Capítulo 2

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DEZ ANOS É UMA VIDA...



SAMANTHA

Dez longos anos sem ver essa cidade me deixam nostálgica. Nós cortamos as ruas e minhas lembranças são doces e lindas, passada em uma época que nada era mais importante do que ter a tarde livre e as noites preenchidas de amor e sexo selvagem com meu grande namorado. Carl O'nell. O que ele faz agora? Tenho pavor de pensar que ele me esqueceu ou, pior, se ainda me odeia. Não o culpo. Também me odeio.

Sua mensagem no meu celular, dias depois que enviei aquela carta, fez-me ver o quanto o magoei.

— Ainda acho arriscado você sair assim, sozinha — Zara está falando e falando, porém tudo se perde diante da sensação de estar de volta em casa, que estou sentindo. A urgência que tenho dentro de mim só aumenta. — Não esqueça que aqui você não está totalmente segura, não ache que os problemas acabaram.

Isso me chama para realidade. Sim, fazia pouco mais de um mês que os e-mails não chegavam. Isso me deu certa tranquilidade.

— Tenho uma mensagem de Pietro perguntando sobre o voo e se chegou bem — Zara não para de digitar na maldita coisa. — Devo responder em seu nome?

— Por favor —digo sem entusiasmo. Pietro era um dos meus amigos mais chegados, mas essa insistência dos fofoqueiros de plantão transformou isso em algo mais, me chateia sobremaneira. Tive apenas um namorado durante esses últimos dois anos, antes estive muito ocupada sendo a pianista de sucesso que eu sempre quis ser. E apesar de tentar com Anton, não tive sucesso, depois de seis meses de namoro o inglês desistiu de tentar me fazer amá-lo. Eu tentei, juro, mas eu não consegui me entregar a nossa relação. Vinte oito anos e apenas respirei música e mais música deixando tudo para trás e agora que estou no topo a insatisfação é enorme. Falta-me algo que dinheiro não pode comprar. Que a música não me deu. Achei que ela daria tudo para mim. Não deu alguém para compartilhar meu sucesso e aproveitar tudo me divertindo um pouco. Dez anos que não sei o que é diversão. Tudo se resume a trabalho e mais trabalho. Amo a música e sinto prazer com ela, entretanto faz um tempo que estou me sentindo frustrada.

Apesar do transito normalmente lento de São Paulo, não demorou tanto para chegarmos ao hotel, considerando tudo. Zara reservou uma suíte com dois quartos para nós, como sempre faz quando estamos em turnê.

Depois que trazem nossa bagagem, ela pede nosso almoço e eu estou grata já que não quero sair, mais uma vez, para qualquer lugar que seja. Estou exausta.

— Seu carro só vai ser entregue lá pelas cincos horas — ela anuncia quando eu estou indo me refrescar antes do almoço.

— Porque tão tarde? — paro e me viro chateada para ela.

— A empresa de locação teve uma confusão com os horários.

— Sério? Então procure outra — digo antes de entrar no meu quarto. Zara tem sido como uma irmã para mim desde que nos conhecemos. Foi uma época difícil da minha vida, um momento de escolhas difíceis e ela estava lá. Temos um entendimento porque ela sabe muito de mim, da minha vida. Ela desaprova muita coisa, porém não tenho que dar satisfação dos meus atos para ela. Eu sei que ela não aprova minha visita de hoje e está pondo dificuldades em realizar uma ordem minha. Não sei porque ela tem tanto receio disso.

Esquecendo um momento esse dilema, abro uma mala para pegar uma roupa e vou para o banheiro. Quando volto, meia hora depois, minha mala já está desfeita e Zara a está guardando.

Carl - Série Guarda-Costas #3  DISPONÍVEL NA AMAZONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora