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- Jake, por que você não me beija logo?

Eu perguntei depois de examinar o seu rosto por alguns segundos e pude ver seus olhos quase saltarem das órbitas. Ficamos nos encarando por um tempo e enquanto ele tinha uma sorriso discreto no canto direito da boca, eu sustentava seu olhar sem qualquer expressão. Jake parou de sorrir sugando seu lábio inferior entre os destes num ato de nervosismo e então aproximou o rosto do meu. Eu podia ver alguns raios esverdeados rasgarem suas íris castanhas de uma forma única e também podia sentir o seu hálito quente com gosto de chocolate. Fechei os meus olhos e sorri sentindo ele colocar uma de suas mãos no meu ombro.

- Kate? O professor disse que já estamos chegando, é melhor acordar!- Abri os olhos e me deparei com a estampa da minha mochila amassada contra a minha bochecha- Kate, se você não acordar agora eu vou ser obrigado a jogar água em você!

Respirando fundo, eu me dei conta de que era apenas um sonho e fiquei um pouco mais aliviada. Levantei a cabeça sentindo meus cabelos espalhados pelo meu rosto e encarei Jake que estava sentado ao meu lado, vendo o mesmo balançar o resto de água que havia na sua garrafinha de forma ameaçadora. Assim que ele usou seus dedos macios para afastar meus cabelos do rosto, eu tive uma visão que fez meu estômago revirar. Os raios esverdeados dos seus olhos e o sorriso no canto dos lábios estavam lá e pareciam zombar de mim enquanto minhas bochechas queimavam. Desviando os meus olhos, percebi que estava no ônibus escolar que nos levaria até uma exposição de arte.

- Todo mundo descendo!

O professor Martin gritou fazendo os adolescentes soltarem resmungos e levantarem lentamente. Aproveitando que eu estava na poltrona do corredor, joguei minha mochila nas costas e saltei do ônibus sentindo que minhas bochechas explodiriam. Vi Ryan com uma garrafa de água e antes que ele levasse o material plástico na boca, eu a peguei. Me apoiei numa placa de transito que estava ao meu lado na calçada e bebi até a última gota de água que tinha na garrafa tentando aliviar o calor infernal que minhas bochechas estavam produzindo. Fechei os olhos por alguns segundos e quando os abri a personificação do meu sonho estava parada na minha frente com os braços cruzados e as sombrancelhas franzidas. Com os olhos arregalados dei um passo para atrás e me arrependi no mesmo instante que um hidrante se materializou atrás de mim fazendo com que eu perdesse o equilíbrio. Algo muito errado estava acontecendo comigo. Soltando um gemido baixo de frustração, eu entreguei a garrafa, agora vazia, para Ryan que me olhou com os olhos estreitos.

- Acredite, eu precisava mais do que você.

Eu dei de ombros e ele balançou a cabeça negativamente fingindo estar bravo. Ele me puxou para um braço e eu passei meus braços pela sua cintura em retribuição. Quando nos afastamos, ele ajeitou a mochila nas costas e colocou uma de suas mãos na minha testa.

- Jesus, Kate! Você está muito quente!- Ele afastou a sua mão e foi a vez de Nathan imitar o seu gesto anterior- Está se sentindo bem?

Balançando a cabeça positivamente, eu sorri para Nathan que suavizou sua expressão de preocupação e sorriu dando batidinhas no meu ombro.

- Deve ser o calor, vocês sabem que a rainha do gelo aqui detesta o verão.- Ele riu e eu fiz careta- Vamos entrar logo Louise, quero ver a escultura de manteiga de amendoim!

Nathan puxou a namorada e entrou no galeria onde a exposição estava acontecendo. Ryan e Tyler disseram que iriam comprar mais água e Jake se apressou a ficar na minha frente antes que eu pudesse dar qualquer passo.

- Você está bem mesmo?- Ele perguntou e eu sorri balançando a cabeça positivamente- Quer entrar?

Como ele havia colocado seus óculos de grau, eu nunca conseguia mais ver os raios verdes nas suas íris e isso me tranquilizou de certa forma. Assim que entramos na galeria, nos juntamos com o grupo que o professor estava guiando e passamos por cada obra enquanto ele explicava o que cada uma queria representar. Eu até tentei ouvir o que ele estava dizendo, mas estava irritada de mais comigo mesma para ouvir qualquer coisa. Me peguei várias vezes observando Jake enquanto ele parecia concentrado nas obras e toda vez que eu fechava os olhos as mesmas imagens do sonho passavam pela minha cabeça como um filme de terror torturante. Completamente perdida nos meus pensamentos, parei em frente a uma tela que ainda tinha o cheiro forte da tinta óleo usada pelo pintor e senti minhas bochechas se aquecerem novamente. A ilustração na tela era um casal, aparentemente da idade média, se beijando em um banco de praça.

- Só pode ser brincadeira.

Cruzei meus braços sobre os peitos e fiz careta com a ironia que aparentemente estava me rondando hoje.

- Brincadeira por que? Não gostou?- Jake perguntou parando atrás de mim e estendeu o braço por cima do meu ombro para poder tocar na tela- Eu achei lindo! Quase consigo sentir o amor deles flutuar sobre a tela.

Virando de frente pra ele, eu ri com as sobrancelhas franzidas ainda com braços cruzados e Jake me encarou antes de sorrir ajeitando os óculos no rosto.

- Tô quase achando que você joga no time do Ryan.

- Eu não sou gay, só tenho uma coisa chamada sentimentos. Já ouviu falar?

Ele sorriu de uma forma forçada e segurou minha mão antes de começar a me arrastar novamente pela galeria. Encarando nossas mãos juntas, eu percebi que gostava de como elas se encaixavam e me senti uma idiota por sentir tanta vergonha por um simples sonho. Fala sério! A melhor parte dos sonhos é que ninguém sabe o que você sonhou, é confidencial e é uma coisa só sua. Eu não era uma garota do tipo dramática que perdia tempo se culpando por ter sonhado dessa forma com o amigo. Jake é provavelmente o cara mais legal que eu já conheci e a sua beleza é incontestável. Então se a parte do meu cérebro responsável pelos sonhos produzia imagens de Jake enquanto eu dormia, eu não poderia culpá-lo.

Highway || Gregg SulkinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora