— Posso entrar com você? Conhecer seus amigos? — Queria muito aquilo, poder provar que estava errada e que as palavras confortantes há pouco ditas eram verdadeiras.

— O que diz de jantarmos por estes dias? Num restaurante de luxo no bairro nobre? Só nós dois? — Sugeriu e se apressou a lhe dar um beijo mais rápido que a velocidade da luz. — Tenho de ir agora, te ligo depois.

Podia segui-lo! Fazer como a prima faria, se impor diante dos amigos deles, obriga-lo a ser mais homenzinho, mas isso o deixaria furioso e sem falar com ela, e não era o que queria agora, pois não?

Andou até a paragem de transportes públicos decidida a ir ao hospital mesmo estando longe do horário do seu turno. Sentou num dos bancos afastados da confusão, e se sentiu triste enquanto via as ruas passarem por seus olhos através das lentes polaroid. Cobiçou um casal que andava de mãos dadas pela rua com sorrisos, sem se importar com o resto do mundo. A verdade é que começava a ficar desgastada de tantas desculpas esfarrapadas de Lorenzo, e isso começava a matar inclusive os seus sentimentos por ele. Não conseguia olha-lo como antes, cega de paixão. Agora via exatamente o que o namorado era: Um idiota preconceituoso.

O telefone vibrou no bolso, era um Nokia já fora de moda, sendo que o jornalista usava agora um iPhone 6 e estava na expetativa para o lançamento do 7. Riu de desgosto, não reconhecendo o número e por um momento imaginou ser Lo. Atendeu na ansiedade.

— Alô?

Alô, Jamie minha filha. — Uma voz masculina parecia se arrastar do outro lado da linha.

— Tio Tony? O que você tem? — Silêncio.

Meu irmão António não é seu pai!

— Ah, Joe. O que quer? Eu não tenho dinheiro para lhe dar e já pedi para não ficar ligando.

Estou morrendo, Jamie. Qualquer dia só vai ouvir dizer que seu pai morreu e não vais poder fazer mais nada, escreve o que lhe digo!

— Vou escrever. Tchau! — Desligou na cara daquele a quem chamava de progenitor e sentiu uma angústia no peito. A ausência de figuras masculinas que a amassem sempre a incomodou, mesmo quando tio Tony a acolheu, e sempre tentou fazer com que sentisse não haver diferenças no amor dado às duas, afinal não deixava de ser o pai de Darcelle e não seu.

Limpou uma lágrima atrevida e se preparou para descer na paragem do hospital. Era bem em frente e por isso não precisou andar muito para adentrar no caos que era aquele lugar. Havia sempre correrias, pessoas aleijadas em macas, médicos e enfermeiros de um lado para o outro, gritos e choros e o cheiro a desinfetante.

— Johnson! — Rosa se aproximou com um sorriso e olhou para as horas. — Chegaste cedo hoje.

— É. Nada para fazer, Darci começou um trabalho e tenho ficado mais sozinha em casa. — Desculpa esfarrapada e sem nexo, pois a prima sempre trabalhara e ela nunca se importava em estar sozinha, aliás, até gostava. Viu a colega franzir o cenho. — Alguma novidade?

— Bem, sim! O Doutor Gostosão está a fazer uma cirurgia assistida a quem quiser participar. É uma remoção de um tumor. — Estava empolgada e tinha um sorriso bem estampado no rosto bonito e cor de café. Puxou os óculos mais para junto do nariz.

— Tem melhor que isso? Vou-me mudar e já volto! — Acenou com a cabeça, e correu para o quarto de vestir, tirou a roupa que trazia e usou a bata branca, o crachá e os chinelos de borracha que tanto gostava. Normalmente as cirurgias assistidas pelos alunos eram quando o hospital oferecia a mesma sem custos para o paciente, e assim os estudantes podiam participar. Sentou junto de Rosa, e ficou atenta naquilo que mais queria fazer na sua vida: curar pessoas.

Uma Nova Cor [DEGUSTAÇÃO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora