Capítulo 9

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  Fui aquecer-me depois que troquei de roupas, faltavam uma hora para o início, mas todos já estavam prontos e a bilheteira, aberta. Eu usava collants brancos, e um suspensório para erguer as asas que eu usava, no mais era uma calça com detalhes em azul. Eu parecia mesmo um pássaro do inverno.

  Ainda não havia visto Alex, e não sabia se ficava aliviada ou mais apreensiva. Eu queria deixar-me levar, aproveitar o que a vida me ofereceria, mas minha primeira decepção ainda me afetava. Contudo, enquanto as coisas fossem leves em relação a nós dois, tudo estaria bem.

  Meus pensamentos foram tomando outros rumos e eu tratei de repreendê-los antes que chegassem definitivamente em Thomas. Agradeci aos céus quando ouvi meu celular tocando sobre minhas sapatilhas. Fui até ele e no pequeno ecrã li o nome: "Professora Irina". Era minha antiga professora, ligando para confirmar. Respirei calmamente aceitando que eu devia fazer aquilo e tirar aquela sensação de ansiedade ou seja lá o que fosse de dentro de mim.

  — Ellie Laurent? — Chamou e mesmo sem vê-la podia imaginar o sorriso em seu belo rosto negro.

  — Eu mesma, tia Irina! — Brinquei, chamando-a da mesma forma que a chamava quando eu fazia parte da sua turma de ballet.

  — Eu olhei meus horários e poderia encaixar sua garotinha três vezes por semana, tanto de manhã quando de tarde para não atrapalhar os estudos dela, assim como nós sábados no período da manhã. — Contou-me e eu suspirei. — Algum problema?

  — Não, Irina. Eu vou passar seu contato para o pai dela, okay? Aí a senhora resolve com ele. — Falei largando as hastes de trapézio¹ baixas e indo até o armário do canto para pegar minhas fitas. Coloquei o celular entre meu ouvido e meu ombro.

  — Certo, querida! Aguardo o retorno dele.

— Tenho que ir, tia. Não se esqueça de aparecer em um evento do Arakluz para me ver, hein?! — Sorri tomando em mãos as fitas vermelhas e brancas.

  — Tudo bem! Conseguirei aparecer aí ainda este mês. — Prometeu.

  Desligamos em seguida e eu fiz um rápido treino com as fitas, antes dos outros acrobatas que iam fazer o conjunto comigo aparecerem para o treino geral. Logo depois o aviso de que o espetáculo começaria foi ouvido. No meu último ato de coragem, peguei meu celular busquei pelo número que queria e envei a mensagem.

  "Esse é o número da melhor professora que tive, espero que a pequena Susan goste tanto dela quanto eu.
Boa sorte com seu pequeno anjinho.

Ellie."

Enviei e encarei o celular por alguns segundos. Pronto, não é? Já tinha feito o que eu havia prometido... mesmo assim continuava com algo me corroendo por dentro. Que merda!

  Guardei meu celular correndo no camarim e voltei até atrás das cortinas, a maioria dos artistas estavam por lá. Agradecendo minha altura mediana, procurei Alex com os olhos.

  Queria aproveitar o restinho de coragem que me sobrou. Meus olhos caíram sobre os deles que pareciam que já me encararam há algum tempo. Ele fez um sinal, me indicando a outra área da lona e eu acenei positivamente com a cabeça.

  Desviei de algumas pessoas até chegar na área da lona onde ficava alguns equipamentos. Olhei para os lados e não encontrei Alex. Murmurei seu nome para que os outros que estavam na concentração não me ouvissem.

  Em segundos meus olhos foram cobertos por grandes mãos quentes e eu sorri. Ele se aproximou e falou baixinho ao meu ouvido:

  — Pense num número de 1 a 31.

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