— Por que você está me dizendo isso? Você andou bebendo, Ygor?

— Eu vou me entregar para o czar.

— Você vai o quê? — perguntou incrédulo.

— Isso que você ouviu. Vou me entregar para o czar.

— Só pode estar brincando comigo. — Ivan deu uma risada sarcástica. — Você não poderia fazer isso.

— Posso e vou.

— Não sai dessa casa sem estar sóbrio. — Ivan tirou uma arma da sua cintura. — Não me faça fazer uma coisa que eu não quero.

— Você já matou uma pessoa, destruiu a vida de outra. Sabe Ivan, não me surpreenderia se apertasse o gatilho.

— Por favor, Ygor.

— Vamos lá, não seja covarde. Atire.

— Pare com esse jogo, Ygor. — Ivan posicionou arma.

— Atira seu merdinha!

— Ygor...

— Atira seu verme de merda!

Ivan apertou o gatilho e ouviu o barulho da bala saindo da arma e indo em direção ao amigo. O tiro pegou bem no braço do homem, que olhou horrorizado para o braço. Sangue começou a escorrer pelo braço do homem e sujou a poltrona. Ivan largou a arma no chão e foi em direção a Ygor.

— Saia de perto de mim, Ivan! — Ygor o afastou com o braço bom. — Você é realmente maluco. Essa porcaria dói. Você tem noção?

— Você pediu por isso, Ygor.

— Claro. — riu com frustração. — Vou para minha casa, Nádia cuidará disso para mim. Mantenha distância de mim e da minha família.

Ygor caminhou até a porta e jogou o cigarro no chão pisando forte. Abriu a porta e olhou para Ivan.

— E isso vale para Anastásia também.

E saiu fechando a porta com força, deixando Ivan transtornado.

Os dias se passaram lentamente. O clima no palácio estava bastante estranho desde o evento no café da manhã. Era o dia de folga das damas de companhia, e Anastásia estaria longe de Natasha por um dia. Havia se apegado a moça rapidamente; ela era gentil e sorria facilmente. De alguma maneira, sua presença a deixava leve.

Estava na sala de chá, um lugar onde quase ninguém ia, por isso correu para lá, queria ficar sozinha. Seus irmãos estavam ocupados com suas coisas de sempre, principalmente Dimitri, que tinha resolvido passar os dias no escritório com o pai para aprender os seus futuros deveres.

Ela havia pedido uma bandeja com chá, leite, cubos de açúcar e biscoitos de todos os tipos para passar à tarde. Pegou um livro que havia pertencido a sua mãe, provavelmente era um romance, e gostava muito de ler romances. Desejava que um dia encontrasse um grande amor, um amor tão forte como o do seu pai com sua mãe. Possivelmente teria um casamento arranjado, pois sempre funcionava dessa maneira com a família imperial.

— Alteza?

— Quem é? — não reconheceu a voz.

— Anastásia.

— Por favor, entre.

Anastásia entrou com relutância, percebia pela maneira como se comportava. Usava um vestido de mangas compridas e o cabelo negro estava trançado perfeitamente. Seus olhos pareciam de alguém que tinha chorado muito, mas provavelmente era impressão sua.

— Hoje não é seu dia de folga? — Natasha colocou o livro em cima da mesinha onde estava bandeja de chá.

— Sim, Alteza.

— Sente-se, não fique em pé. — Natasha indicou um lugar para ela sentar.

— Eu não tenho para onde ir. Todos têm família, e eu não. — sentou-se. — Na verdade eu tenho, mas não nos damos muito bem.

— Deveria passear pela cidade. — Natasha sugeriu.

— Eu não tenho cabeça para passear por São Petersburgo, nunca tive.

— E você está atrás de mim por quê?

— Eu queria companhia.

— Você tem essa função comigo, não eu com você.

— Perdoe-me.

— Não, eu que me desculpo. — reconheceu sua grosseria rapidamente. — Porcaria, eu não queria ter sido grossa.

— Hum. — começou a remexer na saia do vestido. — Acho melhor eu voltar para o meu quarto.

— Não, fique. Eu estava pensando em como sentiria sua falta o dia todo.

— Sentiria falta porque não teria uma pessoa para servi-la a cada segundo. — Anastásia se levantou. — Foi um erro eu ter vindo, Alteza.

— Volte Anastásia, é uma ordem.

— Infelizmente terei que descumprir sua ordem, Alteza. Não me sinto bem em permanecer em sua companhia, preciso me retirar. Não é meu dever aconselhá-la, mas deveria tratar melhor quem lhe serve. Tenha um ótimo dia.

A menina deu as costas, abriu a porta e fechou delicadamente, coisa que Natasha não esperava. O que ela havia dito de tão grave? Será que havia magoado Anastásia de alguma maneira?

Bufou frustrada com aquela situação. Nunca esperou brigar com uma dama, e ainda ouvir um sermão. Despejou chá em sua xícara, logo em seguida leite e um cubo de açúcar. Bebericou um pouco e ficou olhando para a porta, pensando no furacão Anastásia que havia passado ali em poucos segundos atrás.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now