Capítulo 8

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Chegamos no hospital no começo do dia, Verônica está em estado de choque, chorando e amaldiçoando a hora em que conheceu Gabriel, permaneço ao seu lado incrédula e sem reação. Meus pensamentos se dividem entre passado e presente, entre dor e medo e sinto que vou sufocar a qualquer momento. Sou obrigada a dar tudo de mim para não sair correndo do hospital, o cheiro, o silêncio dos corredores, o barulho das máquinas e até mesmo o bater de portas mexem com meus nervos.

Os pais de Verônica quebram a tranquilidade do lugar quando chegam exigindo explicações, Doutor Denis, amigo de Vinicius explica pacientemente a eles tudo o que aconteceu. Ainda estou assustada com a brutalidade com que Vinicius foi agredido por Gabriel e seus amigos. O resultado foram duas costelas quebradas e alguns hematomas, nada grave, mas o suficiente para tirar seus pais da cama bem cedo e faze-los dirigir até aqui.

O telefone de Verônica não para, e assim que chegamos em casa consigo faze-la tomar um calmante e silencio o aparelho, as mensagens chegam a cada minuto e contra isso nada posso fazer. Verônica adormece e aproveito para dormir também, o telefone toca novamente, a vibração faz o aparelho deslizar sobre o criado mudo, acordo alarmada e percebo que já passa das duas da tarde. Atendo a ligação, é a mãe dela mandando noticias de Vinicius e pergunta da filha, ela está preocupada, o pai está uma fera. Os pais de Verônica são muito tradicionais e ter o nome da família Becker jogado na lama por causa de uma noite na cama de um cara como Gabriel é quase tão ruim como ser preso. Talvez se Verônica tivesse sido presa seria melhor, o dinheiro compra quase tudo, menos a fama de uma garota falada.

Eu não conheço Gabriel, tudo o que sei sobre ele ouvi falar da boca de Verônica. Estudante do sexto semestre da turma de Engenharia Civil, rico, mimado, irresponsável, cafajeste e covarde. Isso é tudo o que eu sei, e o suficiente para que eu o odeie.

Sento-me ao lado de Verônica, observo seu rosto tranquilo em um sono provocado por medicamentos. Sei por experiência própria que ela dormirá grande parte do dia. Conheço como ninguém o poder do esquecimento que dei a ela, o calmante a afastará da tristeza e decepção por um bom tempo e isso é tudo o que posso fazer por ela no momento. Perco-me em lembranças que na grande maioria das vezes evito pensar, a sensação de confusão por estar dormindo a dias, o medo, o sufocamento causado pela necessidade de se esforçar para fazer algo mesmo sabendo que é incapaz de faze-lo.

O barulho da campainha me trás de volta a realidade, sinto meu coração descompassado, respiro fundo algumas vezes mantendo o controle dos meus nervos e abro a porta. Dona Marilda está do outro lado, os mesmos olhos azuis de Verônica, mas a mesma beleza desconcertante de Vinicius.

- Como ela esta? - Dona Marilda pergunta ao entrar sem nem ao menos me dar bom dia.

- Esta dormindo.

Fecho a porta e vou para a cozinha preparar um chá para mim. Dona Marilda vai ao quarto e volta minutos depois sentando-se no sofá e apoiando o rosto nas mãos.

- Aceita? - estendo a xicara de chá para ela. - É de camomila. - Ela recebe a xícara e toma um gole.

- Como ele está? - pergunto sentando- me ao seu lado.

- Eu não tenho certeza, acho que ele está bem... Meu filho está estendido em uma cama todo machucado, seu rosto está inchado... - ela não consegue terminar de falar, a voz embarga e ela olha para fora, através janela, como se chorar fosse algo feio.

- Verônica não está muito melhor, ela chorou a noite inteira e...

- Verônica causou tudo isso. - ela diz e sinto a raiva em sua voz.

- Isso não é verdade. - defendo minha amiga. - Não é culpa dela se um idiota diz essas barbaridades.

- É culpa dela a partir do momento em que entrega seu corpo como uma prostituta.

Meu Erro - Serie Segredos - Degustação Onde as histórias ganham vida. Descobre agora