O fato de vir com móveis era bom e ruim. Bom, pois seria algo a menos para eu me preocupar e gastar. Ruim porque eram velhos, não necessariamente velhos, mas o fato de não serem limpos a um bom tempo fazia com que parecessem velhos e fedidos.

Abri a porta do quarto, único quarto do apartamento por sinal, e sorri ao ver que era pequeno, sempre gostei de lugares pequenos, afinal quanto maior mais bagunça cabe. E quando é pequeno, não se tem liberdade de bagunçar. Algo que sempre faço inconscientemente, e só percebo quando já não tem espaço para andar.

Depois de andar pelo imóvel inteiro, o que não foi difícil já que era minúsculo, joguei-me no sofá, que foi a única coisa que consegui limpar até aquele momento. Deitei e fechei os olhos, pensando em como seria as coisas, em onde procuraria emprego, em onde procuraria o curso de moda, ou jornalismo. Eu já tinha pensado em tantos cursos que nem sabia mais o que fazer.

Decidi começar a limpeza e a organização, sempre recorri para limpeza quando me sentia perdida ou confusa, limpar sempre me distraiu, e distração é algo que seria bom agora. Comecei pela cozinha, depois sala, banheiro e por fim quarto. Limpando, lavando, secando, enxugando e guardando minhas coisas em seus possíveis lugares.

Se minha tia estivesse aqui, com certeza já teria ligado o rádio e feito a brincadeira de sempre, sobre eu parecer à gata-borralheira sempre que decido fazer dia da limpeza.

Já no final da noite, o lugar já estava mais aconchegante e cheiroso, com um pouco de meus objetos em cada lugar, fazendo com que eu me sentisse o melhor possível em um lugar, que até depois da limpeza e organização não parecia um lar.

Levantei indo para cozinha, preparar um chá ou talvez pegar um vinho.

Antes de embarcar no avião, eu e minha tia ligamos pra um mercado, que entregava as compras em casa e fizemos uma lista com coisas que eu sabia que não iria comer, mas não tenho certeza de ter incluído bebidas alcoólicas, algo que agora seria muito bom.

Comemorei ao abrir a geladeira e ver a garrafa de vinho, realmente não sabia como não me lembrei de ter a guardado, me preocupei tanto em por tudo em seu devido lugar que acabei não me preocupando em como arrumei a geladeira. O que me deixou bem triste vendo tamanha desorganização.

Deite-me no sofá e me cobri com a coberta que minha tia me deu assim que me mudei para a casa dela. Era uma ótima coisa pra me lembrar de casa naquele momento. Liguei a TV no Discovery Investigação, era bom ver como tinha coisa muito pior do que mudar de cidade.

Estava quase dormindo enquanto passava o caso de uma mulher que matou o marido por ciúme da filha,
quando sou interrompida por batidas pesadas na porta.

Levantei-me insegura, ou os vizinhos eram amigáveis iguais ao guarda do aeroporto, ou era um golpe de alguém querendo me assaltar, minha tia tinha lido muito sobre isso nos meus últimos dias com ela e fez questão de repetir mil vezes para não abrir a porta para alguém que não convidei. Caminhei até a porta tentando afastar do pensamento as idéias malucas de minha tia.

- an...oi?- cumprimentei a senhora que estava em minha porta, parecia simpática, mas a velinha que deu a maçã pra branca de neve também parecia simpática e olha só que aconteceu.

- Sou Lucinda. - Ela sorriu de forma acolhedora me olhando com seus grandes olhos verdes. - Só queria te conhecer e falar para se sentir bem-vinda. - Ela começou a falar dando a impressão de que tinha planejado aquelas falas a um bom tempo. - Claro que queria ter certeza que você era uma pessoa boa também, a última pessoa que morou aqui era drogada e me lembro, muito bem, das várias vezes de que vieram cobrar dinheiro dela, era muito incômodo - ela disparou sem nem respirar direito e sem tirar os olhos de mim também. - Graças ao bom Deus ela foi embora para uma clínica e nos deixou em paz.

 Mudança faz parte, reviravoltas a parte.Where stories live. Discover now