The Woods

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Meu corpo balança e sei que estou sendo carregada. Ainda com os olhos fechados respiro fundo, em busca do cheiro mentolado de Jake. O cheiro é diferente... É uma mistura ardente, café e canela, um cheiro que eu nunca havia sentido em alguém antes. Eu estava sendo carregada por um estranho.
Abro um olho devagar. Está tudo escuro, não vejo nada. Pisco desesperadamente, tentando recuperar a visão, mas tudo o que consigo é uma onda de dor. Eu estou cega... Abro meu outro olho, que enxerga com um pouco de dificuldade e percebo que estou na floresta. Começo a cambalear, tentando me soltar dos braços de quem me carregava. A dor invade meu corpo e gemo.
"Pare de se mexer, menina boba" Uma voz calma, porém vazia, quebra o silencio deixado após meu gemido "Tudo o que vais conseguir dessa maneira é uma perna amputada e uma hemorragia, e não queremos isso, queremos?".
Sabendo que a pergunta foi retórica, paro de tentar escapar, mas sinto um arrepio percorrer minha espinha. Quem é esse homem e para onde ele está me levando? Por que ele me salvou?
Ouço uma porta abrir e madeira ranger. Os passos agora ecoavam em um piso de madeira. Meu corpo imóvel é colocado sobre alguma superfície gelada. O homem se aproxima de mim e posso ver seu rosto. Ele tem cabelos ruivos e olhos negros, que me penetram e me causam frio. Olhos da morte. Estava vestindo um moletom verde e chamuscado com capuz.  Suas mãos são grandes e arrancam minhas roupas devagar.
Memórias me invadem e começo a chorar.
"Por favor... Não..." Tampo meus seios nus com minhas mãos sangrentas.
"Shh" Ele pede silêncio, com o dedo na frente dos lábios "Não farei nada com você... Abra a boca" Ele segura meu maxilar e derrama um líquido em minha boca. Tem um gosto doce, me lembra de casa. Começo a sentir-me sonolenta e perdida. Fecho meu olho que está bom e espero algo acontecer.
Como que em uma anestesia, estou meio acordada. Sinto algo passando pela minha barriga, no lugar onde se encontra o ferimento causado pelo acidente. Sinto pequenos pedaços de caco de vidro serem retirados, um por um, de meu rosto. Sinto uma pancada em minha perna. Algo mexendo em meu olho esquerdo, sinto um puxão e meu corpo estremece. Sinto dor. Uma dor cortante que me faz querer gritar, mas estou incapaz de fazer qualquer movimento.
O procedimento continua por alguns momentos, até que sinto meu corpo ser carregado para outro lugar. Dessa vez, minhas costas dão de encontro com algo macio, como travesseiros ou um colchão.
Por que esse homem não me matou?
"Sei que está me ouvindo, então preste atenção, porque vou falar apenas uma vez. Não levante dessa cama, a não ser que sua vida dependa disso, entendeu? Vou atrás do outro... Procure não se mexer muito, troquei os lençóis hoje e não quero suja-los com sua hemorragia." As palavras soam secas, como o galho que ele havia quebrado com seus árduos passos.
"June, você não quer morrer" Penso enquanto o ouço sair "Você pode não saber quem é esse homem, mas ele salvou sua vida. Não confie, apenas obedeça.".
Abro meu olho direito e percebo que estou com um tapa-olho no esquerdo. Ainda me sentindo tonta devido à "anestesia" arrisco observar o ambiente.
A luminosidade no local é fraca, apenas com um lampião aceso. Presumo que estou em uma cabana, devido às paredes de madeira. Havia um criado-mudo do meu lado, com um abajur quebrado. Vejo também um machado atrás do criado-mudo, e sem hesitar, contorço meu corpo até minha mão alcança-lo. Sinto uma pontada na barriga e quase grito de dor. Coloco minha outra mão em cima do ferimento, que vejo estar com pontos e procuro sangue. Nada.
Coloco o machado junto comigo na cama, debaixo dos lençóis e respiro fundo.
Tento me lembrar do que aconteceu e minhas mãos gelam quando me lembro das palavras: "Vou atrás do outro". Penso em Todd, será que ele seria capturado? Ele me largou para morrer, seria uma pessoa a menos conhecendo seu segredo, menos uma família para seus pais sustentarem, menos um fardo para ele carregar.
Penso no homem ruivo que me salvou. Será que ele também salvaria Todd? Será que poderíamos ir pra casa? Minha cabeça dói e me sinto confusa.
A porta abre repentinamente e o rapaz ruivo entra. Aos poucos se aproxima de mim e pergunta: "Ele machucou você?" Olho em seus olhos, que parecem ler minha alma e tento negar, com lágrimas nos olhos. "Onde ele te machucou?"
"Agora" Penso e agarro o machado com força. O ataco com toda a minha força, lançando o machado em sua direção. Ele o segura pelo cabo e rapidamente dirá uma adaga de seu bolso e encaixa em meu pescoço.
Encaixando meus braços no seu, fico imóvel e sem palavras. Uma pessoa normal não teria tal velocidade.
Sinto outra pontada em minha barriga e solto o machado, que cai no chão.
"Onde ele te machucou?" Ele repete a pergunta, mas agora comigo imobilizada e com vergonha.
"Em todos os lugares" Digo baixinho, desviando o olhar. "Agora você pode me soltar, por favor?" Ele suspira e lentamente solta meus braços, tirando a adaga de minha garganta.
"Eu havia dito para não se mexer, sabe o que teria acontecido caso seus pontos tivessem aberto?" Ele se vira e vai até uma pia, de um lugar que parece ser a cozinha.
"Por que você me salvou?" Sento-me na cama e cubro meu corpo com a coberta que foi designada a mim.
"Se seus pontos tivessem aberto, você sangraria até a morte, e seria muita bagunça para eu limpar" Ele diz como se eu não tivesse perguntado nada.
"Por que estou aqui? Quem é você?"
Ele se vira para mim, com as mãos sujas de sangue e sorri.
"Você está aqui porque era pra ter só uma pessoa naquele carro."
"Como assim? O que você tem a ver com isso?" Tento ligar os fatores, mas minha mente não é capaz de estabelecer uma conexão entre os fatos.
"Já fez perguntas demais, vá descansar, amanhã o dia será cansativo."
"Não! Quando vou pra casa?" Digo, com lágrimas nos olhos, pensando em como meu irmão passaria aquela noite sem mim.
"Você ainda não entendeu? Está envolvida demais nisso. Você não vai pra casa, você é uma de nós agora." Ele sorri, como se fosse uma honra. Meu estômago fica embrulhado.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2016 ⏰

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