Capítulo 2

77.7K 5.6K 1.1K
                                    



-Não! Em que língua tenho que falar para o senhor me entender?

Repeti pela centésima vez e meu pai não parecia ter ouvido nenhuma delas.

Aos meus 17 anos eu fui obrigado a começar a estudar administração de empresas em um curso paralelo ao meu último ano do colegial quando eu queria estar curtindo. Aos 19 eu comecei a faculdade de engenharia civil quando queria estar aproveitando a vida e viajando o mundo como mochileiro e aos 25 meu pai queria que eu assumisse a porcaria de um cargo de suma importância na empresa que ele tem.

A merda de um cargo de vice-presidente.

-Eu não estou perguntando se você quer ou não, Vicent, eu estou dizendo que você vai assumir o cargo porque estudou para isso, é meu filho, meu herdeiro e já é um homem. Eu não vou deixar você levar uma vida de vagabundo com uma mochila decrepita nas costas enquanto fuma maconha vestindo saias num grupo de hippies que não tomam banho!

Eu poderia desmentir toda a besteira que ele falou. Não era essa a minha intenção de vida, mas ele era o meu pai e falou tão firme que eu sabia que não teria muita escolha.

Olhei pra minha mãe parada ao lado dele e como sempre, não disse nada a meu favor, apenas me encarava com aquele olhar de "sinto muito mas ele é seu pai".

-Tudo bem, como o senhor quiser.

Concordei cansado de lutar contra isso. Ele sorriu animado.

Meu pai havia fundado essa empresa com um antigo amigo que já faleceu. Ele deu boa parte de sua vida e inteligência para fazer daquilo um império e cuidava como se fosse um filho. Mais filho que eu.

Ele não é um homem mal, possessivo, mandão, é apenas o meu pai que as vezes é um pouco duro demais e infelizmente eu sou o único filho em quem ele pode jogar todas as suas expectativas. No fundo eu não quero decepciona-lo.

-Você começa na segunda! Temos até uma nova secretária pra você!

Informou para mim, olhou pra minha mãe que forçava um sorriso e os dois saíram do meu quarto.

Assim que eles sumiram eu fechei a porta respirando fundo. Me olhei no espelho e vi um homem covarde. Eu não era tão homem assim já que sempre me comportei como um moleque submisso e está ai a consequência, um cargo que eu não quero pro resto de minha vida.

Mas ele não pense que eu vou ser como ele porque não vou ser! Meu jeito e gostos não mudarei. Se é pra ser um engravatado, vai ser do meu jeito e se ele me quiser vai ser assim ou não será.

....

Anos depois

-Filho, não vai trabalhar hoje?

Minha mãe perguntou com a curiosidade por trás de um tom casual.

Eu não moro mais com os meus pais, mas desde que saí de casa eu sigo a rotina de dormir aqui uma vez por semana, mas por causa da minha mãe que não tem mais ninguém com quem conversar sinceramente.

Ela é uma mulher rica que veio de baixo, e por isso, mesmo estando no meio de pessoas da alta sociedade, não tem muitas amizades porque não tolera muito conversas rasas e cabeças ocas que só servem pra carregar diamantes das senhoras de sua idade.

Eu sendo seu filho, sou o único com quem ela pode se abrir de verdade. E eu amo minha mãe apesar de tudo, não posso a abandonar assim.

-Vou, só que mais tarde!

O pior chefe [ DEGUSTAÇÃO ]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora