1. As Cinco Crianças

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  Dennis foi o primeiro a acordar.  —  Seus olhos estavam bem abertos, ele tinha certeza disso, mas nada enxergava, escutava ou sentia. Sua visão estava embaçada, mas Dennis tinha certeza que uma luz muito forte estava sobre seu rosto. Sentia-se estar acordando de um sono que havia durado uma eternidade. Então conseguiu mover seus pés, voltou a sentir suas mãos e a sua visão se reajustou. Se deu de conta que estava deitado numa maca, uma luminária cirúrgica estava ligada sobre seu rosto e um aparelho preso ao seu polegar estava medindo seus batimentos cardíacos.

 Alguma coisa grave deveria ter acontecido, ele pensou. Se sentia em um hospital, mas ainda usava suas próprias roupas. Olhou em volta e à sua direita viu uma garota bonita com mechas loiras no cabelo e um garoto negro, pequeno e gordinho vestido com um moletom branco, Alice e Pedrinho, ele os reconheceu e à sua esquerda, duas garotas, uma de cabelos castanhos compridos e a outra era mais nova com cabelo mais curto, sua prima Anna e a mais nova, a amiga dela, Carolina.

 Ver seus amigos também deitados em macas fez as perguntas surgirem: "O que realmente, aconteceu?", "Como viemos parar aqui?" e "Que lugar é esse?".

 Ele estava sonolento demais para se levantar, mas tentou observar o ambiente a sua volta. Não era um hospital, ele concluiu. Dennis viu um teto alto com lâmpadas fluorescentes, penduradas por fios elétricos, paredes cinzentas com rachaduras e manchas de infiltração, estantes de livros, caixas de metal que mais pareciam jaulas e bancadas com utensílios de laboratório. E havia também, outra pessoa acordada por perto, uma adolescente familiar, vestida com um jaleco, alta e com longos cabelos ruivos cacheados e Dennis também se lembrou do nome dela, Priscilla.

 Estava sentada lendo uns papéis sobre uma das bancadas, ouvindo música nos fones de ouvido. O volume devia estar no máximo, pois mesmo estando longe, Dennis podia ouvir a música muito bem... ou será que ele estava ouvindo bem até demais?

Ele não sabia, mas se sentia indisposto, não sabia o que fazer e queria ficar ali até o sono passar, mas algo lhe dizia que precisava pensar rápido. Ele olhou para o lado, Alice estava apagada, Dennis tentou acordá-la chacoalhando seu ombro.

 Alice desacordada gemia:

— Sai, mãe... hoje não tem aula não!

 Dennis chacoalhou o ombro dela mais uma vez.

— Ei... esse sapato é meu, devolve! — Murmurou a garota.

 Dennis sacudiu o ombro dela com força e Alice acordou atordoada.

— Estamos mortos?! — Alice franziu a testa — Onde nós estamos?

 Dennis pôs um dedo entre os lábios e fez:

— Shhhh, fale baixo — Dennis sussurrou e apontou para Priscilla — temos companhia aqui.

Aqui? — Alice sussurrou de volta — Onde nós estamos?

— Eu não sei, mas não estamos em um hospital, temos que sair daqui.

— E os outros?

— Aqui com a gente, desacordados ainda.

 Alice murmurou:

— Que ótimo — ela puxou uma parte de seus cabelos que estavam desgrenhados sobre o rosto  —, minha chapinha já era e o meu cabelo tá fedendo a vinagre!

— Acorde o Pedrinho, ele está bem aí do seu lado e...

O quê?! — Alice queria chorar — Por que tinham que me colocar logo do lado do asqueroso do Pedro?

— Acorda logo ele, vamos tentar ir embora desse lugar, enquanto só tem a Priscilla por aqui.

 Alice sorriu.

Feras Noturnas e a Chuva Mutante (Livro Um)Where stories live. Discover now