A Criança Imortal

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― Eu cuidarei dele, o vigiarei a todo instante – intercede a mulher, avançando em direção a Jane. – Por favor, poupem o meu menino...

Jane odiava aproximações, principalmente de vampiros que considerava inferiores por não possuírem dons importantes. Seus olhos se estreitam numa tentativa de causar dor, de fazer aquela aproximação cessar imediatamente, mas tudo o que conseguiu foi ficar ainda mais furiosa ao perceber que seu poder ainda estava bloqueado pelo camaleão e que a vampira a estava tocando.

Alec arregala os olhos com o infortúnio, entendendo perfeitamente porque a mulher conseguira chegar naquele ponto, já que ele próprio sentia a ausência de seu dom.

― Afaste-se! – ordena ele em defesa de sua gêmea.

― Por favor, Jane, eu o manterei controlado, não quebraremos mais nenhuma regra...

― Afaste-se! – ordena Alec novamente, com ainda mais ferocidade, segurando o ombro da irmã com uma mão e empurrando a vampira com a outra.

― Não tente persuadir-me – rosna Jane com a raiva transbordando de seu corpo, fazendo a família escocesa se arrepiar em alerta, esperando o "ataque" habitual da vampira. – Se não nos entregarem a criança imortal, todos serão exterminados.

― Não! Não! – continuou a mulher, enquanto a criança se escondia atrás dos parentes e o homem os cercava protetoramente, como se realmente pretende-se lutar com os Volturis.

― Faça o seu trabalho – lança Jane à Maximilian com um olhar cortante, não aguentando nem mais um segundo das lamúrias daquela vampira insolente.

O camaleão se aproxima devagar e silenciosamente, como se estivesse a passear no parque sem segundas intenções. Atrás de seu corpo, Demetri, Felix e Alec duvidavam de sua capacidade de cumprir a missão, depois do estranho comportamento no jantar em Volterra.

Maximilian se ajoelha a dois metros da criança imortal, estendendo a mão direita em sua direção e abrindo o seu sorriso mais doce. Com dois singelos movimentos de mão ele convida a criança a se aproximar, o que prontamente faz o homem da família segurá-lo para conter a aproximação.

― Não dificulte as coisas – sussurra Maximilian sem desfazer o seu sorriso, ativando sua camuflagem e deixando seu cheiro humano impregnar o ar.

As bochechas tomam cor em questão de segundos, chamando a atenção dos vampiros mais velhos rapidamente. Unindo isso aos olhos cor de chocolate, nenhum deles teria como dizer que se tratava de um vampiro ali.

O cheiro humano se espalhou pelo ambiente de forma avassaladora, pois era daquela forma que o camaleão pretendia atrair a criança imortal. Os olhos da pequena criatura cintilaram no mais absoluto tom de rubro e seu semblante se tornou interessado assim que o aroma acertou suas narinas, ao mesmo tempo em que suas pequenas presas já estavam expostas, desejando provar em seu paladar o dono daquele cheiro tão tentador.

― Venha! – chama num sussurro, fazendo a criança simpatizar com seu sorriso caloroso e sorrir também, soltando-se do aperto do pai ao avançar dois míseros passos.

Mais dois movimentos de mão incentivam a criança a chegar ainda mais perto e a tocar a mão que lhe era oferecida. O calor que emanava do camaleão parecia enfeitiçar a mente do garoto imortal, que não se intimidou quando o vampiro o tomou nos braços para um abraço.

O cheiro era viciante, a proximidade tentadora e os vampiros que somente observavam não puderam esconder a surpresa ao verem a pequeno vampiro morder o pescoço de Maximilian e tomar de seu sangue.

― De fato uma aberração – murmura Alec ao ver a cena, tentando imaginar quantos problemas uma criaturinha como aquela poderia causar ao sigilo de sua espécie.

O horror nos rostos da Guarda Volturi era nítido, mas não tão nítido quanto os olhos cintilantes de Jane, que assistiam a criança se alimentar com uma mistura de raiva e inveja, como se o monstrinho estivesse lhe roubando um prazer bastante pessoal.

Aproveitando-se do choque que se instalara entre a família escocesa, o camaleão se colocou de pé e retornou para perto dos gêmeos, levando a criança consigo antes que pudesse ser detido. E, ao parar logo atrás de Jane – de costas para a vampira –, Maximilian novamente se ajoelha, devolvendo a criança para o solo e desligando lentamente a sua camuflagem.

Demetri observava enojado enquanto a criança com os lábios sujos de sangue se soltava do pescoço do vampiro. Os ferimentos se curaram tão rápido quanto a expressão confusa que se alojou no pequeno rosto infantil.

― Por favor, deixe-o ir – pede a vampira escocesa, dessa vez direcionada ao camaleão.

― Ele é um menino bonito – confessa o vampiro com um asco mal camuflado, antes de acariciar o rosto da aberração com ambas as mãos e torcer-lhe o pescoço de forma tão rápida, que até mesmo Jane se surpreendera.

Não houve hesitação, medo ou piedade. Maximilian simplesmente afastou a criança imortal da família que o criara e arrancou-lhe a cabeça em questão de segundos, lançando o corpo decapitado ao chão como se não passasse de um pedaço de lixo. Houve muitos gritos de desespero, mas não era como se a família escocesa pudesse fazer alguma coisa contra os Volturis e principalmente contra Jane.

― Felix, limpe a sujeira – ordena a loira meio minuto depois, quando finalmente conseguiu recuperar-se da surpresa – e não demore muito, precisamos encontrar abrigo antes que amanheça.

O homem acena em concordância, retirando uma caixa de fósforo do bolso da calça e lançando fogo sobre o cadáver, que se acendeu quase que instantaneamente.

O grupo parti com a mesma praticidade com que surgira. Não houve condolências, nem despedidas, eles simplesmente deram as costas para os escoceses e partiram com um sorriso de "dever cumprido" brincando em seus lábios.

― Meus parabéns, camaleão – diz Demetri. – Você realmente fez seu papel... Não estava muito confiante de seu sucesso.

― A situação ocorrida em Volterra, não é a mesma daqui – explica calmamente. – Crianças imortais são perigosas e não devem ser poupadas! – confessa, levando a mão onde outrora fora mordido e limpando o restante do sangue contido ali.

― De fato, parabéns por sua primeira missão... – parabeniza Felix.

― Sim... Você realmente se mostrou ser um de nós – arrisca Alec, sem jeito, não encontrando as palavras certas para aquele momento e olhando-o rapidamente, antes de voltar-se inteiramente a irmã.

― Obrigado – agradece, surpreso com as repentinas parabenizações, analisando de forma curiosa o momento em que Jane repreendeu o irmão com o olhar pelo simples fato de tê-lo elogiado.

Coração GeladoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora