Capítulo 9

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Rosa aproveitou a hora do almoço para ir visitar Alda. Sabia da história assim por alto, pois sua colega tirara alguns dias de folga para estar em casa. Muitos não compreendiam Jamie, apenas apontavam e julgavam-na por ser tão fechada e cabeça dura. Até porque o ser humano era assim, era sempre o primeiro a apontar para o telhado do vizinho quando seu próprio era de vidro. Tinham compartilhado de uma amizade desde o início da faculdade de medicina, nenhuma exigia mais do que a outra poderia dar, mas a parte boa era que confiavam cegamente naquela benquerença.

— Alexandria?

Alexandrina.

— Alessandria?

A.le.xan.dri.na — Revirou os olhos impaciente, imaginava que uma clínica como a Dash & Dash tivesse no mínimo uma rececionista que soubesse soletrar nomes. Mas estavam nem aí, eram seis num longo balcão impessoal, protegidas pelo vidro duplo à prova de balas. Todas pareciam seguir o mesmo perfil, cabelos loiros amarrados num coque e auriculares mãos livres para atender as chamadas que não paravam de chegar. Meia volta trocavam alguma impressão lá dentro e se riam sem parar, como seis galinhas num chiqueiro.

Rosa engoliu em seco e sentiu a mão ficar inquieta pelo balcão de madeira lascada.

Hum. Hum! — Pigarreou sem conter a impaciência. Tinha pouco tempo para desperdiçar.

— Familiar? — A rececionista perguntou sem olhar para ela, digitava com as unhas compridas e parecia concentrada em qualquer outra coisa.

— Amiga de família — respondeu, e levou a mão para a cintura. — Será que podia se despachar? Não tenho todo o tempo do mundo.

— Minha senhora, nós estamos a trabalhar. — A loira respondeu por trás do vidro, e trocou um olhar indignado com as colegas, e todas levantaram as sobrancelhas e menearam as cabeças.

— É uma pena. — Uma mais ao fundo disse, alto o suficiente para demonstrar não se importar com as palavras. — O filho do Doutor Igor é lindo de morrer, mas só se dá com escumalha. Quando é que a clínica foi alvo de visitas similares?

— É mesmo. Você viu aquela velha moribunda? Nossa. Os médicos nem queriam trata-la, um passava para o outro. — Com um sotaque sulista e bem vincado, a do meio fez uma cara de quem comeu e não gostou.

— E agora temos de aturar esta gente? Quando vim a Dash & Dash foi pela fama dos melhores clientes de luxo — acrescentou outra.

Rosa bateu com a mão no vidro para lhes chamar atenção.

— Estão malucas? — O tom de voz cresceu e chamou a atenção de outros que estavam na fila. — Têm noção de que falamos a mesma língua?

— Quarto 23, Terceiro andar. — A que atendia ignorou os apelos com desdém, apenas lhe passou o crachá de visitante com o nome Rosa Alessandria. — Vocês são ignorantes por ofender clientes desta instituição, e ainda por cima sequer sabem interpretar uma soletração. Alessandria é a sua...

— Perdão. — Uma voz masculina soou por trás, e todas as rececionistas endireitaram as costas e arranjaram os cabelos.

Rosa se virou para dar de cara com um belo médico de sorriso malandro no rosto, camuflado pelo olhar sério. Os olhos azuis arrepiavam qualquer ser.

— Sou Daniel Winter, administrador da Dash & Dash. Poderia seguir até a minha sala para explicar o que está aqui a acontecer? — Sugeriu com calma e educação, segurando a jovem médica pelo braço, mostrando não ter opção. O importante era não fazer nenhum escândalo diante dos clientes.

Uma Nova Cor [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora