— Lola? Lola! Cheguei! — Pousou as coisas em cima do balcão da cozinha e passou pelo corredor estreito, com um soalho velho de madeira e umas paredes recém-pintadas para criar um aspeto mais agradável. Ouviu um gemido, e logo a seguir outro.

Caminhou em bicos dos pés, imaginando encontra-la num ato de masturbação mas ao abrir a porta do quarto principal, a visão foi devastadora e diferente do que imaginava.

— Chris! — Lola gritou, se afastando nua do corpo masculino muito bem conhecido por todo o grupo de amigos. — Oh meu Deus, oh meu Deus!

— Quer se juntar? É que ainda não acabamos. — Daniel Winter esboçou um sorriso vitorioso, ignorando por completo o desespero da mulher que se enrolava num lençol azul e branco listrado. O mesmo onde o namorado costumava deitar-se.

— Filhos da mãe! — Foi tudo o que Chris conseguiu dizer, sentindo um terror se alojar em seu peito e subir em forma de água para os olhos. Negou com a cabeça sem ainda conseguir acreditar no que seus olhos viam.

— Christian por favor — pediu Lola num desespero agudo. Esperava que Dash gritasse, esperneasse e a agredisse no mínimo, mas nada disso aconteceu, se não a deceção total e completa nos olhos verdes.

Winter tinha graduado em medicina na mesma altura em que Dash decidira trocar de curso, e agora procurava a especialização. Era mais velho, mais bonito e mais cafajeste, e por sua vez Lola frequentava ainda o segundo ano.

— Vou mandar alguém vir buscar minhas coisas. — Advertiu, antes de correr porta a fora, pegar nas chaves e no capacete e abandonar o apartamento.

A respiração custava-lhe no peito, seus olhos ardiam como se tivesse sido exposto ao fogo, e o corpo em contrapartida estava gelado. Uma mágoa sem fim. Vagueou perdido pela cidade, e parou num bar a fim de afogar suas mágoas, virou a noite, bebeu uma garrafa e meia de vodka, sentia os olhos pesarem e o telefone não parava de tocar desde então. Várias chamadas perdidas, e não teria atendido nenhuma se Jacqes Beauchamp não estivesse na lista.

— Alô, senhor Beauchamp? — Tentou parecer lúcido assim que a chamada foi atendida do outro lado da linha, após chamar várias vezes.

Christian meu filho. — Aquela voz. Estava pesarosa e amargurada.

— O que aconteceu? — Questionou, recuperando a lucidez quando mais uma vez em menos de vinte e quatro horas seu coração parecia acumular muito medo.

Venha rápido... o seu amigo, o Damien... ele... — Pela primeira vez ouviu um homem daquela idade chorar. Um homem de respeito e pai do seu melhor amigo. — Damien sofreu um acidente grave.

Todo álcool pareceu evaporar de seu sangue. Tamanha dor tinha atingido sua alma. Foi um dia por recordar.

— Ele acordou!

— Acordou?

— Graças a Deus. Vamos lá!

— Só podem entrar dois de cada vez, prioridade aos familiares. — A enfermeira se aproximou, tinha um ar cansado mas autoritário.

— Eu sou residente aqui. — Christian se aproveitou e olhou para o pai que estava mais atrás, exigindo um direito com o olhar embora não se valesse mais dele.

— Tudo bem. Relaxem os ânimos. — Igor concordou em grandes dificuldades. — Damien está confuso, peço que se acalmem. Os resultados não são muito favoráveis.

— O que quer dizer com isso? — Giovana Beauchamp se exaltou em todo seu esplendor. Tinha acompanhado de perto os últimos dias de cirurgias e complicações.

Uma Nova Cor [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now