Capítulo 4

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Depois das mensagens loucas de Bella, consegui dormir um sono sereno de relativamente duas horas e acordei mal-humorado ás nove da noite. Debato contra mim mesmo para conseguir sair da cama e com muita pouca paciência, preparo o meu jantar. Como estou sem cabeça para grandes pratos, decido cozinhar apenas uma simples massa esparguete com pasta de atum e, só depois de me afundar no meu sofá macio enquanto saboreio o meu jantar e vejo um filme aleatório que passa na televisão, é que percebo que estava esfomeado. Repeti três vezes e ainda fui buscar á cozinha um pouco de "comida de plástico". 

Sempre preferi trabalhar nos meus projetos pela madrugada, então, quando o filme termina e eu já estou completamente cheio, levanto-me para arrumar a cozinha e aproveitar para pegar numa garrafa de vinho tinto, e dirigir-me com a mesma na mão até ao meu escritório. Instalo-me confortavelmente na divisão da casa que mais frequento e abro a garrafa, deitando o líquido amargo num copo de vidro e levando-o até á minha boca. Coloco os meus óculos graduados que uso somente para o trabalho e ligo a aparelhagem, fazendo com que uma relaxante melodia de jazz invada os meus ouvidos.

-Vamos lá.- eu digo, esfregando as duas mãos contra as minhas calças de fato de treino.

Começo a observar atentamente o meu mais recente e importante projeto, enquanto bebo mais alguns goles de vinho e bato o pé conforme a batida da música de fundo. Este trabalho irá render-me imenso dinheiro, porem preciso de me focar bastante nele e abdicar grande parte do meu tempo para que isto fique mesmo perfeito. Eu gosto das coisas exatamente assim, perfeitas.

No momento em que me preparo para acrescentar uns pequenos pormenores do meu papel de esboços, assusto-me ao ouvir o barulho de pedaços de vidro a cair no chão, e pouso imediatamente o copo em cima da minha secretária. Desligo a aparelhagem com o comando que está mesmo ao meu lado, pouso os óculos em cima da secretária, levanto-me ágilmente e permaneço intacto de pé, sem qualquer reação, á espera de voltar a ouvir o tal som. Porem, em vez de vidros, ouço tacões de salto alto a embaterem contra o soalho do corredor e, já entendo do que se tratava, murmuro vários palavrões, antes de sair a correr do escritório. Uma risada rouca, maligna e feminina ecoa por toda a casa e sinto todo o meu corpo endurecer, eu caminho em passos largos pelo extenso corredor e vou abrandando conforme me deparo com um dos quartos, para puder verificar que ela não se encontra em nenhum deles.

-Bella!- eu exclamo com firmeza na voz, tendo a certeza que foi ela que invadiu a minha casa, mais uma vez.

Eu sinto que todas as veias do meu corpo transportam uma imensidão de raiva, neste momento, e acelero o meu andamento, até que me surpreendo quando sinto o seu toque no meu ombro. Solto um suspiro demorado e, tentando controlar o meu nervosismo, viro-me para encarar a demónio disfarçada de menina inocente, que mostrava um sorriso estonteante.

-Peço desculpa se causei muito barulho, sou uma distraída.- Bella riu-se de si mesma durante algum tempo e depois encarou-me com um ar tristonho.- ó, e estavas a trabalhar! Desculpa, Daddy...- ela choraminga e eu arregalo os olhos intrigado.

-Não me chames isso! O que é que estás a fazer?- eu inquiro confuso e, por algum motivo desconhecido, olhar para os seus lindos olhos esbugalhados, acalma-me.

-Tinha saudades tuas... prometi a mim mesma que ia afastar, mas não resultou lá muito bem... sabes, ainda bem que não deu ouvidos a mim mesma.- ela profere todas as palavras de forma tortuosamente lenta e angelical e eu entre-abro os meus lábios e fecho as pálpebras por meros segundos, antes de voltar a encarar a rapariga que me fita com um sorriso afetado.

-Bella, tu não estás bem...- eu simplesmente ataco, focando o meu olhar num outro ponto que não seja ela.- ficas-te demasiado apegada a mim e isso é muito grave! Tu tens de te ir embora de vez, não podes continuar com esta loucura! Quantas vezes já te disse que sou um homem casado?- eu elevo o meu tom de voz e ouço-a murmurar algo que não consigo decifrar.

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