— Você é a única pessoa que eu conheço que está de folga e não tem nada para fazer.

— Infelizmente. — riu. — Não posso fazer nada, chorar não vou.

— E não deve.

Anastásia tomou a bacia com batatas da mão de Feodora e se sentou onde estava anteriormente. Começou a descascar as batatas devagar para não cortar os dedos, isso sempre acontecia com ela. Com passar do tempo, foi pegando a prática e descascando mais rápido. Quando estava na última batata, notou um silêncio repentino na cozinha.

Seus olhos pousaram em Dimitri que estava na porta cozinha procurando por alguém, quando seus olhos bateram nela, começou andar em sua direção. Estava com a expressão mais cansada do que havia deixado há poucas horas. Ele sentou em frente para ela e respirou fundo.

— Diga-me alguma coisa boa.

— O que aconteceu? — colocou a batata e a faca em cima da mesa.

— Receberam uma pista da onde Ivan Tchaikovsky pode estar. Meu pai não quis permanecer no palácio, ele foi junto com os guardas. Isso me dá um medo exorbitante. Eu não quero perder meu pai.

— E quem disse que vai perder? — pegou a mão dele que estava em cima da mesa. — Deus está ao lado dele, o guiando e protegendo. Tudo dará certo, e se essa pista estiver mesmo certa, sua mãe e sua irmã serão vingadas.

— Você tem razão. — sorriu. — Minhas irmãs estão uma pilha de nervos, meus irmãos estão trancados nos quartos. Minha madrasta está com os sobrinhos preocupados. É tão absurdo ter medo de apenas um homem, mas vêm as lembranças do que somente um homem pode causar.

— Quando se tem Deus ao seu lado, nada é impossível. Dimitri, não seja tão negativo. Pense que seu pai vai voltar com esse monstro, e fará a justiça com o assassino da sua mãe, e possível assassino da sua irmã também.

— Eu não sabia que você era tão apegada à religião.

— Digamos que eu frequentava a igreja algumas vezes. Eu sempre gostei de ouvir a palavras de Deus, me trazia conforto. Quando as coisas estavam ruins para mim, as palavras da bíblia me traziam algum conforto.

— Obrigado por essas palavras.

— Por nada. — apertou a mão dele. — Sinto algo fraterno por você. Como se fosse um irmão, não sei bem explicar.

— Sinto a mesma coisa, Anastásia. — devolveu o aperto na mão. — Acho que eles nunca esperavam o czarevich sentado na cozinha conversando com uma dama de companhia com tanta intimidade. Alguns vão até pensar besteira.

— Como se eu me importasse. — ela deu uma risada. — Feodora! Terminei aqui.

— Pode deixar em cima da mesa, eu pego depois. — respondeu do outro lado da cozinha.

— Vamos para os jardins?

— Estão todos proibidos de irem para lá. Lamento.

— Entendo. — mordeu os lábios. — Tem uma coisa que quero lhe mostrar, talvez possa me ajudar.

— E o que seria?

— Prefiro que veja, não quero ficar falando sobre isso para todos.

— Entendo. Podemos ir ver isso agora?

— Claro!

— Alteza, Sua Majestade pede para que a encontre no salão principal. — o mordomo dele chegou de repente. — Srta. Tchecova.

— Sr. Morozov. — assentiu com a cabeça. — Acho melhor o senhor ir.

— Eu queria ver...

— Depois. — olhou para ele decidida.

— Entendi. — levantou-se. — Obrigado mais uma vez.

— Estarei aqui sempre que precisar conversar, Alteza.

— Certo, Annie.

Annie?

— Apelido carinhoso que eu chamava minha irmã. — piscou para ela e foi embora com o mordomo.

Ivan estava bebendo água na cozinha quando notou barulho de automóveis; não era comum naquela região chegar carros, pois eram pessoas muito pobres. Colocou o copo dentro da pia e foi para sala observar o que estava acontecendo do lado de fora.

Quando os guardas começaram a descer dos automóveis, aquilo chamou sua atenção. Com absoluta certeza estavam procurando por ele, nada os levaria até ali se não fosse por isso.

Maldição, praguejou irado.

Começou a subir as escadas para ir ao seu quarto. Vestiu várias roupas, calçou sua bota mais pesada, e desceu novamente. Pegou a arma que estava em cima da sua velha poltrona e colocou na cintura. Abriu a porta da cozinha e fechou devagar. Andou depressa em direção à floresta que ficava próxima dali.

A todo o momento olhava para trás para ver se alguém o vinha perseguindo. Como sempre pensou que um dia seria descoberto, construiu um casebre de madeira para caso esse dia chegasse. Abriu a porta com força, trancando logo depois.

Sentou-se no chão para a respiração voltar ao normal.

— Maldito Tchecov. Isso não vai ficar assim.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now