Fiquei em silêncio. Estava atordoada demais para falar alguma coisa. Não estava querendo acreditar que Will queria me poupar apenas porque estava grávida.

— Ele está respirando com a ajuda de aparelhos, mas está estável. Os médicos falaram que ele vai ficar bem.

— Alguém contou a ele que Izzie nasceu?

Nathan engoliu em seco, depois sorriu.

— Sua mãe tentou falar quando esteve aqui, mas ele estava meio grogue e não entendeu muito bem — murmurou. — Aliás, parabéns.

Não consegui agradecer.

Coloquei as mãos sobre o apoio de braços da cadeira de rodas e tentei ficar em pé, mas antes que eu tirasse o traseiro do acento, senti uma mão de cada lado dos meus ombros, pressionando-me para baixo.

— Ei! — exclamou o enfermeiro que me acompanhava. — Você prometeu que não iria sair da cadeira, Srta. Traynor!

— É, sou uma mentirosa — retruquei, tentando me levantar.

— Eu vou chamar a Dra. Montgomery!

— Até ela chegar aqui, já vou estar de pé.

E de repente, minha cadeira girou até que eu ficasse de frente para o enfermeiro. Não me dei ao trabalho de erguer o rosto para encará-lo. Segundos depois, o mesmo se abaixou até ficar com o rosto da altura do meu.

— Você. Não. Tem. Escolha.

Estreitei os olhos para ele, que retribuiu com o mesmo olhar desafiador. Eu não queria entrar naquele quarto em cima dessa cadeira de rodas. Primeiro porque não queria preocupar Will e dar a impressão de que não estava bem. Segundo, porque eu não queria meu marido se lembrasse de imediato que a culpa por ele estar internado nesse instante era exatamente sua lesão que o deixava numa cadeira parecida com essa.

— Meu marido está neste quarto, bem na minha frente — falei, apontando a porta entreaberta com o queixo. — Eu não o vejo o dia inteiro. Acabei de ganhar um bebe e ele não estava lá. Inclusive, ele não consegue nem respirar sozinho agora. Eu vou dar apenas alguns passos até chegar nele. Não vou cair e nem morrer. Ah, e caso eu me machuque, não vou culpar você. Digo para todos que eu sou uma completa idiota e teimosa.

— Se minha monitora pediu para eu não deixa-la andar, eu não vou deixa-la andar.

Irritada demais para continuar brigando com aquele enfermeiro de expressão esnobe, coloquei as mãos nas rodas e as impulsionei para a frente, fazendo-o se desequilibrar e cair no chão. Não me importei em desviar dele. Em um piscar de olhos, quando percebeu que eu iria mesmo passar por cima, ele rolou para o lado e saiu da minha frente. Coloquei a mão no trinque da porta do quarto de Will e, antes de entrar, ouvi o enfermeiro me chamando de maluca e, ao fundo, uma risada abafada de Nathan.

E lá estava ele, deitado sobre o leito. Os vários aparelhos que o rondavam faziam vários bips irritantes que me davam vontade se soca-los. Seus cabelos estavam arrepiados e metade do rosto estava tampado por uma máscara de oxigênio. E mesmo de longe eu podia ver sua pele pálida. Fechei a porta atrás de mim e impulsionei a cadeira de rodas para frente, parando somente quando cheguei ao lado do leito. Apoiei minhas mãos sobre o colchão macio e, mordendo os lábios com força, fiquei de pé. Por um momento pensei que teria que me sentar mais uma vez para me recompor. Tinha impressão de que os analgésicos que haviam me dado estavam perdendo completamente o efeito. Uma dor começou a surgir lentamente em minha barriga e na minha região intima.

Mas respirei fundo e me concentrei apenas em Will, ignorando todo o resto.

Seus olhos estavam fechados suavemente e uma serenidade exalava de seu rosto. A boca, esbranquiçada, estava fechada. Ali pude ver que nossa filha herdara o mesmo formato da boca do pai. Passei a mão por seus cabelos lisos, sentindo meus dedos se enterrarem por entre os fios macios. Aproximei meu rosto dele, sentindo seu cheiro de pertinho. Mesmo com todo o cheiro de Hospital e um leve aroma de desinfetante, seu perfume ainda estava presente ali. Doce, mas marcante. Tão viciante que eu duvidava de que eu poderia viver sem.

Como Eu Era Antes De Você - Cinco anos mais tardeWhere stories live. Discover now