- Anda logo, menina! – continuou gritando minha vó. – Fica presa nessa tela aí, vai acabar ficando cega! Depois não vem reclamar.
Desci as escadas batendo o pé, nervosa.
- Você e seus homens, Rafaela. Já falei com seu pai que você tá perdida, mas ele não me ouve. Perdida! Perdida! – gritou minha avó, vagando pela sala igual uma assombração.
Quando cheguei na porta da sala, meu estômago deu duas voltas: era Théo.
Théo era um garoto de estatura média, pele morena e cabelo enrolado escuro. Tinha o que a gente costumava chamar de cara de bonzinho, que sumia rápido quando ele ficava com fome, com sono ou longe do celular por mais de quinze minutos. Ele era o rosto mais familiar na minha vida, mas agora uma barba por fazer o deixava estranho para mim. Por onde ele tinha andando esse tempo todo?
- Ei – ele disse, ainda do outro lado da porta.
- Oi – eu respondi ainda sem girar a chave, apenas encarando-o pela grade.
- Eu tava passando por aqui.
- Legal.
- Aí pensei, cara, já que estou na vizinhança, vou passar na Luísa e talz. Quer dizer, se você não me odeia ou coisa assim.
- Eu não te odeio.
- Eu pensei mesmo que você me odiasse – Théo ergueu as sobrancelhas, fingindo medo. – Você tem um olhar maligno quando quer.
- Eu tava com raiva.
- Raiva? Raiva é a tia do cachorro-quente quando alguém pede mais molho. Você tava parecendo o Vegeta.
- Não exagera...
- É, e depois veio a fase da total ignorância. Rainha Gelada. Aquilo foi muito muito de meter medo.
Ri e ele deu um sorriso besta.
- Eu não te odeio, Théo. Você é meu melhor amigo. Me desculpa, tá?
O clima de brincadeira sumiu no ar fresco da noite. Eu senti meu coração batendo fora de controle, as mãos suando.
- Posso entrar? Eu não quero ser assaltado, sabe.
A gente desatou a rir enquanto eu abria a porta.
Théo era pessoa que mais me conhecia no mundo inteiro mesmo.
- Você de novo? Pensei que tivesse arrumado uma casa e não precisasse mais ficar enfurnado aqui – resmungou minha avó para Théo assim que ele entrou na sala.
- Minha mãe exige que eu fique fora de casa pelo menos três horas por dia – respondeu Théo, irônico.
- Difícil imaginar por que, não? - rebateu minha avó num tom sutil de ironia surpreendente.
- Vó, eu e Théo somos amigos, ok?
- Pensei que você tinha trocado ele pelo menino com cara de maluco. Mas é difícil fazer uma lista dos seus homens, Rafaela.
E com isso ela saiu da sala deixando um rastro de desconforto.
- Tem The Cure no meu pen drive se você quiser copiar.
- Você não veio aqui pra me passar música do The Cure. Você viu a foto no Twitter.
- Yep – ele respondeu. – E agora tudo vai voltar ao normal.
- O quê?
- Você ouviu sua avó, você me trocou por ele. E agora que você sabe que ele é um idiota, nós podemos voltar ao normal.
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Nada mais que o normal
Teen FictionLuísa Freitas tem três regras na vida e uma delas diz expressamente: nunca se apaixone. Mas o que ela não contava era com o misterioso Rafael Scarpelli para colocar essa regra à prova. Como se não bastasse ter 15 anos e uma paixão não-admitida por u...
Capítulo 14 - Garotos!
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