Optei por um frigobar ao invés da geladeira. Fiquei com medo de ter que escolher entre a cama e a geladeira. O apartamento é muito pequeno.

Mesmo querendo lavar os itens que foram entregues para mim antes de usar, não tive escolha, não tenho como dormir sem o básico. Deito na minha nova cama e, diferente do que imaginei, meu sono vem tranquilo e fácil. Estou adorando essa nova fase da minha vida. Uma fase onde eu sou a responsável pelos meus atos e a protagonista.

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Círculo mais um anúncio de emprego que eu acredito que posso me encaixar. É final de tarde de domingo, limpei todo apartamento, organizei minhas roupas, abasteci meu frigobar com frutas e sucos e estou deitada embaixo das cobertas. O dia lá fora não está convidativo, está nublado e com vento, pode chover a qualquer momento.

Meu celular toca.

Beto.

— E aí? — digo.

— Como foi a conversa com Ricardo? — Direto ao ponto.

— Não falei com ele ainda.

— Achei que seria a segunda coisa a fazer. Tem o teu apartamento, o que está te impedindo de ir até a casa dele?

Penso antes de responder.

— Medo.

— Isabel... como era mesmo o teu sobrenome?

Sorrio com a tentativa do Beto de parecer brabo.

— Arantes. E se a mãe dele me expulsar?

— Você acha que ele ainda está morando com os pais?

— Onde ele estaria morando? — pergunto, desconfiada.

— Na casa que era para ser de vocês após o casamento. — Beto fala com tanta certeza que me apavoro.

— Como você sabe?

— Foi para onde fui depois de ser largado no altar.

O silêncio que segue é sufocante. Não sei o que dizer.

— Domingo à noite é um excelente dia para aparecer na casa dos outros. — Beto quebra o silêncio. — Ninguém faz nada de produtivo no domingo à noite. Deixa de ser medrosa. Você já fez tanta coisa que precisava de mais coragem e iniciativa, não posso acreditar que vai amarelar agora.

— Droga! — Quero estrangular o Beto. Odeio quando ele tem razão. — Odeio quando você tem razão.

— Não odeia não. Você me ama! Tenho certeza que repetiu umas quatro vezes que me amava ontem no aeroporto.

— Não seja besta — repito as palavras que Beto me falou várias vezes. — Estou com medo.

— Eu sei, gata. Mas posso te falar uma coisa? Ele deve estar com mais medo do que você.

— Como tem tanta certeza? — pergunto, mais uma vez apavorada com a certeza que Beto tem sobre os sentimentos e ações do Ricardo.

— É o que sinto. Tenho um medo dos infernos dela nunca me procurar, mas fico apavorado cada vez que alguém bate na porta aqui de casa.

— Por isso teus amigos normalmente não batem?

Lembro que nos meses que fiquei por lá, as pessoas simplesmente invadiam o nosso apartamento.

— Coragem, gata. Vai dar tudo certo.

Beto finaliza a ligação.

Penso por pouco tempo, antes de levantar e começar a me vestir. Se pensar muito, nunca vou criar coragem.

Pronta para Casar - DegustaçãoWhere stories live. Discover now