Ouvi alguém bater na porta e sentei na cama enquanto Leila entrava no quarto. Ela sorria calmamente e isso automaticamente aliviou um pouco o peso em meu coração.

— Tia. — sorri.

— Vim ver como está. — sentou na beirada da cama.

— Bem, eu acho. — dei de ombros.

Leila segurou minhas mãos e as acariciou gentilmente.

Nós conversamos na noite anterior sobre os prós e contras de ir para a Escola Real. Leila disse que quando entregaram a carta, acreditou que eu tinha mesmo me inscrito para a bolsa, mas que não lhe contei por falta de coragem. Quando relatei que não sabia como havia sido escolhida, já que não me inscrevi, Leila deixou claro que do mesmo modo achava ser uma grande oportunidade e não estava errada.

— Sei que está assustada, mas não importa o que aconteça, quero que saiba que sempre vou estar aqui. — confortou-me.

A abracei com o máximo de força que conseguia. Leila tinha cuidado de mim desde que nasci, fez isso com todo amor e eu era muito grata.

— Obrigada. — beijei sua bochecha.

— Venha, o almoço está pronto. — levantou e me puxou pela mão.

Seguimos até a cozinha e ajudei arrumando a mesa. Enquanto comíamos pensava em como sentiria falta daqui durante o período em que estivesse longe.

Ainda não sabia ao certo o que isso significava de fato em minha vida. O que mudaria nesse tempo fora e como seria quando saísse da Escola. Isso causava um frio gigante no estômago, como se houvesse um buraco negro. Uma sensação completamente nova, mas que teria que aprender a lidar.

À tarde, Leila saiu para trabalhar e aproveitei para ir à casa de um dos meus melhores amigos. Queria falar com Ryan e contar sobre a carta. Ele sempre foi meu lado mais racional e precisava disso agora.

Nós nos conhecíamos desde os quatro anos, quando entrei para a Escola Primária. Ryan diz que foi 'amor à primeira vista', já que no primeiro dia de aula mordi seu braço. Porém, havia uma justificativa, ele roubou o giz de cera que eu queria e isso era mais do que motivo naquela época. Depois desse acontecimento a professora fez com que fossemos dupla durante o ano todo e assim nos tornamos bons amigos, seguindo até hoje.

— Isso é bem estranho. — Ryan comentou sentado na cadeira em frente à mesa do computador.

— Isso já conclui sozinha. — revirei os olhos e suspirei baixo.

Ele girava na cadeira enquanto eu estava deitada de costas na sua estreita cama de solteiro. Já tinha contado toda a estranha história da carta e o grande conselho de Ryan foi: Siga seu coração.

— É sério lili, — levantou e veio deitar ao meu lado — Deixe as coisas acontecerem e veja no que vai dar. — ponderou — Às vezes é bom se arriscar em algo novo... Sair da famigerada zona de conforto.

Bati nosso ombro e dei um pequeno sorriso. Esse era o tipo de coisa que Ryan falaria.

— Obrigada, — agradeci e ele negou com a cabeça — Mas e você? Quais os planos? — o encarei, interessada — Ainda a Escola de Artes Volmart?

Volmart era uma escola de artes em geral, desde dança, música, canto, interpretação, entre outras tantas coisas. Nós tínhamos pensado em quem sabe ir juntos para lá. Ryan toca mais instrumentos do que minhas duas mãos juntas podem contar. Já eu, canto razoavelmente bem, dom herdado de minha falecida mãe, e sei tocar três instrumentos, que se resumem a piano, violão e flauta.

Quando era criança, Leila me colocou em uma das aulas complementares da escola. Elas eram no período inverso ao que estudava e em três dias da semana. Isso durou cinco anos e então quando tinha catorze anos tive que parar, pois mudei de escola.

Sangue Real  [✓]Where stories live. Discover now