Ciranda do pesadelo

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Você pode me amar?
Eu repito
Você pode me amar?
Mas minha voz se perde no eco.
As dores reverberam
e os desejos permanecem...
sem resposta.

Eu me transformo,
troco de pele.
Fios que crescem sobre o couro,
enfeitando o corpo sobre encomenda.
Lapidado, marcado com brasa e banhado em água pura.
Erguendo, inflando os pulmões com perfume de rosas da noite.
Sou outro.
Sou outro e continuo querendo o outro.

Agora
anseio pelo pior dos piores.
Espero por um pesadelo
que vem.
Centenas deles,repletos de
carnes, ossos, músculos tão rígidos quanto os meus.
Eretos. Pelos, gostos de saliva, óleos sobre a pele e cheiro de madeira.
E os lábios, como entrada e saída para um inferno de onde vem suas palavras.
Mas eu quer ouvir gemidos essa noite.

Tão altos que me façam esquecer do que um dia quis.
Dos olhos enxergando através das mentiras,
dos dedos dançando sob a pele, buscando
se perderem nos cabelos.
Um teatro para o qual ensaiei desde o dia em que nasci.
Nós, nús, iluminados pela lua.
Reais, trágicos, clichês eternos de romances que custaram caro.
Esquecer que meu desejo real era ouvir ele cantando.

Você pode me amar?
Eu cantei
Você pode me amar?
Mas você não mandou nenhum verso de volta.

De HenriqueCosta19

M-83 PoesiasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora