Capitulo 2 - Ser jovem

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- Preciso trabalhar.

- Apenas fale comigo uns minutos, juro que não lhe retenho por muito tempo. Só quero fazer uma pergunta.

- Eu preciso trabalhar - Alfie repetiu-se.

- Ora, vamos Alfie, não seja tão chato.

- Lucie se você continuar a me arrancar de meu posto todo dia nunca serei promovido a primeiro lacaio.
- reclamou.

- Sabe que dia é hoje?

- Dia 12 de jun...

- Sim - ela anunciou radiante. - Fale comigo.

- Lucie, você já não é uma criança que tenho que agradar no dia 12. Já tens 16 anos, minha promessa de lhe alegrar já venceu.

- Responda minhas perguntas.

Ele não falou nada e ela ficou encarando-o.

- Por que está me olhando com esta cara? - Alfie perguntou com cautela.

- Não estou te olhando com cara nenhuma.

- Está sim. - Suspirou dramaticamente. - Vamos, solte as perguntas.

- É verdade que você beijou a filha do açougueiro?

- Quem lhe contou isso?

- Ouvi os cavalariços comentando que você a beijou durante o festival que teve na vila.

- Pare de ouvir a conversa dos outros, isso é feio - ralhou.

- Pare de tentar me dourar a pílula, conte, vamos. Por que beijou a essa moça tão sem graça?

- Essa conversa não é para seus ouvidos.

- Vamos, me fale. Ela beija bem?

- Lucie - repreendeu.

- Beija?

- Sim.

- Mas eu beijo melhor.

- E como sabes? Quem você beijou?

- Ninguém... ainda. - Ela sorriu de forma ladina. - Mas você vai me dar meu primeiro beijo.

- Não vou, não.

- Você prometeu que faria...

-... Algo para deixá-la feliz. - ele completou. - E não para desonrá-la. Ficou doida de vez?

- Apenas um beijo e prometo que não pedirei outro jamais.

Ele suspirou.

- Apenas um beijo e então você me deixará livre desta promessa que me atormenta em todos os anos.

- Um beijo e ano que vem não precisará cumprir a promessa.

- Nunca mais preciso cumprir a promessa.

- Assim sairei perdendo, vou pedir o beijo para o Gustavo que trabalha no estabu...

Alfie a puxou pelo braço e grudou o corpo dela junto ao seu.

- Não pedirá beijo a ninguém - sussurrou com uma urgência renovada e quando menos ela esperava a estava beijando.

No primeiro momento ficou paralisada, apenas sentindo a boca quente dele se movendo suavemente sobre a dela, mas ao entender os movimentos que ele fazia se pôs a copiar. Mover seus lábios junto aos dele era como dançar... Percebeu e era tão bom que seu corpo inteiro formigava. A mão de Alfie lhe apertou a cintura e a trouxe ainda para mais perto de seu corpo, ficaram colados e o beijo começou a se aprofundar. A língua dele tocou o lábio de Lucie e então ela soltou um gritinho e pulou para trás. Ele riu de seu assombro virginal, ela apenas empinou o queixo e saiu andando pela ponte. Antes que pudesse descer da estrutura de madeira e pedra se virou e o chamou.

- Alfie. - Ele a encarou de forma interrogativa. - Meu beijo é melhor que o da filha do açougueiro?

Ele deu risada e balançou a cabeça em gesto de negação.

- Você precisa treinar se quiser igualá-la.

Ela o fulminou com o olhar.

- Vou chamar o Gustavo.

Ele começou a caminhar atrás dela, mas Lucie saiu correndo enquanto sua gargalhada feliz ecoava.

...👗🌂👒

- Me beije - ela falou para o espelho. - Me beije, hoje é dia 12. Beije-me porque eu o amo. Me beije, querido. Me...

- Que diabos está fazendo? - perguntou Alfie enquanto entrava no quarto.

Ele estava muito bonito em seu novo e engomado uniforme de primeiro lacaio. Inclusive a peruca empoada que ele tinha que usar em ocasiões formais e que Lucie sempre achara ridícula nos outros lacaios vestidos com a libré dos Argyll, nele parecia divina.

- Ahhh, você me assustou - gritou e depois o olhou nos olhos. - Eu... Eu quero um beijo - confessou.

- Lucie, você me beijou várias vezes desde nosso primeiro beijo. Um dia vão pegar-nos no flagra.

- Hoje é...

- Não importa se é dia 12, não a beijarei.

- Eu vou para Londres amanhã - lembrou. - Apenas um beijo.

Ela cruzou os braços e fez bico. Ele chutou a porta para fechar e puxou Lucie para seus braços, enquanto se encaravam enroscou os dedos nos fios loiros dela e lhe mordiscou a ponta nariz.

- Vai me enlouquecer.

- Igual você me enlouquece? - perguntou com perspicácia.

Ele grunhiu e tomou os lábios dela em um beijo arrebatador, era tão bom estar nos braços de Alfie. Ela conhecia já o sabor de sua língua e ele podia prever qual movimento ela faria, mas mesmo assim sempre parecia a primeira vez. Ela passou os braços pelos ombros dele e acariciou sua nuca. Alfie lhe mordeu o lábio e então parou o beijo.

- Não quero ir para Londres - ela falou quando sua respiração voltou a normalizar-se.

- Precisa ir.

- Quero ficar com você.

- Lucie...

- Já sei, já sei que não devo me apaixonar e esperar algo... Mas não mando em meu coração.

- Você conhecerá alguém e então verá que o que sentiu por mim foi algo passageiro.

- É isso que você quer? Me ver casando com outro?

- E o que mais podia querer? Que você se casasse com o lacaio de sua casa? Com o filho de sua governanta? Quero o melhor para ti e eu não o sou.

Lucie esperou que ele retirasse aquelas palavras, esperou que ele a abraçasse, mas ele não o fez. As lágrimas escorreram silenciosamente por seu rosto.

- Vá embora - ela falou enquanto secava bruscamente as lágrimas.

Ela se virou de costas e escutou enquanto ele ia em direção a porta.

- Lucie, eu... - ele tentou falar, mas ela cortou.

- Vá.

Alfie saiu do quarto e ela começou a arrumar as malas. Não sentia nenhuma vontade de ir para Londres, de debutar, conhecer pessoas e comprar vestidos... Mas iria, apenas para provar que estar em meio a sociedade não mudaria o que sentia por Alfie.

O Dia de Voltar [Conto]Where stories live. Discover now