Capítulo IV

1.6K 68 16
                                    

A gente pensa que certas coisas nunca acontecerão. Eu nunca pensei que namoraria alguém virtualmente. Assim como nunca pensei que essa pessoa poderia ser falsa, uma grande mentira, daquelas que você reza para que seja verdade. 

De uma forma ou de outra, de toda lágrima tire uma lição.

Eu tirei as minhas.

...

Era um sábado e eu estava esperando minha melhor amiga.

Quando ela chegou, abri o portão e a abracei  tão forte que podíamos ouvir nossos ossos estralando em sincronia.

— Acabei de chegar à casa da Mel! — disse ela com o celular próximo a boca. 

Puxei o celular e gravei outro áudio sem nem olhar para quem seria enviado.

— Chegou meeeeeeesmo!— gritei.

...

Sim, eu gritei. Sim, eu gravei um áudio. Um áudio. Gritando. Para uma pessoa que eu não conhecia. E sim, minha melhor amiga conhecia uma pessoa que eu não fazia a mínima ideia de qual buraco tinha saído. Doeu? Claro que doeu.

Dramática? Talvez um pouco.

...

Depois de muita conversa fiada sem mencionar a tal pessoa com quem ela estava falando, com quem inclusive eu tinha gritado, resolvemos tirar fotos aproveitando a luz da minha janela. Tiramos tantas fotos que já estávamos sem criatividade para poses, a única diferença entre uma foto e outra era posição da mão.

—  Acho que essa está boa para enviar  —  disse ela olhando fixamente para a tela do celular e depois para a minha boca quando meu sorriso que estava imenso foi se resumindo a uma expressão de "ai meu Deus".

Como assim e n v i a r?  pegando o celular da mão dela com aquele desespero nítido ao lembrar do áudio que eu tinha gravado, sendo que na minha cabeça eu só pensava em morrer várias vezes. Leãozinho? perguntei rindo, ao ler o nome do contato Com emoji e tudo, coraçãozinho, quem é esse hein, mocinha? falei, enfatizando a última palavra.  
 

— É um amigo, é gente boa, eu falei que estava vindo pra cá, por isso gravei o áudio avisando que eu já tinha chegado — disse ela.

...

Pelo menos foi o que eu acho que ela disse, porque naquele segundo eu nem estava mais respirando. O cara na foto não tinha nada de leãozinho, para ser mais específica nada que pudesse ser colocado no diminutivo.

Pausa para as lições:

Lição 1 — Olhar a lista de contatos da melhor amiga.

Lição 2— Nunca, jamais e em hipótese alguma, gravar um áudio para um desconhecido, principalmente se estiver gritando.

Lição 3— Não se enganar com o grau do substantivo diminutivo.

...

Eu vou te matar. Eu não acredito que eu enviei um áudio gritando parecendo uma hiena para esse cara.

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now