Malditas visões

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Eu via bebidas, charutos, fumaça, mulheres nuas, eu me via embreagado, via uma arma, um homem todo de preto, eu não via seu rosto, ele apontava aquela maldita arma para mim e atirava no meu peito, eu via muito sangue, desespero, pessoas correndo, mas eu não me recordo de nada disso, apenas me lembro de coisas mínimas, e da minha infância, coisas que em meus tempos de vida não lembrava direito, mas que horror foi ter visto aquela cena, eu estava tão bêbado no dia em que morri que não tive como reagir ou correr, mas porque aquele homem teria me matado? Por ódio? virei para Padilha e perguntei

- Por que tenho que sofrer assim? vendo essas cenas horríveis...

- Seu moço, tenha paciência o senhor verá isso por um bom tempo, até descobrir tudo, motivos de morte, odio das pessoas, tudo! Mas mantenha a calma uma hora tudo se acerta, de tempo ao tempo, agora vamos?

Nos despedimos daquele senhor, ele balançou a cabeça e não disse nada, e então ele se virou e voltou para o lado escuro e sombrio das campas.

Andávamos por aquele cemitério, Padilha estava linda, com aquele ar sereno, a lua iluminava tudo, chegamos na entrada do cemitério, havia mais espíritos por la, dois senhores, Padilha abriu um sorriso chegou mais perto e os comprimentou

- Seu Exu Caveira, Seu Quebra Osso, quantos ventos não os vejo!

Mais um Caveira? Mas esse era diferente de todos, ele usava uma sobre-tudo preto com um capus grande, mas dava para perceber que ele era osso só, e o outro senhor, Seu Quebra Ossos, era de aparência mais velha, usava um chapéu de veludo e uma camiseta de manga comprida branca, dobrada e aberta e usava também uma calça social preta dobrada na metade dá panturrilha, eu os comprimentei em seguida, Padilha conversou um pouco com eles, eles falavam sobre um jovem que teria aprontado e então foram atormentar o moleque, para que ele aprendesse uma lição, Dama Da Noite se aproximou, comprimentou todos e perguntou para seu Tatá Caveira

- Seu moço, sua cria, onde andas? Estou com saudades dela!

Seu Tatá Caveira respondeu

- Ela anda no vento! Ah tempos não há vejo, e você também não há viu mais? Seu Tatá Caveira perguntou

- A última vez que há vi estava andando em um cemitério longe daqui. Dama da Noite respondeu

Quem seria essa mulher que tanto eles falam? Pelo jeito devia ser bem misteriosa, afinal ninguem sabia onde encontra-la.

Dama da Noite se virou, acendeu um cigarro, se despediu de todos, olhou para nós e perguntou

- Ja viram o que queriam certo? Agora vamos?

Finalmente! naquele momento era o que eu mais queria! Ir embora! Estava cansado ja de reviver aqueles momentos ruins, o que eu queria era relaxar minha cabeça um pouco, me sentir livre daquilo tudo.

Maria Padilha se despediu de todos, e fomos, andávamos em uma rua ao lado do cemitério, era meia sombria, bem vazia, quando uma voz muito rouca feminina nos saldou

- Ah, estavam procurando por eu?

Histórias de um Cabaré (Um conto de Pombo Giras)Where stories live. Discover now