— Não era isso que eu imaginava ouvir.

Sei que ele esperava que eu contasse o motivo de amanhã não ser um bom dia, mas não quero falar sobre isso com ele, nem com ninguém. Ele analisa meu rosto e seu sorriso acaba aparecendo no final.

— Fechado! Chego do trabalho às duas da tarde.

Ficamos no bar por mais algum tempo e voltamos para casa pela areia da praia. Beto tinha razão, a noite está linda!

Mesmo tendo tomado algumas cervejas, ter dormido pouco na noite anterior e ter me movimentado muito durante o dia, meu sono não vem. Levanto duas vezes para ir ao banheiro e o desconforto do sofá me irrita. A única coisa em que consigo pensar é no Ricardo. Será que ele está triste? Preocupado? Será que um dia ele vai conseguir me perdoar? Sinto saudades dele, dos seus olhos brilhantes, do seu jeito calmo de falar. Sinto falta dele.

Vejo os primeiros raios de sol, entrando pela pequena janela da cozinha antes de finalmente cair no sono.

Acordo com a porta sendo triturada contra a parede. Beto chega do trabalho e entra em casa como um hipopótamo de patins entraria em uma loja de cristais.

— Foi mal — ele diz quando vê que eu ainda estava dormindo. — Achei que estaria pronta para a gente sair.

— Vamos sair agora?

— Vou tomar um banho antes.

Ele vai para o quarto e começo a pensar que roupa vou vestir. Não tenho calça jeans e muito menos um All Star, nunca usei tênis. As roupas que eu trouxe comigo não servem para nada. Onde vou usar saias lápis, camisas de seda, vestidos de linho e blusa de cashmere?

Ontem para sair com Beto, coloquei uma saia com uma camiseta dele, até que não ficou tão ruim, mas não posso ficar usando as camisetas que pego emprestada para sempre.

Confiro o dinheiro que tenho, a soma é um pouco menos que dois mil reais, mas tenho que pensar que preciso comer e ter uma reserva, caso o Beto canse de mim na casa dele, e roupas são caras.

— Ainda está sentada aí?

Me assusto com a voz do Beto. Tento esconder o dinheiro e ele revira os olhos.

— Não vou roubar sua grana, se é isso que está pensando — diz, indo até a geladeira. — Se eu quisesse já teria pego.

Faz sentindo.

— Preciso comprar roupas para sair hoje.

— Quanto quer gastar?

— O mínimo possível.

— Dou um jeito nisso. Agora toma um banho e coloca outra camiseta minha.

Ele é estranho, fechado e não sorri sempre. Às vezes parece que ele não gosta da minha presença na casa, nem de emprestar suas roupas, mas aí ele vai lá e oferece.

— Pega uma que não esteja passada, assim vou ter mais camisetas limpas e passadas.

Ele não é estranho, ele é muito estranho.

— Não sei se vou conseguir comer tudo isso — falo quando meu pedido chega. — É o maior hambúrguer que já vi, ainda tem as batatas fritas e os anéis de cebola.

Ele não responde.

Estamos sentados em um bar perto do Dragão do Mar, na Praia de Iracema em Fortaleza. Dragão do Mar é um centro cultural e de arte. Conheci o lugar com o Ricardo, por isso pedi para não sentarmos nos bares que tem no local. Definitivamente, não é um bom dia para lembrar as horas que passei aqui com a pessoa com quem eu deveria estar casando hoje.

Pronta para Casar - DegustaçãoWhere stories live. Discover now