Vida

capítulo 2

Depois de mais de uma década o empresário Matheu Lourenço voltou para a cidade onde nasceu e cresceu.
Lugar onde se encontra boa parte da sua família, seus pais, irmãos e alguns tios. Durante o tempo em que esteve fora veio algumas vezes visita - los, mas sempre ia embora de novo, para a tristeza de sua mãe, que sonhava ter os filhos sempre perto mesmo com a maioria morando fora da cidade. Mas dona Augusta nunca perdia a esperança.

Enquanto estacionava o seu SUV branco ao lado da praça, deu um sorriso de lado e pensou - dessa vez vai ser diferente, vim pra ficar.

Foi rumo ao supermercado para comprar algumas coisas que estava precisando.
Tinha acabado de chegar de viagem e sua dispensa estava vazia, embora sua casa estivesse limpa e organizada, obra de sua mãe e sua irmã Maria - com certeza - pensou.

Enquanto escolhida o que iria levar podia sentir o olhar de algumas mulheres sobre sí, não dava importância a isso, tinha consciência de ser um homem bonito. Sabia que as mulheres se sentiam atraídas pelo seu corpo de ombros largos e porte atlético, com quadris estreitos de braços e pernas um pouco musculosos, já que não gostava de corpo bombado.
Tinha também o seu rosto de traços firmes que muitos diriam que era lindo, era descendente de índios, por isso tinha o cabelo extremamente liso e escuros, assim como os olhos que eram um pouco puxados nos cantos.

Hoje depois de homem adulto não gostava mais de tirar proveito de sua aparência, estava cansado de mulheres que se aproximavam dele só por o considerarem bonito ou por causa de seu dinheiro - é claro - racionalizou de forma cínica.

Estava cansado de relacionamentos vazios, como o último que teve, hoje com quase trinta anos não queria mais viver assim ou o melhor seria não se envolver com ninguém, embora fosse difícil para um homem ficar muito tempo sem uma mulher para aquecer sua cama.

Depois de pagar as compras foi rumo ao automóvel colocou tudo no banco do passageiro e deu a volta para entrar, mas antes se detevi para olhar a praça, cartão postal da cidade, com seus bancos de madeira pintados de branco.
Viu um grupo de jovens reunidos em um deles e lembrou quando também fazia isso, para conversar com seus amigos, para paquerar as garotas e também namorar e sem esperar se pegou pensando na última namorada que teve antes de ir embora dalí.

Ela era uma negra linda, daquelas pessoas que sorria com os olhos, olhos escuros e misteriosos mas que quando queriam dizia tudo, tinha uma boca desenhada de lábios carnudos que quando ria era como o sol descortinando - se das nuvens, o seu sorrido iluminava tudo. Tinha um corpo de dar inveja a qualquer mulher mesmo sendo muito nova ainda, o que chamava a atenção dos homens e que prendeu também a sua, mas mesmo que ele tenha tentado não conseguiu seduzir, diferente de muitas que viviam à se oferecer.

Imaginou como estaria depois de tanto tempo, comum seria quando se encontrassem, qual seria sua reação, mas talvez isso nem acontecesse - pensou.
Aprumando a coluna voltou para o carro, deu partida e saiu mas não antes de um pensamento o alcançar.
Será que ele realmente havia superado a desilusão, como tanto queria acreditar, será que ela ainda tinha algum efeito sobre ele mesmo depois de tudo.

E ele mal sabia que todas as respostas estariam esperando por ele no dia seguinte na empresa que agora era sócio.

No dia seguinte quando passava pelo corredor da empresa, rumi a sala da presidência, viu pela porta entreaberta de uma sala uma mulher, estava de cabeça baixa concentrada estudando alguns papéis, mas mesmo assim ele sabia que era ela, era impossível que ele não à reconhecer.

Pelo pouco que viu percebeu que ela havia crescido, tinha se transformado em um mulher linda, percebeu também que sentiu saudade.
Sentiu o sangue ferver ao pensar que iriam trabalhar juntos, que iriam conviver depois de todo esse tempo e principalmente a o ver que não tinha superado por completo a sua atração por ela.

Chingando baixinho, saiu pisando duro rumo ao seu destino.