1. Porta-retrato

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"Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro acorda."

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Com as pernas bambas, o coração batendo em disparada dentro do peito, a boca entreaberta em total espanto e a pele tomada pela cor branca feito papel, levantei da cama onde estava e deixei que meus pés descalços encontrassem o tapete velho com desenhos egípcios de cores verde, vermelho, marrom e amarelado. Permaneci com um dos edredons enrolados em minha cintura enquanto observava todo aquele cômodo sem saber nem como reagir.

O labrador se encontrava ao lado de minhas pernas e balançava o rabo enquanto me olhava com seus olhos brilhando e a língua para fora. O choro de criança no quarto ao lado parecia mais estridente agora e pontadas em minha cabeça se faziam presentes. Eu tremia dos pés a cabeça, tremia completamente, e tentava processar o que estava acontecendo ao meu redor.

─ Amor, Jamie deve estar com fome. ─ O homem que entrara no banheiro gritou. Ainda estava com a ducha ligada, porém havia cessado com a cantoria. Virei para o lado que sua voz soava ainda com a boca entreaberta e os olhos arregalados. ─ Você precisa acordar. Não é hora para preguiça. ─ O rapaz que antes beijava minhas costas deu risada ao finalizar aquela sentença. Sua risada era estranha, muito estranha, do tipo esquisita beirando a bizarra. Parecia uma fungada profunda misturada a um espirro preso e franzi um pouco o cenho assim que pude ouvi-la.

No entanto, eu não iria ficar parado ali. Precisava me vestir. Precisava cobrir meu corpo ainda mais com uma criança morando naquela casa.

Uma criança!

Por Deus, o que está acontecendo?

Sem entender nem por um segundo o que estava acontecendo, fui procurar peças de roupas limpas, pois nem morto que vestiria aquelas que forravam o chão. Assim, abri um dos lados do guarda-roupa e rapidamente encontrei uma calça moletom que me servia assim como uma camiseta de banda de rock maior que meu corpo, meias, cueca e um tênis simples de marca desconhecida sujo de terra.

O choro de bebê aos poucos fora diminuindo e agradeci aos céus por isso. Minha cabeça latejava pelo som irritante e, por mais que eu não soubesse o que tinha cessado aquele barulho, torci para que a criança simplesmente tivesse dormido. O rapaz com cabelos ondulados parecia ter desligado o chuveiro, pois o barulho de água colidindo com o chão desaparecera também e me apressei a terminar de me vestir para sumir daquela casa antes que o homem saísse do outro cômodo.

Por sorte, vesti as peças de roupa rápido o suficiente para sair do quarto e me encontrar no corredor daquela casa, um sobrado de dois andares que parecia pequeno demais para a quantidade de indivíduos que o habitavam. Havia uma mesa cor de marfim perto da parede verde-clara e mais um tapete simples com detalhes azul, vermelho e marrom cobrindo o chão todo acarpetado. A passos cuidadosos e na ponta dos pés, fui me distanciando do quarto onde dormira e olhando ao redor com medo de que alguém pulasse em mim. Talvez eu estivesse participando de um reality ou alguma espécie de pegadinha de mau gosto.

Onde estavam as câmeras, afinal?

─ Apareçam seus malditos! ─ Tentei olhando para todos os lados como um verdadeiro maníaco, mas nada aconteceu. Ninguém apareceu saindo de trás de uma cortina ou de um dos outros cômodos do segundo andar. ─ Eu sei que vocês estão aí! ─ Arrisquei outra vez, porém bufei em frustração quando nada acontecera.

Dei mais alguns passos cuidadosos, evitando o ranger do chão, e assim que estava perto da escada, que se encontrava completamente coberta de brinquedos, vi uma movimentação em um dos quartos dali e virei a cabeça assustado na direção do vulto.

Strange Destiny (Larry Stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora