16 Sangue do meu sangue (pt2)

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Alice Narrando.

Acordei com o rosto enxado por causa do choro das últimas noites, faz dois dias que não troco uma palavra sequer com minha mãe, sim, eu sentia remorso, me doía ficar sem conversar com a mulher que me carregou por nove meses, ficar sem conversar com a minha melhor amiga, minha parceira, minha mamãe...

Eu não sentia raiva dela, mas com certeza ainda guardava mágoas, eu me decepcionei, não por não ser filha do meu pai, acho que ainda posso chamá-lo assim, mas sim por ela ter esperado 17 anos para contar.

O dia não começou animado, eu sempre acordava com brincadeiras dos meus pais, com os dois tomando café, mas hoje minha mãe ficou na cama, e ontem, e ante-ontem, e isso me preocupava, meu pai não era mais tão amoroso, estava trabalhando muito, chegando duas horas depois do que chegava, e dormia no quarto de hóspedes, deixando minha mãe dormir sozinha, e isso também me preocupava.

Meu irmão e eu estávamos próximos e orando pelos nossos pais, mas a coisa não melhorava ainda, então nós dois formamos um plano.

Depois da escola, fui ao quarto de minha mãe, eu já tinha saído do trabalho, e meu irmão tirou o dia de folga, ela estava deitada na cama, o que era estranho, já eram 16:00 horas, fui até a cama e ela não dormia, apenas olhava para o canto da parede, ao me ver, sua expressão mudou, mas ela não dizia nada, havia muitos pratos de comida cheios no quarto que meu irmão a levava.

Alice: Mãe, não comeu nada?

Ela negou com a cabeça

Alice: Não sente fome?

Negou mais uma vez. Coloquei as mão sobre sua testa, estava normal, resolvi manter um papo.

Alice: A senhora sente alguma dor?

Negou

Alice: Me diz o que tem

Ela me olhou, e não disse nada, sua expressão era de dor, mas não dor física, e sim dor psicológica, dor emocional. Resolvi chamar um médico, ele veio imediatamente, diagnosticou e disse a mim e meu irmão.

XXX: Não tenho notícias tão boas, ela está com depressão, ou melhor, com início de depressão.

Alice: Realmente não existe cura?

XXX: Cura não seria a palavra, existem tratamentos, sua mãe passou por algum tipo de estresse esses dias?

Afirmei

XXX: Deve ser isso, a chave é aumentar o autoestima, no hospital, a maioria dos casos de depressão é por problemas familiares, normalmente nós recomendamos concertar o problema, e depois optar pelo tratamento, acreditamos que o que começa na família, deve terminar nela também.

Lucas: Obrigado doutor! Vamos conversar com ela, posso te acompanhar?

Lucas acompanhou o médico até a porta e depois voltou, eu estava sentada ao lado da cama de minha mãe, chorando, e a observando dormir, ou melhor, dessa vez acho que ela realmente dormiu, me levantei e sai do quarto, fomos a sala conversar, e formamos outro plano.

Lucas: Não aguento vê-la assim, precisamos fazer algo

Eu apenas ficava quieta e o encarava

Lucas: Que foi?

Decidi abrir o bico

Alice: É tudo minha culpa, se eu não tivesse gritado com ela...

Não terminei a frase, comecei a chorar, encolhi as pernas e apoiei a cabeça.

Lucas: Não é sua culpa, é culpa de todos nós, nenhum de nós pensou em como ela estaria.

P.S Ele é o plano perfeitoWhere stories live. Discover now