Capítulo 18

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Corri para o closet e peguei a primeira roupa que vi pela frente. Saí pela porta ainda cambaleante, mas completamente refeita do porre. A adrenalina fez o álcool evaporar. Os meus sentimentos ficaram mais aflorados e a raiva só aumentou no pós-sexo. Pedi um táxi por um aplicativo de celular e saí daquele apartamento como se estivesse me libertando de uma doença.

No caminho até em casa eu não consegui me segurar e chorei solto no carro. O indiano que guia o veículo se manteve calado durante todo o percurso e de vez em quando me olha com tristeza pelo retrovisor. Ao parar em frente ao apartamento só consigo dizer um "obrigada. E desculpe pela cena".

Ele devolve o pedido de desculpas com um conselho, apesar da extrema timidez: senhora. Nada vale este sofrimento.

- Me desculpe...mas não sei se você tem como me entender. Acho que o que tenho vivido é tão intenso e diferente que vale sim esse sofrimento. Obrigada. Obrigada mesmo pela preocupação.

Eu entro no apartamento e não posso deixar de sorrir. Só mesmo Nova York nos oferece essas coisas. Um taxista que veio de outro lado do mundo, um homem culto que está aqui se sujeitando a trabalhar como motorista para ir atrás do seu american dream.

Corri para o quarto, pois não quero que ninguém me veja tão destruída emocionalmente, e me deitei na cama praticamente desmaiando de tanto sono. Acordei no dia seguinte com o telefone vibrando sem parar na mesinha de cabeceira. Certeza que é Antony, tentando falar comigo porque já se deu conta que eu não dormi na sua CAVERNA. E deve estar maluco por causa disso. Engula essa merda de celular seu paspalho. Minha raiva não passou ainda.

Melhor eu me apressar porque não pretendo falar com ele por agora e sei que é capaz de vir bater aqui em casa. No meu coração eu tenho certeza que Antony não transou com nenhuma puta. Mas eu não quero aceitar essa lama do mundo dos endinheirados.

Levanto da cama, tomo uma ducha fria para colocar os miolos no lugar e saio para a sala. Encontro apenas Alexandre na cozinha usando uma roupa de astronauta ou algo que o valha.

- O que é isso Alexandre?

- O que? Ahhh, a roupa. Eu vou participar de um curta-metragem onde um alienígena invade a terra.

- E o que você está fazendo já vestido de ET de Varginha dentro de casa? Buscando a essência do personagem?

- O pessoal vai chegar logo logo para a filmagem.

- Você deve estar querendo me dizer que a locação será aqui em casa.

- Iremos receber pelo aluguel do espaço.

- E quando este dinheiro vai tilintar no cofre mesmo?

- Assim que o curta fizer sucesso.

- Já posso comprar a prestação por conta dessa fortuna, então.

- Menos cética e mais otimista. É possível?

- Mudando de assunto para inspirar o otimismo: cadê o seu filho?

- Está com o Tulio numa festa de brasileiros na 46. Um esquenta do Brasilian Day.

- É para lá mesmo que estou indo. Pois se já está difícil encarar a vida só com os terráqueos, imagine como será ter que introduzir um Povo de Marte ao pacote.

Coloquei uma calça de lã bem justa e uma blusa bege esvoaçante por cima. Completei com um casaco e parti atrás da galerinha depois de checar com Tulio onde exatamente eles resolveram ficar.

Assim que avistei o grupo de longe percebi que o meu filhinho, aquele que eu troquei fraldas, ensinei os primeiros passos e vi aprender a ler e escrever, está abraçado, do tipo amorzinho, com uma garota.

Óleo de PrímulaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora