Capítulo 1. Primeiro Dia

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"Oh, kiss me beneath the milky twilight

Lead me out on the moonlit floor

Lift up your open hand

Strike up the band and make the fireflies dance

Silver moon's sparkling

So kiss me..."

"Kiss me", Sixpence None The Richer


1. Primeiro dia

Você já sentiu como se estivesse caindo? Isso sempre me vem à cabeça, especialmente agora que estou no meio de uma experiência extracorpórea decorrente do álcool. Nunca fui de beber, mas esta parecia uma boa hora para começar.

Sentada na grama áspera do jardim da Jasmine, eu tentava entrar no clima da festa bebericando minha primeira dose de rum com coca e já sentindo minhas pernas fraquejarem. Eu estava na metade do copo e tinha medo de que, quando tivesse que levantar, levasse um tombo, o que seria bastante embaraçoso, apesar de todo mundo ali estar tão bêbado que nem notaria. Eu acho.

Quer dizer, eles nunca notam nada e nem ninguém. Principalmente a mim. Ninguém nunca se apaixonou por mim. Nunca. Tenho dezesseis anos e já gostei de cinco garotos. Quer dizer, se gostar for achar gato e tal, mas depois descobrir que são só uns babacas. Então foi isso. Como se todos os garotos não fossem, né? Enfim. Segue o baile... Resumindo: minha vida amorosa é uma desgraça. Os garotos não sabem o que querem e, quando sabem, parecem não entender. É um saco conviver com isso. Estou muito desapontada com a atual situação das coisas. Minha tia vive dizendo:

- Um conselho: o colégio é o máximo! Permaneça nele o tempo que puder. Seja uma adolescente, pois acaba tão rápido...

Que encorajador. Manda ela vir ficar no meu lugar para ver como é!

Suspirei tentando manter minha cabeça aberta para as oportunidades, de acordo com os conselhos que minha tia vive dando.

Como se houvesse alguma. Lá estão minhas amigas no meio da pista de dança improvisada na sala. Fico com sono só de olhar. Música eletrônica. Urgh! Só a Jasmine para inventar essas festas doideiras do além. Aqui pelos cantos escuros do enorme jardim há alguns casais se agarrando. Eu sei que devia aproveitar minha última noite de férias antes de as aulas começarem, mas isso estava ficando um tédio só.

Às vezes eu sinto como se olhasse a vida de longe e não participasse de verdade, mas acredite: não havia nada de interessante para participar ali. Não que eu me importe muito, mas sei lá. Todo mundo parece estar curtindo a vida como se não houvesse amanhã, enquanto eu preferia estar na minha cama lendo um livro, ou escrevendo, ou seja, qualquer coisa mais produtiva do que ver a galera aloprando todas. Se eu quisesse ver essas coisas, bem, é pra isso que tem o Netflix, ora.

Portanto apenas levantei e fui andando até o portão. Não estava tão bêbada quanto imaginara a princípio, embora uma dose fosse suficiente para fazer certos estragos. Ao passo que eu me afastava, o volume da música diminuía e me senti mais calma. Bem melhor.

A casa da Jasmine fica na esquina da Rua Sá e Souza com a minha rua, o que facilitou a minha escapulida da festa. Quando saí de lá, olhei para os lados e corri para casa, pois não é recomendável andar sozinha à noite por Boa Viagem.

Minha casa é a de muro alto coberto de hera, logo no quarteirão seguinte. Cheguei bem rápido e, antes de abrir a porta, enfiei dois Tic Tacs na boca numa tentativa de impedir que mamãe sentisse o cheiro de álcool. Ela ia me dar um sermão daqueles. Desnecessário, é claro, porque eu não vivo me embriagando. Ao contrário do meu irmão de dezessete anos, que pensa que isso é bonito. Deixa pra lá.

Depois daquele beijo [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora