Capítulo 14

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- Éeeee...estamos falando de um ex-marido também, certo?

- Claro! Ex-marido há milhares de anos...luz.

Ele me olha longamente. Vira para o lado, passa a mão na nuca e volta a me fitar. Está abalado, escolhendo as palavras. Por fim, passa as mãos no cabelo e diz:

- Eu...eu posso dar uma processada na informação para depois conversarmos melhor?

- Pode. Não sei se melhora minha situação, mas meu filho já sabe que você existe.

Ele sacode a cabeça um pouco como para ter certeza que a conversa foi real e resolve tomar uma decisão:

- Vamos sair daqui.

Antony já tinha resolvido a logística do carro e me conduz até um dos estacionamentos. Entramos num veículo alugado e ele assume o volante, após me acomodar no banco do passageiro.

Seguimos quietos e fico imaginando o que se passa na sua cabeça. Será que está usando esse silêncio para tentar me entender ou está juntando fatos para me condenar? Percebo que ele está tomando o caminho da minha casa e tudo indica que vai me deixar na porta e seguir sozinho; direcionando sei lá para que lado o impacto dessa notícia.

Mas ele faz uma manobra brusca, entra numa passagem em direção à área residencial do Bairro Jamaica, e freia numa rua onde há casas simples e arborizadas.

- Você me falou que queria ter filhos, por que não aproveitou para dizer que já tinha um?

- Aquela noite na sua casa, não é? Pois é, na verdade, eu estava tentando te falar sobre meu menino, o Thomas. Mas você entendeu tudo errado. Não que eu não queira aumentar a família. Na verdade, não quero. Na verdade mesmo, nunca pensei a respeito e não tenho opinião formada...desculpe. Eu estou nervosa e não consigo dizer nada que tenha a mínima lógica.

- Andrezza, eu só fiquei surpreso com a notícia, ok? Mas não estou assustado. É que eu não consigo entender porque você permaneceu com esse segredo tão guardado. Você tomou uma decisão deliberada de me esconder esse assunto.

- Foi covardia mesmo. Eu não queria te perder e, com o tempo, foi ficando cada vez mais esquisito te contar essa história de um jeito banal. Até mesmo agora, quando consegui falar, soou esquisito. Não tem nada de errado na minha vida com meu filho. Eu já te disse e repito. Ele é a coisa mais preciosa que tenho na vida. Mas eu consegui me enrolar tanto com isso que, mesmo agora, quando enfim consegui abordar o assunto, estou me sentindo assassina confessa de um crime premeditado!

- Olha...estou fazendo um exercício absurdo para tentar me colocar no seu lugar. Você pisou na bola muito feio.

- Eu sei. Eu sei. E me amargurei todos os dias por causa disso. Mas tenho que te confessar que estou muito aliviada, de um jeito que não me sentia desde que você entrou naquele maldito avião rumo ao Japão. Eu não sei lidar com mentira e estava angustiada com a minha omissão.

- E eu odeio mentira Andrezza!

- Eu também. Acabei de te falar isso. Não gosto e nem tenho mais idade para ficar de nhenhenhén.

- Nhenhenhén?

- Éeee...

- De que dicionário saiu essa palavra?

Ele não se aguenta e começa a rir.

- Prefiro ver você rindo de mim do que enfrentar o seu olhar de decepção.

- Não é para tanto. É claro que eu estou achando essa revelação uma novidade maluca. E te peço até desculpas pela reação fria que tive. Dá para perceber que estava sofrendo um bocado com esse segredo. Na verdade, eu estou te achando uma tontinha. Não mudaria nada termos conversado a respeito, percebe? Quero que saiba, que tenha certeza, que eu estou na sua vida plenamente. Faça o favor de começar a ficar mais à vontade nessa situação. Vem cá e me dá um beijo.

Óleo de PrímulaWhere stories live. Discover now