Capítulo Dois

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— Por quê? — eu sei o porquê e ela claramente sabe também, mas faz parte do meu jogo fazê-la duvidar de suas decisões.

— Porque não posso cuidar dela.

— Entendo que você pense assim, mas tudo o que possa oferecer a ela, será infinitamente melhor do que a espera se sair por aquela porta sozinha.

— Eu não posso. — Ela diz pausadamente. — Sinto muito, muito mesmo.

Já estou sem paciência, tudo o que quero é ir para casa e dormir por uns dois dias, talvez mais. Uma pena que seja algo que não poderei fazer com o caso em andamento.

— Ao que parece, seria temporário. — Acrescento, passando a mão pelo cabelo. — Chloe tem uma avó materna que mora em Londres, estamos tentando encontrá-la desde essa manhã.

— Eu tenho o meu trabalho, meus horários, a minha vida. — Mia diz exasperada. — Como eu irei encaixar uma criança nisso tudo?

Não faço ideia, por isso me calo. Não sei nada sobre crianças, apenas que ao longo dos anos vi coisas que jamais me esquecerei.

Eu sei como o sistema funciona, se Chloe ficar aqui será mandada para um lar temporário, com muitas outras crianças. Na melhor das hipóteses, ela será ignorada por sua mãe adotiva, que só se interessará pelo dinheiro que o governo possa lhe dar. E ela é tão pequena. Sua vida poderá ser transformada de forma definitiva, com marcas permanentes; apenas porque as pessoas que deveriam protegê-la não foram responsáveis o bastante.

— Eu não deveria lhe dizer isso, Mia. — Eu me aproximo mais e digo em tom de confissão. — O sistema é horrível, ele realmente não funciona. Chloe não ficará bem, isso eu posso te afirmar com convicção. O mundo infelizmente não é um lugar cor de rosa.

Mal termino de falar e ela levanta totalmente o rosto para mim, o queixo erguido em desafio, os olhos verdes sustentando os meus com coragem. Eu disse algo errado, ou certo, porque ela me olha quase furiosa agora.

— De todas as pessoas no mundo, eu sou a que aprendi isso há muito tempo. — Ela afirma, com voz firme. — Acredite em mim, eu sei que o mundo não é nada cor de rosa.

— Eu posso imaginar, com o pai que você tem.

— Eu não tive muita sorte com minha mãe também, eu diria que minha vida está mais para cinza ou totalmente escura.

Não sei se ela está contando isso a mim, ou a ela mesma. Seus olhos parecem perdidos por um instante, como se estivesse se lembrando de algo, e esse algo não a faz feliz.

— Foi seu pai quem pediu para que eu te ligasse. — Conto. — Ele também pediu que cuidasse de sua menina, era uma grande preocupação dele que você fosse a única pessoa a fazer isso.

Ok... Mais chantagem emocional, mas eu só quero o bem de Chloe.

— Ele poderia ao menos ter me contado sobre ela. — Ela recita quase para si mesma, como se não tivesse me escutado. — Ele se casou e teve uma filha, e eu nem fazia ideia.

Não há muito o quê eu possa dizer a respeito disso, a não ser que Chloe e ela não merecem um pai como o delas. Isso se nós pudéssemos mesmo chamá-lo de pai.

— Eu gostaria de tê-la conhecido antes. — Mia continua e eu percebo que são apenas divagações. — Espero que meu pai tenha sido melhor para ela do que ele foi para mim.

— Bom, ela parece bem cuidada, — eu puxo uma cadeira e me sento à sua frente. — mas, infelizmente a sua mãe Rebecca é uma usuária de drogas.

— Verdade? — ela demanda em choque. — Tão ruim assim?

— Sim, seu pai também, embora ele não pareça tão viciado como a esposa.

Minha Doce Menina   CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora