Capítulo Um

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A chuva fina começara às dez horas, atrasando um pouco a aventura que Trisha planejara fazer nas lojas naquela manhã. Comprar presentes na véspera do Natal era uma aventura, com certeza. Trisha vestiu seu casaco de pele, aquele que ganhou no Dia das Mães, e foi até o quarto do filho. Tocou de leve a maçaneta prateada e pôs uma orelha encostada à porta; mas não ouviu sequer um ronco. Para falar a verdade, Zayn costumava dormir fora há tanto tempo que Trisha já não recordava se o filho roncava ou não. Com um suspiro ela deixou o lugar e saiu corredor afora. Iria encontrar o presente perfeito para seu filho.

A claridade entrava no quarto direcionada aos olhos de Zayn, disposta a acordar o garoto. Zayn sentiu a luz, mas decidiu ignorá-la e virou-se para o outro lado; depois de uma noite como aquela ele precisaria de, no mínimo, vinte horas ininterruptas de sono. Mas, infelizmente, o som de Heaven Knows tocando do celular soou alto. Ele tentou fingir que não ouvia, mas foi impossível. O toque estava no modo crescente e a cada segundo que ele não atendia, a música ia ficando mais e mais alta.

― Inferno – murmurou enquanto sua mão buscava o aparelho no bolso da calça.

Por um momento ele tentou lembrar de como chegou até ali, nem ao menos se despira. Estava com os tênis e até o celular e carteira no bolso. Irritado, olhou a hora no celular antes de perceber o nome Niall piscando no visor. Com um movimento rápido abriu o celular e ouviu a voz animada do amigo, que não esperou por um "hey" ou "fala". Niall não precisava disso.

― Grande Zayn! – a voz explodiu na cabeça de Zayn. Niall não participara da festa da noite anterior e por isso encontrava-se muito bem disposto tanto para o dia que começava quanto para incomodar Zayn.

― Fala baixo, porra – pediu, levando uma mão até a cabeça e massageando a testa.

Niall riu, mas Zayn não o acompanhou. Estava com dor de cabeça e sem o mínimo de humor. Sentiu o estômago reclamar e a vontade de devolver ao mundo todo o álcool consumido começou a incomodá-lo.

― Niall, fala de uma vez o que você quer. Preciso vomitar, tomar um remédio e dormir – Zayn rolou na cama e foi atingido pela luz do dia bem no rosto. Bufando ele levantou-se da cama, precisava tomar água antes de fazer o resto. Foi até a cozinha e a empregada mais nova, Marie, desviou quando o viu. Zayn não costumava ser muito gentil com ela, e nem sabia o porquê de ser assim.

Na verdade sabia. Houve um dia em que Zayn chegou pior do que costumava chegar, estava completamente drogado. Foi trazido por Niall e Jim que estavam um pouco menos drogados, mas nem tanto ao ponto de passarem por sóbrios. Aconteceu que Zayn havia perdido a chave e teve que gritar no interfone para poder entrar. Quem os atendeu foi a jovem Marie. E na manhã seguinte os pais de Zayn estavam gritando em seu quarto sobre como ele deveria agradecer a Deus pela vida que tinha e estava simplesmente jogando fora. Na realidade, somente Trisha gritava. George achava que gritos e castigos não resolviam coisa alguma, e Trisha rebatia dizendo que essa técnica não estava levando Zayn à faculdade. O garoto se desencaminhava a cada dia mais.

Zayn disse que queria Marie demitida, num surto de infantilidade, mas a este capricho George não atendeu. E depois desse dia a relação entre Zayn e empregadas ficou tensa.

A única empregada pela qual o garoto tinha simpatia era Dennia, mas ele nem a tratava como empregada, era quase uma madrinha. A senhora de cinquenta e sete anos, de rosto bondoso e palavras suaves estava no coração de Zayn. Ela, assim como George, não tinha coragem para censurar o garoto ou lhe impor limites. Agora que Zayn tinha dezoito anos e já se formara no ensino médio, eles amargavam a falta de pulso firme no passado.

Protect Me » ziamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora