V.

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A água escorria por minha face, me acordando de uma noite especialmente mal dormida, agitada. Meus sonhos se resumiam a pesadelos, e neles havia uma mulher, eu não conseguia identificar nada nela, apenas seus olhos assustadoramente fundos. Somente pelo olhar ela parecia morta, sua íris era pequena, apenas um ponto dentro de seus olhos pálidos. Ela ficou parada por algum tempo, ao longe me olhando, e rapidamente corria em minha direção, berrando a palavra fome.


Eu voltei a mim num susto, lembrando da imagem daquele vulto correndo faminto em minha direção. O medo não estava me deixando dormir, ou comer, eu estava o tempo todo enjoada, mas não desistiria de chegar até Mary e ver o que estava acontecendo.

Sai do apartamento quase perto do meio dia para almoçar e fui atrás de informações sobre Mary. Foi mais difícil do que imaginei que seria; as pessoas fugiam de mim quando eu perguntava sobre ela, mesmo Jack parecia mais quieto naquele dia, apenas falou que eu deveria ir embora, como se já tivesse escutado várias vezes aquelas mesmas palavras. Tentei Eleonore novamente, mas ela não estava na casa dela, e duvido que ela me falaria onde poderia encontrar Mary.

Finalmente fui até uma das bibliotecas da cidade, procurando informações nos registros da cidade, jornais e revistas. Busca após busca e nada, o que parecia era que aquela cidade estava acobertando tudo o que estava acontecendo, assassinatos como aquele deveriam ser mais publicados na mídia, mas ninguém na cidade, que nem era tão pequena assim, estava comentando.

De qualquer forma não desistiria, e foi quase perto no anoitecer que achei uma pista, a notícia do jornal era "Choro de criança prevê morte iminente". A reportagem conta que a socialite Mary Willians, finalmente tivera seu tão sonhado filho, Aron Willian. O jornalista continua sua reportagem de maneira tendenciosa, falando que Mary teve ajuda indesejada e coloca a culpa nos dois pelos assassinatos que vem acontecendo na cidade após o nascimento de Aron. Ele ainda reforça que o choro da criança é um prenúncio de morte, e que as autoridades deveriam estar se livrando desses dois o quanto antes.

Algo me dizia que esqueceram de colocar fogo nesse jornal, porque foi tudo o que consegui achar. Ao menos eu tinha o nome do jornalista, Henrique Garcia.

Enquanto caminhava de volta pro carro, pesquisei na internet do meu celular o telefone dele, e não demorei para ligar para ele. A conversa com Henrique foi bastante rápida, e reveladora. Menti que era uma detetive que estava averiguando o caso de Mary Willians, em Santa Clarita, Henrique pareceu surpreso por alguém ainda se interessar por esse caso, ainda mais sendo das autoridades, eu poderia mentir um pouco mais sobre o que a policia estava fazendo colocando uma detetive atrás do caso, mas Henrique não pareceu querer respostas, ele parecia querer estar longe dessas informações, assim como estava muito longe da cidade, aparentemente ele estava residindo em uma cidade da Espanha. Falei da dificuldade da cidade em ceder informações, mesmo para pessoas da lei, algo que ele já sabia, e perguntei sobre o endereço em que a socialite morava.

Henrique não demorou em passar o endereço, mas falou que achava muito difícil eu achar ela ainda morando lá.

Agradeci e desligamos a ligação, não importava se eu não fosse achar ela tão facilmente, ao menos agora eu tinha um ponto de partida e com sorte ainda a acharia no local.

O relógio marcava cinco horas da tarde, pensei em ir para o hotel antes de seguir na minha empreitada, mas eu não dormiria direito, passaria mal, e com sorte impediria um novo ataque se fosse atrás de Mary naquele final de tarde.

Reunindo todo o resto de coragem que me restara eu me dirigi para o local. O casarão era bastante afastado da cidade, e não se tratava de uma casa simples como eram as outras, era uma casa antiga, de dois andares, linda, mas extremamente mal cuidada.

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