Capítulo 14 - Garotos!

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Lá estava a foto no Twitter do Pedro Paulo. Uma selfie imbecil de pau de selfie: a cabeça dele gigante com um panorama bizarro da festa. No fundo, dava para ver uma garota de cabelo vermelho e um cara de All Star velho se beijando. Não tinha como confundir: eram Alícia e Rafael.

O pior é que do jeito que o Pedro Paulo era retardado, aquela foto nem tinha sido de propósito. Importada do Instagram, cheia de hashtags toscas e sem sentido, podia ser só mais um tweet sem noção de um dos caras mais lesados do 1º B. Mas por causa dos coadjuvantes, já tinha passado das quarenta e sete retuitadas.

Por algum motivo mórbido, não conseguia desgrudar o olho daquilo. Alícia com uma calça jeans estilosa rasgada e blusa rosa choque. Rafael de cabelo arrepiado, calça preta e camisa branca quase na ponta dos pés para beijar Alícia, que era mais alta que ele. Aquilo tinha acontecido no fim de semana, então por que aquela ideia de sair depois da aula?

A resposta veio na forma de um meme no Facebook.

Eu estava na friendzone.

Ah sim, garotos nerds gostam de se gabar do fato de que só eles são friendzoneados e ficam de mi mi mi com o universo, mas a verdade da vida é que todo mundo pode estar na friendzone. Estou sendo legal, não estou te dando mole.

Caramba, por que fui deixar essa merda acontecer?

1. Rafael é um cara popular e descolado da escola.

2. Ele anda com o povo mais legal.

3. Ele é simpático e feliz e engraçado e legal com todo mundo. Todo mundo.

Fazia muito sentido ele ficar com alguém como Alícia. Claro, eu era a Skynet e a gente ria fazendo exercício de matemática, mas a verdade é: quem era eu?

Luísa Freitas. 15 anos. Zero à esquerda.

Alícia parecia ter saído de um videoclipe. Ela podia usar meia arrastão e vestido de bolinha que ficava bom.

Já eu tinha tido um ataque de nervos dentro de um banheiro feminino no dia em que supostamente estava com minha melhor roupa.

Lembrar daquele dia me deixou com um gosto ruim na boca. Tinha sido minha primeira conversa com Rafael e eu conseguia lembrar daquela piscadinha bizarra como se tudo tivesse acontecido três horas atrás. Como eu podia ter sido tão burra? Ele tinha ficado com pena de mim, a louca do banheiro.

Meu WhatsApp estava bombando com mensagens da Adriana, mas eu não queria responder. O que eu precisava agora era de uma maratona de séries com pipoca e brigadeiro de panela. Abri o Whats para mandar uma mensagem pro Théo. Será que ele responderia? A gente ainda era migo?

Meninos são treta.

#prontofalei

Depois dizem que mulher que é complicada. Olha eu aqui brigada com meu melhor amigo e #xatiada porque outro só quer ser meu amigo.

Affe.

- Rafaela! Rafaela!

Era minha vó gritando por mim enlouquecida.

A gente tinha um contrato não-verbal e ela nunca entrava no meu quarto, mas isso não impedia que ela gritasse feito uma doida surtada pela casa atrás de mim.

- Que foi, vó? – respondi, morrendo de preguiça.

- Tem gente aqui pra te ver!

Eu franzi a testa, confusa. Eram oito horas da noite de uma quarta-feira. Quem é que ia querer me ver numa hora dessas?

Nada mais que o normalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora