Capítulo 2. O roteiro

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2. O roteiro

Desde segunda que só fiquei escrevendo sem parar. Mal consegui dormir, sério. Deitava na cama pensando e pensando e aí voltava a escrever de novo. Estou totalmente absorvida por essa história. É como se entrasse dentro dela e ficasse pensando em coisas... Mas algumas coisas eram intensas demais... Quer dizer, eu estava escrevendo o roteiro, então mergulhei na história e fiquei sentindo o que o personagem que se apaixona pela personagem da Caterine sente. Mas só isso. Não é como se eu estivesse totalmente obcecada por ela nem nada esquisito assim.

Eu nunca nem tive nenhuma girlcrush na vida! Tipo, como a Jasmine tem pela Ashley Tisdale, Rihanna, Camila Cabello ou sei lá mais quem, e a Luílla tem pela Demi Lovato. Jamais nem sequer passou pela minha cabeça querer beijar outra garota. Bem, não quero que a Caterine me ache uma doida e não queira mais ser minha amiga porque tudo o que mais quero é ficar cada vez mais próxima dela. Meu Deus, isso é tão estranho... É só que quando estou junto dela fico nervosa e começo a falar sem parar e ela mal fala, na verdade ela nem parece ouvir o que estou falando! Ela só fica me olhando de um jeito indecifrável – provavelmente me achando uma esquisita completa – e mesmo assim eu não consigo parar de bancar a idiota perto dela. Estava morrendo de medo de a Caterine me achar maluca por eu só falar do roteiro e quando lesse achasse que estava seriamente obcecada por ela e se assustasse (acho que ela até já podia estar desconfiando disso, pois hoje mesmo perguntou em que me inspirei para o roteiro e eu só fiquei em estado de choque absoluto por alguns segundos e em seguida disfarcei).

No dia que entreguei o rascunho para ela estávamos na porta da escola e ela parecia não saber o que fazer, nem eu. Ela sorriu enquanto o guardou na mochila. Então ficamos em pé só nos olhando em silêncio. Mas não era nada constrangedor, era apenas uma situação em que me sentia solta no ar, como se precisasse falar algo para unir as pontas de um laço.

- Espero que goste. – soltei.

- Não tem como não gostar. – Caterine falou me deixando mais nervosa ainda.

Não queria me separar dela, por isso completei:

- Onde você mora? Você volta de ônibus?

- Moro em Boa Viagem. Eu pego o Aeroporto, ou o Candeias, Jardim Piedade...

- Sério? Eu também! – sorri e quando vi já estava fora de controle e continuei. – A gente podia voltar juntas!

- Claro. – concordou ela, mas não sei, talvez por educação.

Logicamente eu estava possuída. Mas não dava pra parar. Fiquei puxando conversa e cada palavra que saía da boca dela parecia encantada para mim. Parecia aquela música de The Pretenders que ela estava ouvindo quando a vi entrar na sala (e que agora eu ouvia sem parar):

"Don't get me wrong

If I'm looking kind of dazzled

I see neon lights

Whenever you walk by

Don't get me wrong

If you say hello and I take a ride

Upon a sea where the mystic moon

Is playing havoc with the tide

Don't get me wrong"

Voltamos sentadas lado a lado no banco do ônibus voltando pra casa e eu estava ao ponto de me atirar da janela de tão confusa, nervosa e tudo mais. Mas aí o que ela faz? Ela assim, do nada, pega na minha mão! Eu parei para respirar fundo e analisar os fatos e me acalmar, mas nada disso funcionou, então apenas agi por impulso e entrelacei os dedos nos dela para que nem desse tempo de que ela mudasse de ideia. Comecei a ficar apavorada porque minha mão estava suando e etc, mas ela não tirou a mão da minha e nem parecia ter a intenção de tirar. Fiquei sentindo calores tenebrosos percorrendo minha pele. Vixe, o que era isso? Como nem passava pela minha mente qualquer explicação, apenas decidi aproveitar o momento e deitei a cabeça no ombro dela. Ai, eu podia morrer nessa hora porque eu nunca fui tão feliz.

Depois daquele beijo [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora