Cai o Pano

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Talvez seja cedo de mais,
Pequeno de mais o livro,
Grande de mais a obra,
Mas sinto-me cansado,
Consumido como uma vela
Que dá os últimos suspiros.

Lutei a vida toda,
Umas vezes deu frutos
Outras desilusões
Talvez seja hora de baixar a espada
E abraçar de uma vez por todas a escuridão.

O público observa em silêncio o fim da peça
O suspanse aumenta, a dor flui, o amor perde-se
E o actor cai, de coração quebrado,
Chorando o fim,
O fim de um sonho,
De um glorioso sonho
Que escorreu pelas suas mãos
Como leite azedo
Contaminado por um mundo amargo.

Alguns dos outros actores viram-lhe as costas,
Os que pensava que eram bons
Abandonam-no
Os que pensava que eram malucos
Ficam
O esforço de uma pequena vida foi em vão

O silêncio reina no teatro
Ouvem-se passos
É Deus, o próprio em pessoa:
"Quem sois vós? Humanos?
Ou pequenos grandes monstros
Que se consomem uns aos outros
Até à ultima gota
E que depois abandonam os corpos,
As almas perdidas e amaldiçoadas?"

Não se ouve nada
Reina o silêncio na sala
Deus estende a mão
Ao pequeno homem
Que chora abandonado
Sobem os dois
Lado a lado
Em direcção ao céu.

Os outros,
Comovidos,
Choram o fim
Mas é tarde demais agora
Chegou a hora!

Cai o pano,
É o fim.

#Era uma vez um rapaz, De Accord2

M-83 PoesiasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora