece, dando lugar a uma expressão neutra. Me questiono se o que isso significa. Se fiz a escolha certa, ou se sequer foi uma boa escolha. Será uma indicação de que devo ir para casa?

— Não se preocupe, Evie. — ele diz, lendo minha expressão — Logo você saberá o que isso significa. Lola, sua vez.

João indica fonte com o braço e minha irmã se aproxima dela, com uma expressão cética no rosto. A mão de Lola permanece na água por menos tempo que eu fiz e noto que não só seus olhos não estão fechados, como ela também parece escolher que pedra pegar, uma parecida com a minha, noto assim que retira a mão da água. O objeto tem o mesmo formato e o mesmo tom de azul, mas com algumas rachaduras em branco.

Observo João, esperando que ele a repreenda ou algo do tipo, já que certamente Lola não fez o que ele pediu, mas nada acontece.

— Aqui está. — ela diz, entregando sua pedra.

— Interessante. — João diz e fica em silêncio por algum tempo, observando as duas pedras.

— O que elas significam? — pergunto quando não me aguento de curiosidade.

— O destino de vocês. — ele responde, me fazendo prender a respiração de ansiedade — Entendam, existem seis tipos de pedras dentro dessa fonte. E cada um deles representam as Missões que estão em andamento atualmente, cada escolha leva a um caminho diferente.

"Curiosamente, vocês escolheram a mesma pedra, o que significa que farão parte da mesma missão. A diferença é que essas fissuras na de Lola, indicam que o caminho dela será mais tortuoso que o seu, Evie, que parece certeiro. É bem raro duas pessoas novas pegarem o mesmo caminho da forma que ocorreu agora, provavelmente a ligação de vocês ajuda nesse sentido." - ou que uma de nós escolheu propositalmente.

— Porque somos gêmeas e tudo o mais? — Lola pergunta dando um sorriso inocente e eu me controlo para não revirar os olhos, já que nós duas não temos paciência para aquela "coisa de gêmeos" que muitas pessoas parecem enxergar em nós. Por trás da inocência fingida, ela está zombando de João. Não só por isso, como também por ter trapaceado.

— Talvez. — João diz pensativo, sem perceber o que se passa ou dos olhares que estamos trocando. — Mas o que importa é que o caminho de vocês está unido e traçado.

— E qual seria esse caminho exatamente? — pergunto, trocando o peso de um pé para o outro sem conseguir ficar quieta, a curiosidade praticamente pode ser apalpada em minha voz.

— Uma das Missões mais conflituosas e complicadas em andamento. Dalian e Miguel fazem parte dela e eu mesmo adoraria estar, se ainda saísse em missão. — ele dá um suspiro, seus olhos pairam para longe de nós, mas logo ele volta a sorrir e se volta para nós, seus olhos brilhando. — Digam-me meninas, o que vocês sabem sobre o mito de Atlantis?