Maldição; ela devia ter se lembrado, na época, que Scorpius era da Sonserina. E não somente isso, era um Malfoy e um Greengrass: estava no seu sangue a arte de mascarar emoções.

Se ela já tinha ouvido falar de Rose Weasley antes? Sim, ela tinha. Aliás, ela se recordava bem das duas advertências que Scorpius recebeu pelas implicâncias e brigas protagonizadas pelos dois. Teve uma época, inclusive, que ela chegou a imaginar que talvez o filho gostasse daquela menina, mas nunca conseguiu provar suas suspeitas e as arquivou, sem jamais voltar a se lembrar disso até então.

Seu filho era pai.

A afirmação atirada ao vento, sem que ela fosse preparada para aquilo a deixou fora de centro. Isso sem contar o fato de que Pansy Parkinson parecia ter ressurgido das cinzas, pronta para infernizar a sua família depois de todos aqueles anos. Enquanto Albus e Harry Potter se encontravam no andar de baixo alertando seu marido e traçando alguma estratégia, ela tinha pedido licença e se retirado. Precisava tentar colocar as ideias no lugar, precisava entender como tudo aquilo tinha acontecido debaixo do seu nariz sem que ela percebesse.

Lembrou-se da colega de trabalho, Hermione. Tinham tido algumas conversas a respeito de Rose e do quanto ela e Ron Weasley se desentendiam desde que a menina tinha engravidado e decidido não contar quem era o pai. Analisando o panorama, Astoria tentava entender que o fardo de carregar um herdeiro Malfoy no ventre, ela sendo uma Weasley – um inimigo natural, por assim dizer. – foi duro demais para Rose. Mas ela apenas tentava, porque não entendia. Nenhuma avó devia ser privada de saber que tem uma neta. E acertaria suas contas com Rose e Scorpius mais tarde por causa disso.

E pensar que ela teve a criança tão perto dias antes, e nem sequer desconfiou. Sentia-se uma idiota porque, lembrando-se bem, os olhos de Summer não deixavam que mentira nenhuma pudesse ser mantida por muito tempo. E o fato de Scorpius ter invadido o quarto da menina sem a sua autorização, dando uma desculpa esfarrapada que nem mesmo na hora colou, não melhorava em nada a sua situação.

Encarou a velha caixa de prata, presente de sua mãe, ao lado da cama do filho. Visto que Dafne lhe virou as costas de vez assim que descobriu que ela foi o pivô do escândalo no casamento da então melhor amiga – então porque Astoria duvidava muito de que mantivessem contato até hoje porque Dafne simplesmente não era boa em manter as pessoas por perto – Ariana, sua mãe, foi a única que ficou ao seu lado; foi o que lhe sobrou de toda a família. E lhe deu aquela caixinha de presente, um ano depois de se casar com Draco.

Uma caixa de segredos. De lembranças. Astoria nunca guardou nada demais ali dentro, mas gostava de imaginar que tinha algo de si que Draco não conhecia. Não foram poucas as brigas que tiveram por ele querer saber o conteúdo da caixinha e ela se negar a mostrar. E então, ela sentiu que chegou a hora de passar adiante o presente. Deu para o filho, aos treze anos e nunca se interessou por saber o que ele guardava ali.

Pelo menos até agora.

Os dedos longos se esticaram e ela se demorou sentindo a textura da prata contra a pele. Depois, lentamente, temerosa do que poderia encontrar, abriu o recipiente. Repleto de quinquilharias e coisas quase sem importância, Astoria quase se convenceu de que aquilo era loucura, de que não deveria estar bisbilhotando a vida do filho daquela maneira. Mas logo, um pedaço de papel dobrado chamou a sua atenção e toda a sua ética e moral escorreu pelo ralo.

Astoria comprimiu os lábios e apanhou o papel, largando a caixa ainda aberta sobre o criado mudo. Percebeu a letra do filho, quase apagada pelo tempo, mas ainda legível o bastante:

"Acho que vou amá-la de domingo a domingo, do amanhecer ao anoitecer, até o final dos tempos. Lamento ter que deixa-la partir para perceber isso. Quem sabe um dia, eu a reencontre. E quando isso acontecer, vou me redimir. Vou fazer o que não fiz. Vou enfrentar o mundo por você. Por nós."

Sweet Child O'Mine (Rose e Scorpius)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum