Never Be Alone

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Eu parti o meu próprio coração.

Acredite, não é bom. Nem fácil. Muito menos trás felicidade.

Há algumas horas atrás o meu quase-tio assinou o fim da minha paciência e eu descobri que teria que partir dois corações, um deles seria o meu, no caso. Não por ele, meu tio, eu realmente não daria o meu coração por alguém como ele.

Sabe quando você se ver obrigado a se afastar de alguma coisa para o seu próprio bem? Então, é o que eu terei de fazer. Infelizmente.

Na última vez que olhei o relógio, ele marcava 23:30 da noite. Era a terceira vez que eu olhava as horas, já estava tendo a impressão que podia ouvir o tic tac vindo do outro lado do quarto. Não estava com muito tempo, precisava me apressar, então comecei a jogar várias camisetas dentro da minha mochila preta: algumas do Green Day, outras do Imagine Dragons e a outra maioria são estampadas com os personagens dos inúmeros jogos que eu gosto e que terei que deixar para trás, empilhados na estante, depois de gastar todas as minhas mesadas para colecioná-los. Eram mais de cem, muito mais, acumulados pelos anos. Só sobram as lembranças de horas investidas em níveis e mais níveis, até zerar.

Também coloquei umas bermudas e cuecas, o suficiente para alguns dias até minha mãe ter pena de mim e comprar mais algumas para usar depois das paradas que iremos fazer na estrada. Em cima de tudo, guardei um porta retrato no qual eu e ela estamos sorrindo felizes.

Lembro perfeitamente desse dia, ela era a mais linda de todas, seu cabelo brilhava com a luz fraca do pôr do sol. Seus olhos grandes me encarando, tão apaixonados. Iguais aos meus.

— Eu prometo que um dia eu estarei por perto — falei olhando mais uma vez a sua imagem antes de fechar o zíper e jogar a mochila nas costas.

Dei uma última olhada no quarto que vivi nos últimos cinco anos da minha vida e suspirei. Eu teria que deixar tudo para trás.

Não fraqueje. Não agora. Não fraqueje.

Me despedi silenciosamente de todo o azul do meu quarto e de todas as tardes que eu me dediquei montando um aspecto astronômico no ambiente. O objeto principal estava parado de frente a janela, puxei a cortina e olhei através do telescópio pela última vez. A lua, as estrelas, tudo estava lindo. Como sempre.

Olhei para trás e vi meu violão velho no canto, talvez eu conseguisse levá-lo, mesmo que August já tenha dito que o espaço na camionete do pai dele é surpreendentemente pequeno para caber ele, eu e a namorada dele. Tanto faz, pelo menos isso eu devo levar, nem que eu precise amarrá-lo no pneu.

Era isso, está na hora.
Aceno para o nada dentro do quarto e pulo a janela, me apoiando na árvore enorme que tomava parte do quintal.

Sem muito trabalho, eu já estava no chão e seguia para a cerca feita de várias tábuas brancas pontudas. Pulei sem olhar para trás, seria mais fácil se eu evitasse dramas internos.

August e Fiona estavam a dois quarteirões me esperando. Eu não diria me esperando, na verdade diria que estão se pegando enquanto eu chego. O que importa é que eles não me deixaram como a maioria das pessoas sempre fizeram na minha vida.

— Entra aí — August disse quando me notou.

Antes que ele visse, eu já tinha jogado a mochila e o violão na parte de trás do toscado, nome que escolhemos para o carro numa viajem há alguns anos atrás, junto com as últimas coisas da mudança dos dois. Bom, pelo menos um casal vai terminar feliz e unido. Que bom que são meus melhores amigos, eles merecem.

— Ela vai entender, Calvin — Fiona me tranquilizou.

— É, cara — concordou com a namorada. — Você não tem culpa daquele filho da mãe ser o babaca que é.

Ouvi um ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora