Capítulo 8: Alguém me explica, por favor

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Cheguei em casa disposta a fazer alguma coisa produtiva. Adriana tinha me dito que iria com o pai para Ouro Branco por alguns dias, para resolver algumas coisas e tomar decisões importantes. Eu disse que ela poderia me ligar quando quisesse e ela só me abraçou de novo.

Minha mãe estava de plantão no hospital e meu pai tinha ido ao supermercado. A casa estava silenciosa (se eu ignorasse os resmungos da minha vó) e decidi que seria uma boa hora de adiantar meu dever de biologia.

Foi então que meu celular vibrou.

Notificação de e-mail.

E não era de propaganda.

Quem manda e-mail hoje em dia?

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De: rafascarpelli2000_hotmail.com

Para: luisa_freitas29_gmail.com

Assunto: importante

Oi Luísa, tranquilo? Aqui é o Rafael (lembra de mim? Festa bizarra, banheiro, escalada?). Então, peguei seu e-mail com o representante da sua turma, espero que não se importe. Mas é por uma boa causa. Prometo. Vamos lá: você curte matemática, não é? Tem uma vaga pra monitor do Bernardo, não sei se vc viu o cartaz. Você tem interesse? Se tiver, aparece amanhã na reunião (tem outros concorrentes, mas acho que vc tem chance). É logo depois da aula na sala de matemática. Até mais.

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Okay. Por essa eu não esperava.

*

Me senti uma retardada quando cheguei na porta da sala de matemática depois da aula. Monitora? Certamente isso não era pra mim. Monitoria era coisa pra nerds bizarros que sonhavam entrar no ITA. Ou pra quem tinha paciência e ares de professora Helena.

Mas lá estava eu, meu uniforme ridículo do colégio, minha mochila velha vermelha, esperando o horário da seleção.

- Oi Luísa! – cumprimentou o professor Bernardo abrindo a porta da sala. – Fico feliz que tenha se candidatado. Sempre achei estranho seu desinteresse. Suas notas são sempre ótimas na minha matéria.

- Obrigada, professor – falei, lutando contra a temperatura do meu rosto que devia estar uns cinquenta graus no momento.

- Ela só precisava de um incentivo!

Olhei pra trás e era Rafael chegando, um monte de livros e listas de exercícios nas mãos.

- Então vejo que vocês já se conhecem – disse o professor, enquanto entrávamos na sala – Luísa, o Rafael é o monitor-chefe. O que é um nome bastante pomposo para dizer que ele é meu faz-tudo.

Rafael deu um sorrisinho e fingiu uma cara de "o que posso fazer" que foi simplesmente adorável.

Nota mental: pare com isso, Luísa. Não é pra isso que você veio aqui.

E não era mesmo.

Eu tinha pensado: se queria fazer algo útil da minha vida, então por que não ser monitora? Melhor do que ficar em casa à toa remoendo meu ódio pela Zoey Deschanel e One Tree Hill.

- Pode escolher um lugar pra sentar. Os outros candidatos devem estar chegando.

Quatro pessoas que eu só conhecia de vista entraram na sala logo depois. Duas meninas do segundo ano, um garoto do terceiro e um menino do primeiro. Eu sabia que a vaga era pra ser monitor do ensino fundamental, então não fazia diferença em que ano estávamos. Pelo menos em teoria. Eu esperava.

Nada mais que o normalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora