— A intenção é essa mesma, seu idiota!

— Volte para sua casa, fique com sua família e me deixe em paz, por enquanto.

Ygor saiu da casa de Ivan sem dizer absolutamente nada, uma decisão acertada. Por dentro, Ivan estava fervendo de raiva e nervoso. Amaldiçoou Nádia e Alena com todas as suas forças, devido a suas loucuras de perseguir e maltratar a menina.

Respirou fundo e pegou uma caixa de cigarros que estava em cima de uma mesa pequena de madeira. Acendeu o cigarro em uma brasa da lareira, deu o primeiro trago demoradamente e deu um sorriso sem graça para si próprio. Ria da sua própria desgraça e miséria. Jogou o cigarro na lareira e subiu as escadas novamente.

Quando chegou ao seu pequeno quarto, abriu a gaveta do seu criado mudo e tirou uma pintura antiga. Era Sasha Bulganova sentada em seu divã com Anastásia ainda bebê. Ela tinha um sorriso feliz e olhava fixamente para a filha no colo. Uma lágrima caiu de seu olho e beijou a pintura.

Fechou os olhos e sonhou com o fatídico dia.

Dimitri jogava xadrez com Alexander, enquanto Nikolai lia um livro de Alexandre Dumas. Tatiana e Ivana conversavam sobre alguma coisa que liam nos livros e voltavam à leitura novamente. Natasha estava no quarto ainda dormindo, o que era comum, pois era a irmã que mais dormia.

Olhava atentamente o tabuleiro, mas nunca conseguia ganhar do seu irmão, que ria com satisfação, pois sabia que ia ganhar a partida mais uma vez.

— Xeque mate! — Alexander riu satisfeito.

— Não jogo mais nunca com você. — derrubou as peças no tabuleiro. — Parece o mago do xadrez.

— Na verdade, você é ruim mesmo. — o irmão riu mais uma vez. — Deveria melhorar.

— Não tenho tempo para essas coisas.

— Está com medo de nunca ganhar de mim? — Alexander o encarou desafiando-o. — Eu nunca iria esperar isso de você.

— Na esgrima eu sou melhor, Alex.

— Sempre têm que competir mesmo? — Tatiana chegou olhando para os dois com um olhar severo, mas os lábios denunciavam seu divertimento com aquilo tudo.

— Claro, mas é uma competição saudável sem intuito algum de agressão. — Alexander afirmou.

— Duvido muito. — a irmã disse ironicamente. — Por onde anda Irina? Temos que escolher nossa dama de companhia hoje, até agora não apareceu.

— Ela sabe que estamos nessa sala de lazer?

— Sabe. Eu pedi a uma criada para dizer a ela.

— Onde será feita a entrevista das candidatas? Terei pena delas, coitadas. — Dimitri riu.

— Dimitri sempre inconveniente. — Natasha entrou na sala com seu robe azul marinho com o brasão da família Bulganov. — Eu encontrei Irina. Ela pediu para nós irmos ao salão dos fundos, onde ficam os empregados. Lá será a entrevista. E pediu para os meninos irem também, pois terão que escolher os camareiros.

— Eu não fui informado sobre isso. — Nikolai revirou os olhos. — Dimitri ou Alexander escolham por mim. Obrigado.

— Eu ia pedir isso. — Alexander encarou Dimitri. — Você, como mais velho, vai escolher.

— Eu mereço. — Dimitri revirou os olhos. — Irei infelizmente a esse castigo.

— Não seja dramático, Dimitri. Menos, bem menos. — Tatiana puxou o livro de Ivana.

— Poxa, Tatiana! Você sabe ser insuportável. — Ivana puxou o livro de volta. — Escolha a dama para mim, eu vou continuar lendo.

— Eu acho que Tatiana e Dimitri sendo os mais velhos, devem escolher. Concordam irmãos? — perguntou Natasha.

— Sim! — responderam os irmãos em uníssono.

— Vamos, Tati. Esses preguiçosos só querem se divertir. — Dimitri puxou a irmã e a levou para fora da sala.

Andaram por vários corredores, desceram várias escadas, até chegar ao destino que queriam. O salão dos empregados era luxuoso, assim como o resto do palácio. Havia um vasto corredor e muitas portas, provavelmente o quarto deles, e no final do corredor ficava uma porta que dava para o jardim dos fundos do palácio.

Irina se encontrava sentada na mesa com vários contratos, caso alguma pessoa fosse contratada. Quando Dimitri e Tatiana sentaram-se à mesa junto a ela, quis se levantar para fazer uma reverência, mas Dimitri a proibiu com um gesto de mão.

— Bom dia, Irina. Cadê nossas candidatas e candidatos?

— Bom dia Alteza. Estão esperando para serem chamados, posso?

— Claro. — Dimitri respondeu.

— Que entre Anastásia Tchecova.

Uma jovem de cabelos longos e negros adentrou o local, vestida com roupas velhas e sujas. Quando ela levantou a cabeça, Dimitri levou um pequeno susto, que Irina e Tatiana notaram. Era a mesma moça da estação de trem, era óbvio. Ele nunca esqueceria aquele rosto. Principalmente aqueles olhos azuis tão intensos como os da sua mãe. A moça, ele notou, tinha uma expressão confusa.

— Você é a moça da estação de trem? — Dimitri a encarou.

— Sim. E o senhor aquele que correu atrás de mim?

— Exatamente.

Ela deu um sorriso sem graça, ele notou, e sorriu também.

Finalmente achou a moça da estação, ele só não esperava que de maneira tão inusitada, na sua própria casa.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now