—Mila, aqueles outros dois red velvets vão ser para entrega, me avise quando ficarem prontos. – Dona Clara pedia segurando o telefone em seu ombro, enquanto anotava algo em um bloco de notas e eu assenti antes de voltar para a cozinha.

Eu segui direto para o forno onde os bolos estavam assando e ainda faltavam alguns bons minutos para ficarem prontos.

—Acha que está bom o ponto? – Wes perguntou estendendo uma colher na direção da minha boca, com o que parecia ser uma calda de caramelo.

—Está... vai colocar nas tortas de nozes? – Eu perguntei depois de sentir o gosto doce na minha boca e ele assentiu rapidamente.

—Yep, é minha marca registada, quanto mais calda melhor. – Ele disse sorridente.

—Sua marca registrada tinha que ser purpurina comestível e não calda. – Jenna comentou divertida e eu acabei soltando uma risada.

—Até que não é uma má ideia... Um bolo rosa com bastante purpurina e plumas. – Ele disse naturalmente e nós acabamos rindo mais ainda.

—Sabe que esse bolo faria muito sucesso na parada gay da cidade, deveria levar a ideia até a dona Clara. – Eu comentei com um sorriso divertido, enquanto ajudava a Ally a rechear os profiteroles.

Jen, amor, ainda dá tempo de fazer um tiramisu hoje? – Chris perguntou interessado, ao colocar sua cabeça para dentro da cozinha.

—Provavelmente, é para entrega? – Jenna devolveu a pergunta.

—Não exatamente, vamos levar para casa da minha mãe... Lauren ligou, ela está de volta. – Ele explicou num tom animado e logo observei sorrisos se formarem nos rostos de todos que estavam na cozinha.

—Mesmo?! Isso é ótimo! – Jenna disse entusiasmada.

—Pode deixar que vamos fazer o tiramisu, Chris. – Ally afirmou com um sorriso tranquilo.

—Ok, obrigada, gente! – Ele agradeceu, antes de deixar a cozinha.

—Lauren não é a outra filha do Mike e da Clara? – Eu perguntei curiosa.

Eu sabia que o casal de donos tinham três filhos, Chris era o mais velho, que ajudava os pais na loja, Taylor a mais nova, que estava fazendo faculdade de gastronomia em Miami, mas que sempre que podia voltava a New Orleans para visitar os pais e Lauren, a do meio, que era um grande mistério para mim... Desde que havia começado a trabalhar por aqui, eu nunca tinha a visto pessoalmente, ela nunca havia aparecido na loja e eu só conhecia vagamente sua fisionomia por fotos.

—Sim e por sinal, Chris e Tay vão ter que me perdoar, mas a Lauren é a mais sexy... Aqueles olhos maravilhosos, o sorriso de lado, o corpo perfeito... chego a me tremer só de lembrar. – Wes comentou se abanando com a mão e eu soltei uma risada divertida.

—Até parece que é hétero assim... – Jen provocou negando com a cabeça.

—Posso não ser, mas para ela eu abro uma exceção. – Ele rebateu dando de ombros.

Wes está precisando de um namorado urgentemente para apagar esse fogo dele...

—Exceção que não faz nenhum pouco o estilo dela. – Jen murmurou negando com a cabeça.

—Dona Clara deve estar pulando de alegria com a notícia, faz tempo que a Laur não volta. –Ally comentou com um sorriso.

—Verdade, acho que já tem quase dois anos... – Jenna disse pensativa. – Deve ser isso mesmo, porque quando a Mila começou a trabalhar aqui, ela já tinha ido embora. – Ela completou voltando a mexer em algumas panelas.

Eu não fazia ideia de porque a tal Lauren ficava tanto tempo afastada assim da família, mas agora sabendo que isso era recorrente, eu entendia a animação de todos com a notícia... Era de se esperar que a família e amigos sentissem saudades de uma pessoa tão próxima, que tinha ficado afastada por tanto tempo.

Eu cheguei a abrir minha boca para perguntar o que a Lauren fazia para ficar afastada assim, mas antes disso, senti meu celular vibrar no bolso de trás da minha calça.

O nome da minha mãe brilhava na tela e eu sorri suavemente, antes de atender a ligação.

LIGAÇÃO ON

—Oi, mamá, ainda estou na PJ's. – Eu avisei assim que atendi.

—Oi, filha... é o Benjamin de novo. – Ela falou num tom sério e eu senti meu coração apertar na mesma hora.

—O que houve? Como ele está? – Eu perguntava preocupada.

—O de sempre, mais uma crise de asma, eu peguei um taxi, estou levando ele para o hospital central. – Ela avisou soltando um suspiro e eu passei minha mão pela testa, nervosamente.

—Tudo bem, eu estou indo para aí o mais rápido que puder. – Eu disse num tom aflito, antes de desligar rapidamente.

Era nessas horas que eu ficava completamente perdida, quando se tratava do Benjamin, eu sentia meu coração apertar imediatamente e minha mente se revirava, como se estivesse no olho de um furacão.

—É o Ben de novo? – Jenna perguntou num tom preocupado e eu assenti rapidamente. – Vai lá, eu aviso a Dona Clara e seguramos as coisas por aqui. – Ela avisou num tom solícito e eu soltei um suspiro aliviado.

—Obrigada, Jen! Obrigada mesmo! – Eu falei lhe dando um abraço apertado, antes de tirar meu avental.

—Dê notícias sobre ele! – Ally pediu conforme eu caminhava para a porta dos fundos da loja.

—Pode deixar! – Eu disse simples, antes de seguir meu caminho.

Meu velho carro estava estacionado em uma das ruas laterais, próxima à loja e conforme eu caminhava rapidamente até lá, eu notei o céu começando a ficar escuro. Em pouco tempo, uma daquelas tempestades de verão iria desabar pela cidade e isso queria dizer que eu precisava me apressar.

Já no meio do caminho, os pingos de gotas fortes batiam contra o vidro do carro, enquanto eu tentava dirigir rapidamente por uma das pequenas estradas que havia pela cidade. Normalmente, eu sempre fazia meu caminho pelo centro, mas em meio a toda aquela pressa, eu precisava cortar caminho e chegar ao hospital o mais rápido possível... Se eu fosse pelo centro, o trânsito estaria terrível.

Toda vez que uma nova crise de asma acontecia, todo aquele turbilhão emocional dentro de mim começava a se mexer... Tudo o que eu queria era poder, de uma vez por todas, o deixa-lo bem, mas aquilo seria uma tarefa mais difícil do que eu pensava, na verdade, sendo realista, me parecia ser quase impossível... O único problema é que o impossível não me assustava mais, eu nunca iria desistir de cuidar de quem eu amava.

Eu desviei meu olhar mais uma vez, para meu celular jogado no banco do carona, verificando se alguma nova mensagem da minha mãe havia chegado, mas aparentemente, nenhuma mensagem tinha sido enviada. De repente, o vulto de um cervo atravessando a estrada passou, bem em frente ao meu carro, e eu, instintivamente, girei o volante bruscamente tentando não atropelar o animal.

Merda, Camila...

Eu senti o carro rodar... e rodar... e rodar... no meio da pista molhada e antes que eu pudesse soltar um grito assustado, eu fechei os olhos, sentindo o carro se chocar contra uma das árvores do canteiro, e minha cabeça bater contra a janela do motorista.

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Então, o que acharam até agora? Já tenho outro capítulo pronto.

PJ's Heart - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora